Vídeos estão disponíveis no canal do Youtube da Fundação FEAC
(Por Laura Gonçalves Sucena)
“Se quiser falar ao coração dos homens, há que se contar uma história. Dessas onde não faltem animais, ou deuses e muita fantasia. Porque é assim – suave e docemente que se despertam consciências.” (Jean de La Fontaine, poeta francês)
Contar uma história é nutrir a imaginação, ampliar repertório, instigar a curiosidade e ainda viajar por vários mundos. Com o objetivo de disseminar a arte de contar histórias entre as instituições de educação infantil, o projeto Novo Olhar, da Fundação FEAC, promoveu uma formação de contação de histórias com professoras das instituições participantes do projeto.
Em cinco encontros online ocorridos em julho, as 31 educadoras puderam conhecer ferramentas e estratégias que podem promover o desenvolvimento da linguagem, potencializar a qualidade da interação entre educadoras e crianças, alimentar o imaginário e conhecer técnicas para impulsionar o desenvolvimento socioafetivo das crianças.
Em decorrência do curso foi criada uma série de cinco vídeos chamada “Arte de Contar Histórias”, com objetivo de apresentar conceitos fundantes para quem quer experimentar uma narrativa com significado para quem conta e significância para quem escuta. Todo o conteúdo já está disponível no canal do Youtube da Fundação FEAC.
Era uma vez
Para a líder do programa Primeira Infância da FEAC, Cláudia Chebabi, uma boa história propicia que a criança se identifique, crie empatia, possa elaborar uma situação pela qual está passando de modo amoroso. “Temas delicados, como a morte, o medo, preconceito e tantos outros podem ser apresentados por meio de uma cuidadosa contação de histórias, assim como a possibilidade de conhecer novos mundos, sonhar outras aventuras jamais pensadas até aquele momento. Enfim, é uma potente aliada no processo de apropriação de conhecimento e no desenvolvimento infantil”, informou.
A arte de contar histórias também pode ser muito potente e eficaz para a promoção do desenvolvimento da linguagem. Segundo Stelle Dáphine, analista de projetos do Novo Olhar, as palavras, em uma história, têm cor, cheiro e sabor. “Elas são recheadas de experiências. Isso torna a vivência da linguagem verbal muito prazerosa para a criança. É através da escuta atenta, da entrega para a experiência e da troca com quem conta a história que se conhecem novas palavras, sentidos e formas de expressão. Apostamos na narração de histórias na Educação Infantil como prática que nutre a criança em seu processo de desenvolvimento”, garantiu.
A educadora e contadora de história Cristiana Ceschi, que conduziu os encontros, concorda. Para ela, a contação de história auxilia no desenvolvimento infantil por ser uma ideia de narrativa, com começo, meio e fim. “Cada parte da história leva a criança para uma teia de significados em sua mente e coração. A história tem um papel formador muito importante no ser humano. Quando uma criança ouve uma história, ela tem uma experiência significativa, que enriquece demais o mundo interno dela com repertório de imagens, de sentimentos, de palavras e visões de mundo. E tudo isso permeado pelo afeto e prazer de imaginar. A crianças é o rei, a rainha, a bruxa e esse exercício de imaginar é formativo”, explicou.
Encontros
Os encontros virtuais trouxeram cinco temas. O primeiro, “O que é a arte contar histórias”, abordou o motivo de se contar histórias, quais contos podemos escolher e o que é a arte de contar histórias.
Já o segundo encontro “História, o que você tem para me dar?” levou as participantes a pensarem como identificar uma boa história, porque elas são tão eficientes como ferramenta de autoconhecimento, transmissão do conhecimento e desenvolvimento de linguagem.
Para Cristiana, as narrativas são um maravilhoso veículo, uma forma em que podemos dizer e compreender aspectos da experiência de viver por meio da metáfora. “Ouvir o que a história tem para nos dar e ter interesse pelo que ouvimos é a porta de entrada para começarmos a nos preparar para contar”, comentou.
