Uma avaliação parcial da segunda edição do Mobiliza Campinas mostra que, em comparação com 2020, a campanha está beneficiando um público ainda mais vulnerável.    

“A criação esse ano do Comitê Executivo [do qual participam organizações da sociedade civil parceiras da FEAC e que atuam na ponta] permitiu um olhar mais atento para o território. Tivemos mais tempo para buscar as famílias que mais precisavam”, ressalta Sílnia Prado, do Programa Fortalecimento de Vínculos da FEAC e membro do Comitê Executivo da campanha. 

Um dado que revela a assertividade da nova edição é que a maioria das famílias participantes da primeira fase (57,8%) não havia sido beneficiada pelo Mobiliza Campinas no ano passado, o que mostra que “a campanha está chegando em um novo público, afetado pela segunda onda da pandemia e que passou a depender da assistência social”, conclui Sílnia, ao analisar os dados relativos à primeira fase da iniciativa, que aconteceu entre maio e junho de 2021. 

Perfil 

A campanha, que distribui cartões alimentação carregados mensalmente com R$ 120 por quatro meses, fez uma pesquisa com 3.728 pessoas beneficiadas para saber qual era seu perfil e o de suas famílias. Como na edição passada, há uma prevalência das mulheres (veja o infográfico). 

“Ter uma maioria de mulheres beneficiadas mostra uma realidade do Brasil e do mundo. Elas mantêm a família unida e alimentada, enquanto muitos homens abandonam o lar quando a situação aperta”, avalia Daniel Balaban, representante no Brasil do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) e diretor do Centro de Excelência Contra a Fome. 

Outros dados que chamam a atenção para o grau de vulnerabilidade dos beneficiados é que quase a metade das famílias são monoparentais e 54,4% têm renda familiar de até R$ 550 (veja o infográfico).  

Ao olhar os resultados da pesquisa, o prefeito de Campinas, Dário Saadi, ressalta que “o Mobiliza Campinas é um instrumento fundamental para ajudar as pessoas que estão em um grau de vulnerabilidade acentuada”. 

Mobiliza Campinas - infográfico apresenta o perfil dos beneficiados

Insegurança alimentar entre crianças e jovens 

Dentre as famílias que participaram da avaliação da primeira fase da segunda edição da campanha, quase a metade delas tem ao menos uma criança com menos de 6 anos dentro de casa.  

Os efeitos da desnutrição nessa faixa etária podem ter consequências para toda a vida. “É um momento em que as crianças estão com o cérebro em desenvolvimento, a fome pode levar a deformações importantíssimas, e isso é um problema que ainda vamos enfrentar durante muitos anos”, ressalta Daniel, do WFP. 

A estratégia de distribuir cartões alimentação pode ajudar no enfrentamento a esse grave problema, pois permite, por exemplo, que as famílias complementem itens industrializados com opções mais saudáveis. “A cesta básica é importante, mas não tem alimentos in natura. O cartão dá autonomia para as pessoas comprarem o que falta, conseguindo uma alimentação mais nutritiva”, diz Sílnia, da FEAC. 

A crise continua 

Sílnia aponta que “a questão alimentar vai ter de ser pauta nos próximos anos. Segundo ela, já havia uma tendência de aumento da fome desde 2017, e a pandemia só agravou isso. 

O prefeito de Campinas, Dário Saadi, ressalta que o tamanho é muito grande e que “o poder público sozinho não consegue dar a proteção social que a população precisa. É muito importante que a sociedade civil seja nossa parceira no enfrentamento dessa questão”. 

“O Mobiliza Campinas tem sido fundamental para ajudar as pessoas que estão em um grau de vulnerabilidade acentuada.”

Dário Saad, prefeito de Campinas


 

Essa relação entre poder público e sociedade civil já acontece na cidade. Em março de 2021, por exemplo, a prefeitura lançou a campanha Campinas sem Fome para dar conta da continuidade da insegurança alimentar. Dário destaca que “a parceria com mais de 150 OSC da cidade acelerou e colaborou acentuadamente para o sucesso dessa ação e para que os alimentos chegassem rapidamente a quem precisa”. 

Já Daniel, do WFP, finaliza dizendo que a sociedade civil vai ter de buscar um outro papel num cenário de continuidade da fome. “Além de dar alimentos, é preciso tornar essa uma pauta nacional. O estado brasileiro não tem feito absolutamente nada, enquanto a sociedade civil é quem tem de correr atrás. É preciso advocacy para levar esse tema para Brasília.” 

Por Frederico Kling