PATRICIA PAMPLONA
DE SÃO PAULO

A crise política pela qual o Brasil passa trouxe para o cotidiano da população discussões que antes se limitavam aos meios político, jurídico e acadêmico. Impeachment, Constituição Federal, responsabilidade fiscal, a lista do novo vocabulário é extensa.

Para trazer essas questões para dentro da sala de aula, a Escola da Cidadania, fundada pelo escritor e advogado Othon Gama, 26, desenvolveu uma série de livros que auxiliam os alunos a entrar em contato com ciência política e direitos humanos, entre outros assuntos.

“Vivemos um momento em que nunca foi tão importante entender quais os caminhos da cidadania”, afirma o empreendedor social. “A educação peca porque deixou de trabalhar temas como esses para formar uma pessoa preparada para a vida.”

No material da Escola da Cidadania, essa formação começa desde os primeiros anos do ensino fundamental. Para trazer o assunto, árido até para os adultos, o aprendizado vem em forma de histórias em quadrinhos.

A Turma do Brasuca conta a saga de um professor que não desistiu do Brasil e, para ele, a educação faz a diferença. Com uma máquina do tempo, eles vão à Grécia conhecer o início da democracia.

“O conhecimento é passado por jogos. É uma forma fácil de aprender”, explica Othon Gama sobre o material elaborado por uma equipe multidisciplinar, com pessoas das áreas pedagógica, jurídica e da comunicação.

Esse grupo ficou mais de um ano desenvolvendo os livros que chegam às salas de aula este ano, com potencial para atingir 10 mil alunos no primeiro ano, em um trabalho que também impacta a família.

“O material é pensado para que a criança vire um agente de transformação, inclusive dentro da família”, diz o escritor. “É uma mudança que começa agora, mas que pode ser potencializada para o curto e médio prazo.”

ELEIÇÕES

Diretamente ligada à cidadania está o papel de eleitor –e candidato. Com o projeto Ação nas Escolas, o Politiquê? já levou uma simulação de eleição para mais de 2.500 alunos de segundo e terceiro ano do ensino médio de 88 escolas públicas do Recife (PE).

Durante 1h30, os jovens viram candidatos, elaboram campanhas que focam políticas públicas por eles consideradas importantes, elegem o vencedor e concluem com uma audiência pública.

“A gente faz várias dinâmicas para desconstruir o conceito de política que eles têm e inserir uma visão diferente”, explica Camilla Borges, 26, fundadora da ONG. “Um dos nossos valores é o engajamento cidadão para mostrar que eles podem fazer diferente.”

A organização começou de forma on-line, em junho de 2013, mas, no fim daquele ano, a jovem administradora percebeu que seu modelo não estava funcionando.

“Os alunos não iam ler o conteúdo porque de repente acordaram com interesse em política”, diz. “Isso não acontece da noite para o dia. A gente tem que ir lá cutucar na ponta.”

Por isso, após negociarem com uma regional da Secretaria de Educação, começaram o Ação nas Escolas no segundo semestre de 2014. Realizado uma vez por ano até então, em 2017 o Politiquê? quer começar a expansão e chegar a mais escolas públicas, além de instituições particulares e universidades.

Fonte: Folha de São Paulo