(por Ariany Ferraz)
Vencedor do Festival de Comunidades Empreendedoras, projeto contou com apoio e mentoria do Instituto Elos e Fundação FEAC
Calças, bolsas, capas, malotes, tecidos e muitos materiais prontos para serem transformados. Foi através de uma doação de lotes de uniformes dos Correios que o projeto ‘Artes do Bassoli’ deu início a um negócio inovador e criativo, resultando na criação de uma linha de vestuário para ciclistas. Criado por quatro moradoras do conjunto habitacional Minha Casa, Minha Vida no Jardim Bassoli, com mentoria do Instituto Elos e da Fundação FEAC, o projeto é uma ampliação da oficina de artesanato que cria um produto que permite geração de renda, compartilhamento de saberes e bem-estar social da comunidade.
Ganhador do Festival de Comunidades Empreendedoras da Escola da Transformação, em julho de 2017, o ‘Artes do Bassoli’ se destacou junto a oito diferentes iniciativas, contempladas com um investimento de R$ 8.000,00 cada, para aquisição de equipamentos e materiais que viabilizassem a execução das propostas. Integrante da Escola de Transformação do Instituto Elos, o projeto conta também com a parceria da Demacamp, executora local da iniciativa Desenvolvimento Integrado e Sustentável dos Territórios (DIST), do financiamento do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal, e apoio da Fundação FEAC. O Instituto Elos é parceiro institucional de iniciativas do Programa Desenvolvimento Local da FEAC.
Moldar a realidade por meio de oportunidades
A Escola de Transformação contribui para fortalecer o senso de comunidade e transformar o território através da mobilização comunitária e formação, com cursos, oficinas, encontros, projetos comunitários, entre outros. E foi assim que o ‘Artes no Bassoli’ passou por diversas fases que permitiram o amadurecimento das ideias e evolução das estratégias para finalmente ser executado.
Talentosas e dedicadas, as idealizadoras Renata Nascimento, Maria de Jesus, Lindineide Silva e Maria Madalena da Silva se encontram semanalmente na Casa de Cultura Itajaí, espaço cedido através da comunidade e da Secretaria Municipal de Cultura de Campinas. Lá elas reúnem todo conhecimento e habilidades de costura e artesanato para transformar a matéria-prima em uma linha de produtos com design, conceito e marca próprios. “A gente tinha certeza da nossa capacidade e potencial, só não tínhamos oportunidade e a Escola de Transformação abriu esse caminho. Esse projeto me transformou”, revelou Maria de Jesus.
Após uma série de capacitações, com atividades de formação e de construção de identidade, foram exploradas questões transversais como comunicação não-violenta, economia solidária, política urbana, comunicação comunitária e mapeamento afetivo. Esses currículos da Escola de Transformação trabalham o desenvolvimento humano e habilidades, com metodologias inovadoras, atendimentos específicos para apoiar os grupos comunitários e tratar as particularidades de cada cenário.
A última fase envolveu a consultoria das designers Paula Dib e Renata Mendes, especializadas em design de produtos, que desde novembro de 2017 estão atuando junto às participantes para acompanhamento e apoio na consolidação do projeto comunitário, orientando e coordenando o desenvolvimento dos primeiros modelos da nova coleção de vestuário a ser criada com os uniformes doados. Até agora 8 encontros imersivos foram promovidos, trabalhando a gestão produtiva, layout e construção do produto, comercialização – desde a precificação e definição do mercado, até a comunicação para vendas, com aulas de registro fotográfico e como usar redes sociais para divulgação, por exemplo.
Os encontros desta última etapa estão dedicados para produção das peças piloto: bolsas, pochetes, alforjes, cintos, entre outros. “Estou bem ansiosa para ver o andamento do nosso trabalho”, confessou Maria Madalena. Já em sua etapa final, as participantes agora têm um desafio, apresentar os produtos finalizados e o planejamento da comunicação e vendas.
Doação
O material descartado pelos Correios passou a ser uma oportunidade de empreendimento interessante. “O papel foi de olhar esse cenário e avaliar os recursos, habilidades e fazer conexões entre tudo isso”, comentou Renata, responsável pela estruturação do empreendimento e desenvolvimento dos produtos.
Foi assim que surgiu o “Reciclista”, linha de produtos para ciclistas, onde a marca traz o conceito do reciclar, reutilizar, com foco no ciclista. Com a construção coletiva entre todas as envolvidas, foi descoberta a “vocação do material”. “Originalmente os materiais já eram de uso na rua e alinhadas às tendências do não desperdício e do reaproveitamento unimos a técnica com a doação e com o que está acontecendo no mundo: a ocupação urbana, a mobilidade, o andar de bicicleta, tudo como um contexto para criação dos produtos”, contou Paula.
Renata explica que tudo começou a partir de uma observação apurada para estabelecer relações das capacidades e dos potenciais. “Tudo foi construído com base na percepção que nós trouxemos a partir do olhar delas. Foi preciso buscar a essência dentro da vocação e do talento de cada uma. A gente é só um ativador do potencial que elas têm, que é gigante. Elas têm um trabalho e uma postura excelentes. Esse projeto vem alavancar isso”, destacou a designer.
Mas não para por aí, agora é o momento também de compartilhar o conhecimento. Todas expressaram o sentimento de gratidão e a vontade de passar o aprendizado adiante. “O projeto viabilizou também a ampliação do convívio entre as moradoras do local. Agora é expandir o projeto possibilitando a atuação de toda a comunidade para melhoria da qualidade de vida dos moradores”, anunciou Lindineide. “A gente também pretende ensinar as outras pessoas que tiverem interesse”, afirmou Renata Nascimento. Com a linha produtiva padronizada, essa atividade deve ser inserida no calendário das artesãs futuramente. Ainda em fase de planejamento, as oficinas deverão ocorrer aos sábados, voltadas para jovens e adultos.
Programa Desenvolvimento Local
O Programa Desenvolvimento Local é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe na mobilização comunitária com o objetivo de transformar territórios gerando bases para uma cidade mais inclusiva, acolhedora, eficiente e sustentável.
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