O bate papo foi liderado por Amara Moira
(Por Camila Mazin)
A 3ª edição do CinemAQUI teve uma programação especial na quinta-feira, 19 de setembro, com a exibição do documentário “Longe da Árvore” durante uma das atividades da 10ª Semana da Educação de Campinas/SP. Após a exibição aconteceu um bate papo com Amara Moira, travesti e professora doutora em teoria literária pela Unicamp, que reuniu educadores e profissionais das escolas para uma conversa sobre tolerância e valorização da diversidade.
A expectativa das 70 pessoas que estiveram presentes era alta, afinal, as questões de identidade e diferenças sociais, raciais, ideológicas e de gênero estão muito presentes no dia a dia tanto das escolas quanto das famílias, o grande problema é que pouco se fala sobre isso mesmo sendo uma discussão tão importante para o desenvolvimento da sociedade. “Essa questão de identidade entre famílias é muito presente nas escolas, e o debate sobre isso é muito necessário nos dias de hoje”, afirmou Débora Cristina da Paz Leão, educadora da Associação dos Amigos da Criança (AMIC).
Para Geiza Amorim, assistente administrativa e estudante do último semestre de pedagogia, o CinemAQUI foi uma grande oportunidade para os educadores aprenderem a lidar em situações de diferenças, serem os interlocutores com as famílias e prepararem os alunos para além das salas de aula. “Um dos maiores desafios na Educação Infantil são as diferenças sociais, e nós como educadores precisamos conciliar essas questões para uma formação integral da criança, não só como bagagem teórica, mas para a vida como cidadãos”, completou.
Uma das questões levantadas por Amara Moira e muito debatida durante o bate papo foi a aceitação e a presença, ou ausência em muitos casos, da família nas discussões de identidade dos filhos. “Eu sou uma travesti e faço parte de uma família que quis se reinventar para que eu pudesse continuar fazendo parte dela. Mas, essa não é a realidade da maioria das travestis, nem da população LGBTQI+”, comentou.
Além dos desafios dentro da família, também existem os preconceitos nas ruas, de uma sociedade que não oferece direitos iguais. “É um engano entender essa transformação da sociedade em inclusiva e ver isso como uma questão de caridade. Não é isso! A sociedade se torna melhor ao aprender a conviver com corpos diferentes, pessoas que têm necessidades diferentes e a construir uma sociedade que não limite o acesso de pessoas devido às suas peculiaridades”, acrescentou Amara.
Diante de toda essa problemática já conhecida na sociedade e cada vez mais frequente nas escolas, a ideia em escolher o documentário “Longe da árvore” para ser exibido e usado como produto de reflexão no bate papo foi bastante cuidadosa. “Escolhemos esse documentário para trazer à tona a reflexão sobre o quanto somos frágeis como sociedade, para além das relações familiares e escolares. Uma sociedade que ainda precisa discutir a tolerância, a aceitação, as escolhas e o respeito ao outro, quando deveríamos descobrir e aceitar a diversidade como uma potencialidade, reconhecendo as inúmeras formas de ser e existir de cada pessoa”, afirmou Sílnia Prado, líder do programa Fortalecimento de Vínculos da Fundação FEAC.
O documentário
O documentário “Longe da árvore”, de direção de Rachel Dretzin, é baseado no premiado livro “Longe da Árvore: pais, filhos e a busca da identidade”, de Andrew Solomon, o mais vendido na lista de não-ficção do New York Times.
O livro é resultado de uma ampla investigação sobre as tensões entre identidade e diferença em famílias com filhos com deficiências. Ele fala sobre família, a qual se nasce, a que é construída, as diferenças, os desafios e as aceitações. Um olhar corajoso na jornada do acolhimento e afeto das relações humanas.
Diagnosticado com dislexia na infância, Andrew Solomon conta que a superação dessa deficiência só foi possível porque ele pôde contar com a paciente dedicação dos pais num lar estruturado. Criado num ambiente privilegiado, Solomon sempre teve acesso a todo afeto e atenção terapêutica necessários ao tratamento. Entretanto, quando sua homossexualidade transpareceu na adolescência, os mesmos pais que sempre o havia cercado de carinho e compreensão reagiram com intolerância e vergonha.
Muitos anos depois, para tentar entender as relações entre essas duas identidades divergentes das expectativas dos pais, e como elas puderam provocar sentimentos tão antagônicos, o autor realizou uma abrangente pesquisa sobre o universo da diversidade em famílias com filhos marcados pela excepcionalidade.
Surdos, anões, portadores de síndrome de Down, autistas, esquizofrênicos, portadores de deficiências múltiplas, crianças prodígios, filhos concebidos por estupro, transgêneros e menores infratores: dez “identidades horizontais” abordadas por Solomon para mostrar o verdadeiro sentido de respeitar as diferenças e amar, começando dentro de casa.
Fortalecimento de Vínculos
O CinemAQUI procura sensibilizar pessoas a partir da força que os filmes possuem. Este projeto integra o Programa Fortalecimento de Vínculos, iniciativa da Fundação FEAC que investe na qualificação de ações integradas de cultura, esportes e cidadania com o objetivo de prevenir o agravamento da vulnerabilidade social e reforçar os vínculos familiares e sociais protetivos.
Saiba mais: https://www.feac.org.br/fortalecimentodevinculos/
https://www.feac.org.br/semanaeducacao2019/