Projeto mobiliza a comunidade para pensar, planejar, efetivar e preservar espaços de convivência nos territórios

(Por Ingrid Vogl)

Crianças protagonistas e uma potencial rede social para nascer. Este é o legado que o projeto Caminhos da Escola, da Fundação FEAC, entrega à comunidade da região do Oziel, por meio das intervenções que estão sendo realizadas desde agosto e que serão concluídas até dezembro.

A iniciativa do programa Desenvolvimento Local da FEAC tem como objetivo oportunizar a vivência da criança no espaço público, com o intuito de disseminar a cidadania e o aprendizado infantil por meio da brincadeira. A iniciativa tem parceria da comunidade por meio da Emef Oziel Alves Pereira, Instituto Paulo Freire, Escola Estadual Jardim Icaraí, Amic Monte Cristo e da Acupuntura Urbana, parceira técnica responsável por aplicar a metodologia que mobilizou a comunidade para sonhar, planejar, executar e cuidar das intervenções realizadas.

O projeto possui seis etapas: Pré-Diagnóstico, Diagnóstico, Detalhamento das Atividades, Forma, Transforma e Acompanhamento. Na Semana Transforma, como foi chamada a fase de “mão na massa”, a comunidade se uniu em mutirões para transformar os quatro pontos escolhidos, localizados no entorno das instituições que participam do projeto.

Segundo Renata Laurentino, facilitadora da Acupuntura Urbana, o projeto na região do Oziel trabalhou com os locais que são as entradas das escolas e instituições sociais, porque são onde as crianças e adolescentes ficam aguardando a entrada e saída. Cada uma foi transformada de acordo com o desejo da comunidade.  

No Instituto Paulo Freire, os muros e a calçada foram pintados com o tema que norteia as atividades da instituição: a música. O resultado foi uma calçada brincante que ganhou notas musicais e um teclado musical, colorido e divertido.

Na Amic Monte Cristo, foram pintadas brincadeiras na calçada e os muros e alambrados foram enfeitados com corações criados artesanalmente. Na EE Icaraí, o extenso muro da escola foi tomado com desenhos de cores fortes e chamativas, onde o envolvimento dos alunos foi tão grande que os do período da manhã, ficaram para ajudar as turmas da tarde, no mutirão. Mas a transformação que mais chama a atenção é a da Emef Oziel, que quebrou uma parte do muro e assim, doou um espaço da escola para a comunidade.

Sonho que se realiza

Segundo Adriana Maria Sartori, professora de Ciências e membro da Comissão Permanente de Avaliação da Emef, a comunidade escolar já tinha o sonho de abrir o espaço, e o Caminhos da Escola veio para concretizá-lo.

“Essa ação teve o envolvimento dos alunos, professores e famílias, e todos olharam como uma possibilidade de melhorar ainda mais o espaço onde vivem e convivem, porque essa escola é referência  no bairro. No fim de semana, ela fica aberta e aqui acontecem eventos e ações da comunidade. E todos abraçaram o projeto com muita empolgação e engajamento. Os alunos acompanharam todos os passos do muro sendo derrubado das janelas das salas de aula, ficaram até tarde decidindo e desenhando o que seria pintado nos muros. Foi muito legal”, contou.  

Além da quebra do muro para transformação de um local que será coberto e terá bancos e brinquedos para receber os cerca de 1.300 alunos enquanto aguardam a entrada na escola, os muros do entorno receberam desenhos e poemas, de autoria dos alunos e professores, que seguiram quatro temas escolhidos de acordo com os projetos que são desenvolvidos na  escola: sexualidade, natureza, cultura de paz e africanidades.

Claudia Vitoria da Silva Costa, 13 anos, foi uma das autoras de desenhos e fez questão de participar do mutirão para a pintura dos muros de sua escola. “Foi muito legal o processo criativo, porque tivemos que pensar em como transformar os projetos da escola em desenhos. Pensamos juntos com professores e outros alunos, e foi perfeito. Ver um desejo ser realizado é muito gratificante”, disse.