O terceiro encontro propôs uma reflexão sobre o que nós temos a dar para a história (História, o que eu tenho para te dar?). Para a formadora, o contador sempre “se conta” através da narrativa e é muito importante compreender que uma história não se decora palavra por palavra e sim se estuda. “Conversamos com a história até o ponto de conseguirmos contá-la “de cor”, que significa “de coração”, e com algumas ferramentas, isso se torna mais fácil”, contou.
“O objeto simbólico, um recurso para o reino de possibilidades”, foi o tema do quarto encontro, que falou sobre a utilização de objetos, brinquedos e outros materiais na contação de histórias. “Brincar com os objetos do nosso cotidiano, atribuir outros usos às suas funções utilitárias e criar personagens. Tudo é possível para um desdobrar da imaginação, estimulando assim as capacidades sensitivas, criativas e emocionais de quem conta e de quem ouve a história”, explicou a educadora.
Porém, Cristiana também ressaltou que é preciso ter um ambiente adequado para a contação de história. “Não é preciso ter muita informação de ícones e símbolos porque o principal é convidar a criança a imaginar e não dar a imagem para ela. Menos é sempre mais”, informou.
Na última live, com tema “Vamos nos preparar e preparar o encontro?”, as participantes ficaram sabendo mais sobre a organização do espaço onde a história é contada. Cristiana falou da relevância da preparação do espaço físico e o espaço da escuta. “Nada é mais importante do que acolher a imprevisibilidade do encontro com suas surpresas e desafios. Estar aberto para o encontro e as peculiaridades do grupo é permitir que a história compartilhada seja única e muito verdadeira”, pontuou.
Cristiana ainda deu uma dica preciosa para as professoras. “Para quem está nesse universo de contação de histórias, aconselho a procurar tudo que puder, estude, conheça, construa a sua formação, fique curioso, se aproxime de quem você admira e conte muitas histórias.”
Segundo a professora Aline Ângelo Guimarães, do Centro de Educação Infantil (CEI) Dom Robson Cavalcanti de Barros, o curso foi muito prático e contextualizado. “Adquiri muitas ferramentas úteis para a contação de história como um todo, não só para a área da educação. A palestrante conseguiu nos contagiar com sua paixão pela arte de narrar histórias e nos motivou a termos essa mesma paixão ao contar histórias”, contou.
A professora Miriã Lustosa Lirani , também aprovou a formação. “O curso possibilitou vivências com as histórias através dos “prazeres de casa”, e deu muita bagagem com bibliografia. Com certeza foi um dos cursos mais interessantes nesse tema de contação de histórias. Me fez repensar a rotina na sala de aula, a relação com a história, a preparação de quem vai contar e é isso que vou levar para a sala de aula”, disse.
Vínculo
A leitura e a contação de história também é um fio condutor do estreitamento de vínculos. Cláudia explica que no instante em que alguém conta uma história e outro alguém a escuta, há um encontro que, se cuidado na forma como ele acontece, vínculos afetivos são constituídos e fortalecidos. “Emoções são vivenciadas por meio do que acontece com os personagens e a criatividade é exercitada a partir da experiência com o objeto que dará identidade a um personagem”, pontuou.
Para Cristiana, se o educador e a criança estiverem com o sentimento da brincadeira, a história irá enriquecer o vínculo. “É mais que passar conhecimento. A parceria na aventura é transformadora para ambas as partes. O educador entende que não sabe tudo, e que tem espaço para a crianças. E a criança também entende que o educador é um parceiro de aventura. É quase compartilhar um segredo! Não é a voz da tarefa, é a voz de possibilidades, descoberta , prazer e encanto! E isso para um processo de aprendizagem é muito valoroso. Aprende-se mais assim”, finalizou.
Saiba mais: https://www.feac.org.br/novoolhar/