O desenvolvimento territorial é uma estratégia de atuação em regiões de vulnerabilidade social. A intenção é lidar com os principais problemas que ali existem, buscando na comunidade as potencialidades para resolvê-los. Seu objetivo é a melhoria dos indicadores socioeconômicos de seus habitantes.
Por suas características, atua com uma variedade de questões interligadas. Por exemplo, as necessidades de um território podem envolver temas como saúde, educação e empregabilidade, que precisam ser abordados em conjunto. Também tem na mobilização comunitária um instrumento fundamental de ação, pois é quem vive no local que sabe melhor do que ninguém quais são suas necessidades.
“A vulnerabilidade social tem endereço, é fácil de localizar na cidade”, ressalta Jair Resende, superintendente socioeducativo da Fundação FEAC. Não à toa, essa estratégia ganhou destaque neste ano, na nova forma que a instituição passa a apresentar suas atividades, com a criação de três dimensões de trabalho sob as quais seus programas e projetos se organizam. Desenvolvimento territorial é uma dessas dimensões.
Mais do que uma mudança formal, a reorganização teve efeitos concretos na atuação da FEAC. “Agora, pensamos em cinco ciclos para trabalhar no território: projeto, fortalecimento de grupos, implementação de um plano, fortalecimento de gestão local e autonomia da comunidade”, explica Arthur Goerck, líder do Programa Desenvolvimento Local da FEAC.
Territórios vulneráveis
Um importante passo foi a delimitação das Regiões de Vulnerabilidade Social (Revs) pelo Núcleo de Inteligência Social (NIS) da FEAC. “Antes, trabalhávamos com 349 áreas de vulnerabilidade espalhadas por Campinas. Muitas delas, no entanto, tinham características semelhantes, compartilhavam equipamentos como escolas e unidades de saúde”, explica Thainá Alves de Oliveira, do NIS.
Foram definidas, então, 16 Revs. Para cada uma, criou-se uma tabela com as características de risco social, que aponta quais são as principais questões relacionadas a cada região. Isso permite uma abordagem mais assertiva da estratégia de desenvolvimento territorial.
“Passamos a fazer planos levando em conta esses territórios aglomerados. Assim, conseguimos identificar melhor as lideranças que existem. Há muita diversidade, tem de trazer todo mundo para conversar. Tem ONG, professor que dá aula de graça, liderança religiosa, bloco de carnaval…”, afirma Jair.
Desenvolvimento territorial e lideranças
Agrupar as pessoas em torno do interesse comum é fundamental para estratégia. “Cada local tem suas particularidades. Quem tem o melhor entendimento sobre as necessidades é quem vive ali”, afirma Jair.
Célia Schlithler, consultora em desenvolvimento de grupos, redes e comunidades, explica que é necessária uma aproximação com a comunidade e, então, um trabalho de escuta. “As pessoas têm de ter consciência do que há de bom ali, compartilhar o que elas gostam de fazer. Em alguns lugares, existe uma desconfiança mútua entre os diferentes setores. Precisa mostrar que, mobilizadas, elas conseguem gerar transformações e influir em políticas públicas.”
Não é raro, porém, que as regiões estejam desmobilizadas. Nesses casos, é necessário um trabalho anterior para que as pessoas comecem a se agrupar. “Se identificamos um nível de organização baixo, sugerimos, por exemplo, um projeto sobre infância, algo capaz de aglutinar. Chamamos serviços públicos, convidamos a população a participar. Ao fim, ocorre uma grupalização”, explica Arthur, sobre o primeiro dos cinco ciclos de atuação da FEAC.
Muito além da economia
A estratégia de desenvolvimento territorial já foi muito associada a uma visão meramente econômica. Limitava-se a lidar com questões como renda e emprego. Nos últimos anos, houve o entendimento de que havia outros temas que também eram importantes para uma comunidade, além daqueles ligados a trabalho e renda.
“Há 20 anos, temáticas raciais, de gênero e relacionadas à juventude eram abordadas segmentadamente. Hoje, essas questões estão interrelacionadas”, diz Margareth Uemura, coordenadora da área de Urbanismo do Instituto Pólis. Ela acrescenta que sua organização, que tradicionalmente lida com temas urbanísticos, incorporou essa perspectiva interseccional para atuar com o desenvolvimento territorial de maneira transversal.
Segundo Arthur, da FEAC, a Fundação segue a linha do professor de economia de Harvard Amartya Sen. “Ele fala em desenvolvimento como liberdade, para ampliar capacidades e possibilidades de pessoas em situação vulnerável. Na prática, essas pessoas têm um leque atual restrito de possibilidades e é preciso ampliá-lo”, explica Arthur.
Independentemente das temáticas tratadas em uma determinada região, uma frase de Arthur resume bem o objetivo de quem adota o desenvolvimento territorial como forma de ação: “’transformar territórios de vulnerabilidade em territórios de prosperidade, destacando ali o que existe de potência”.
Por Frederico Kling
Edição 2 – Desenvolvimento territorial
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