A professora Lorena Tonholi se sentiu energizada com o trabalho que uniu a comunidade escolar. “Isso remete à minha infância. Me sinto uma criança pintando com meus alunos. Para mim, o maior legado dessa ação é que a união faz a força, e todos trabalhando pela escola, que é um lugar de todos, é sensacional”, disse. Adrian Carlos da Silva Brito, 10 anos, concordou com a professora. “Estou orgulhoso disso aqui. Agora vai ficar muito mais gostoso esperar o horário de entrar na escola”, apostou.

Resultado

Desde o início do projeto na região do Oziel, a equipe do Acupuntura Urbana aplica a metodologia usada para mobilizar a comunidade para a realização de todas as etapas do Caminhos da Escola. Renata Laurentino aponta o maior envolvimento das instituições que participaram das ações como um dos pontos fortes da iniciativa.

“Com o envolvimento no Caminhos da Escola, as instituições começaram se conversar, principalmente as escolas com as instituições que oferecem atividades no contraturno da sala de aula. Eles sabem umas das outras, mas não tem projetos integrados.  O Caminhos da Escola vem com o propósito de tentar unir adultos, educadores e comunidade para olhar para a criança. A gente teve reuniões em que os envolvidos se conheceram melhor, trocaram ideias e assim, houve a oportunidade de ir criando vínculos com quem cuida das crianças”, explicou.

Na opinião de Renata, o desafio que o projeto deixa na comunidade é que as organizações trabalhem como uma rede. “O Caminhos da Escola foi um pontapé inicial. Se as instituições aproveitarem essa oportunidade para darem passos maiores para essa rede surgir, dará bons frutos, apostou.

Outro ponto alto do projeto foi o envolvimento e protagonismo das crianças e adolescentes. “Eles tiveram a oportunidade de criar, de olhar para o espaço, pensar no que querem e executarem. Eles nunca tinham pintado um muro, nunca tinham pensado no caminho para a escola daquela maneira. Essa mudança de olhar de que eu posso sonhar e de que eu mesmo posso fazer é novo para eles. E também puderam aprender entre si: os mais novos com os mais velhos e vice-versa”, contou a facilitadora. Dessa maneira, a escola literalmente levou a educação além de seus muros.

A próxima etapa do projeto é a de Acompanhamento, que acontece até dezembro, quando moradores serão identificados como guardiões dos espaços transformados.

Inspiração

Em sua segunda edição (a primeira aconteceu na região dos Amarais no primeiro semestre de 2019), o Caminhos da Escola já chama a atenção de Organizações da Sociedade Civil (OSC) que também primam pelo protagonismo social da comunidade em seus territórios.

Por meio do GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), que é uma associação de investidores sociais privados, a Fundação Alphaville conheceu o trabalho da FEAC. “Estamos estreitando essa relação há cerca de um ano. Temos a possibilidade de trabalhar juntos em Campinas. Conheci o Caminhos da Escola e sou fã de intervenções e revitalizações em espaços públicos. Mas essa iniciativa vai muito além disso, porque envolve comunidade, escolas”, explicou Ricardo Moreira Benites, gestor ambiental e coordenador de sustentabilidade da Fundação Alphaville.

A OSC tem o objetivo de estimular o protagonismo social, por meio da construção coletiva, da inclusão socioeconômica e da educação para sustentabilidade, para contribuir com o desenvolvimento de territórios mais resilientes.

Desenvolvimento Local

O projeto Caminhos da Escola tem como objetivo incentivar a vivência da criança no espaço público, estimulando assim a cidadania. A iniciativa faz parte do programa Desenvolvimento Local, da Fundação FEAC, que investe na mobilização comunitária com o objetivo de transformar territórios gerando bases para uma cidade mais inclusiva, acolhedora, eficiente e sustentável.

Mais informações: https://www.feac.org.br/desenvolvimentolocal/