O Coletivizada selecionou cinco coletivos de jovens que atuam em regiões da periferia de Campinas. Cada um recebeu R$ 8.000 para investir em suas atividades e participou de mentorias individuais e em grupo, para se fortalecerem. Conheça um pouco a história de cada coletivo selecionado.

Cursinho Responsa!  

Trata-se de um cursinho pré-vestibulinho popular, voltado a alunos de escolas públicas que desejam estudar em um colégio técnico. O projeto foi idealizado em 2013 por estudantes do Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), escola que era composta majoritariamente por adolescentes brancos e de classe média. Diante do incômodo, o grupo se mobilizou e deu início ao sonho de tornar a educação pública de qualidade mais democrática e acessível.  

O coletivo planejava utilizar o recurso do Coletivizada para oferecer alimentação de qualidade aos alunos — a falta de dinheiro para refeição é um dos principais motivos de evasãoPorém, com as aulas à distância devido à pandemia, o investimento foi para cestas básicas para os estudantes, compra de equipamentos para os professores, e criação de uma apostila.  

Julia Campoli Sacco, professora voluntária desde que estudava no Colégio Técnico de Campinasdestaca ainda os conhecimentos adquiridos com as mentorias: “A experiência com o Coletivizada foi impecável. A maioria dos nossos voluntários tem 16, 17 anos, são muito jovens. As consultorias nos deram mais foco. Foi essencial para nos organizarmos.

Foto: divulgação/Responsa!

Margem Cultural  

A missão do Margem Cultural é promover, difundir e multiplicar a arte e a cultura periférica. Ele se organizou em março de 2020, a partir da ideia do trombonista e aluno de música da Unicamp Hellio Augusto Avelar Couto: “As artes da periferia não tinham a mesma atenção que o tipo que eu fazia, a erudita. Quando vi esse ecossistema mais de perto, percebi que, além de ser desassistido, não tinha estrutura”.

Hellio explica que a proposta do Margem Cultural é fortalecer o cenário musical das periferias: “Ele existe por si, a parada é buscar resultados melhores”. A ideia era realizar oficinas musicais em escolas públicas. Com a pandemia, o coletivo passou a se dedicar a serviços para músicos da periferia, como produções artísticas, transmissões de shows pela internet e assessoria de carreira. O recurso do Coletivizada está sendo usado para as produções audiovisuais. O próximo passo é inaugurar a própria produtora musical.

Foto: divulgação/Margem Cultural

Movimento das Minas  

Após o Centro de Referência da Assistência Social (Cras) Vila Esperança identificar um alto índice de violência doméstica e sexual contra mulheres na região, uma psicóloga e uma agente de ação social do centro formaram um grupo para levar informações, levantar discussões sobre o papel das mulheres na sociedade e quebrar ciclos de violência. Assim nasceu, em 2018, o Movimento das Minas.

Em 2019, o coletivo fez o documentário “Não foi a primeira, que seja a última”, sobre os serviços da rede de proteção à mulher em Campinas. O Coletivizada irá viabilizar uma nova produção audiovisual do grupo, sobre as vivências sociais e culturais de mulheres da periferia.

Beatriz Cristina dos Santos Alves, 21 anos, é um exemplo das mudanças promovidas pelo coletivo. “O Movimento das Minas me apresentou ferramentas contra a violência, para potencializar mulheres e para que elas não entrem mais nesses tipos de relações”. Inspirada pela atuação do grupo, Beatriz conseguiu uma bolsa na PUC-Campinas e atualmente cursa serviço social.

Foto: divulgação/Movimento das Minas

P2RCA  

O P2RCA nasceu em 2018, da reunião de artistas que queriam fomentar a cultura hip hop nas periferias de Campinas. “A gente ficava trocando ideia do que é o hip hop, sobre técnicas para as batalhas de rimas, e começar a formar um grupo de estudos”, conta Miguel Araújo, 19 anos, integrante do P2RCA. Aos poucos, o grupo foi construindo uma identidade e começou a ser chamado para projetos musicais.  

“Na nossa região que tem tantas pessoas talentosas e por que elas não estão num lugar de alcance?”, questiona Miguel. “A gente quer que as pessoas, principalmente daqui da região de Campinas e periféricas, consigam acessar um conhecimento que as levem para cima, que façam elas verem que é possível viver de arte, por mais que seja difícil.”

O Coletivizada viabilizou que o coletivo realizasse produções musicais e começasse a gravar um documentário sobre hip hop. “O projeto está fazendo com que o P2RCA tenha um acréscimo de conteúdo e conhecimento para conseguir se manter sustentavelmente mais para frente, não pensando só no agora. Isso está sendo muito benéfico”, ressalta Miguel. 

Foto: divulgação/P2RCA

Quilombo Íris de Jesus 

coletivo nasceu, em 2014, como espaço de resistência negra e periférica. “É uma organização de jovens ativistas que já atuavam em Campinas e se concentraram para usar a cultura, a educação e outros temas como ferramentas de mobilização”, explica Élice Natália Botelho, 28 anos, que faz parte do Quilombo Íris de Jesus.

Aparticipar do Coletivizada, o Quilombo começou a implementar um plano de comunicação popular voltada aos moradores de periferia e feita por eles. “Queremos que eles falem sobre seus sonhos e levantem a memória do bairro, divulgando também nossas atividades e ações”, planeja Élice 

O Quilombo mantém um espaço para discussões sobre estruturas de opressão e vivências da juventude negra, sempre acompanhadas por muita poesia e cultura afro-brasileira, como batucada e aulas de capoeira de angola. Atualmente, estão estruturando uma biblioteca no local, a partir de doações de livros. 

Foto: divulgação/Quilombo Íris de Jesus

Série sobre coletivos

Esta é a terceira matéria de uma série especial sobre coletivos. Na primeira, apresentamos aos leitores essa forma de organização. Na segunda, explicamos como foi a formação do Coletivizada. Confira:

Coletivos permitem fazer política de modo inovador e menos burocrático

“Coletivizada” fortalece coletivos das periferias de Campinas

• Coletivizada: conheça cinco coletivos que atuam na periferia de Campinas

“Quebrada em Movimento”: hub articula rede de coletivos na periferia 

 

Por Laíza Castanhari