(Por Laura Gonçalves Sucena)

Refletir sobre o planejamento do trabalho educativo foi a pauta da primeira reunião da Série de Encontros de Formação da Educação Infantil, que tem como tema anual “Espaços e Tempos na Educação de Crianças”. Promovido pela Fundação FEAC, por meio do Programa Primeira Infância em Foco (PIF) do Departamento de Educação, e pela Secretaria Municipal de Educação (SME) de Campinas, o evento contou com a participação de professores, monitores, diretores e orientadores pedagógicos, entre outros profissionais da área.

Durante o encontro, a supervisora educacional do Núcleo de Convênios da Coordenadoria de Educação Básica, Dorine Albuquerque, falou sobre a crescente preocupação dos profissionais em relação ao planejamento do trabalho a ser realizado com crianças de 0 a 3 anos. “É necessário que essa discussão tenha início com o saber planejar e para quem planejar”, disse.

O planejamento educativo deve ser assumido no cotidiano como um processo de reflexão, envolvendo todas as ações e situações do educador no seu dia a dia. “O planejar é ter atitude para lidar com o que possa ocorrer em todas as situações e, inclusive, para o replanejamento no caso de necessidade. É o instrumento orientador e, por isso, pode mudar. E também é importante que a proposta pedagógica conte com a participação de todos os profissionais da instituição para que dê certo”, completou a assessora técnica do Programa PIF, Denilze Ricciardelli.

Dorine também levou para a reflexão do grupo que a proposta de planejamento depende fundamentalmente do compromisso do professor com relação às suas crianças. “Conforme afirma a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, Luciana Esmeralda Ostetto, em seu estudo sobre planejamento na educação infantil, não adianta ter um ‘planejamento bem planejado’, se o educador não constrói uma relação de respeito e afetividade com as crianças; se ele toma as atividades previstas como momentos didáticos, formais, burocráticos; se ele apenas age/atua, mas não interage/partilha da aventura que é a construção do conhecimento para o ser humano.”

Para a supervisora, é preciso que os profissionais sejam provocados a repensar os aspectos da infância e de suas relações com as crianças e com os espaços e tempos das mesmas. “Nosso objetivo não é dar voz à criança, pois ela já tem. É preciso escutá-la”, enfatizou.

“Os pequenos estão mudando e exigindo novidades e posicionamentos diferenciados. Temos que pensar diferente também. Não é possível treinar a criança para a pedagogia da espera, afinal não é para domesticá-la para a hora do banho, hora da alimentação, hora da fruta, hora de dormir e hora de tudo”, completou.

Para Dorine, deve-se permitir que a imaginação da criança seja livre. “Temos que deixar os estereótipos cada vez mais distantes. Para que trabalhar com xerox, figuras de desenhos e datas comemorativas se podemos deixar os pequenos criarem? É importante valorizar as produções singulares e coletivas da turma. Em vez de trabalhar o Dia do Índio, podemos propor um projeto sobre a cultura indígena”, sugeriu.

Brincar

Falando sobre a relação dos espaços e tempos dos pequeninos, a supervisora enfatizou a importância do brincar livremente. “Hoje muitas crianças não podem mais ir à rua, estão sempre em locais com regras rígidas e, por isso, a escola tem que dar liberdade, deixar os pequenos se sujarem, se alimentarem sozinhos, se apropriarem de todos os espaços, curtirem a natureza. Enfim, é importante que a criança viva a infância”, falou.

Organizar o cotidiano é resultado da leitura que o educador faz de suas crianças. É importante observar os pequenos e também os espaços em que estão inseridos. Saber o que gostam de fazer, onde preferem ficar e em quais horas. Os ambientes devem promover desenvolvimento, conter espaço para movimentos e brincadeiras, estimular os sentidos e dar a sensação de segurança.  Também é preciso valorizar o espaço interno e externo das creches e escolas infantis.

No encontro, que contou com a presença de profissionais de entidades de educação infantil parceiras da Fundação FEAC e cofinanciadas pela SME, os participantes puderam compartilhar experiências e relatar casos ocorridos. “Momentos como esse proporcionam aprendizado. Podemos rever nosso trabalho, pensar em atitudes a serem tomadas e em como melhorar para que a criança seja a beneficiada”, falou a monitora da creche do Serviço Social da Paróquia de São Paulo Apóstolo (SPES), Ângela Cristina de Moura Pereira.

Para a também assessora técnica do PIF, Adriana Nunes Silva, nesse primeiro encontro foi importante retomar conceitos sobre criança e infância. “Essas concepções foram provocadas por reflexões realizadas em formações de anos anteriores e apoiadas em textos do filósofo Jorge Larrosa – que diz que a infância representa o imprevisível e que a criança traz a possibilidade do novo para quem com ela interage.  Nesse sentido, fica claro para o educador que é possível planejar, com intencionalidade, espaços e tempos educativos que contemplem o percurso de pensar e fazer com a criança”, explicou.

Desde 2014, a Fundação FEAC e a SME vêm investindo na formação continuada dos profissionais que atuam nas creches e pré-escolas conveniadas. “Esse investimento tem frutificado e podemos enxergar os resultados concretos no cotidiano dessas instituições, que são exemplificados nestes espaços formativos. Acreditamos que o profissional que atua na educação infantil tem um papel de extrema relevância no desenvolvimento integral da criança e, portanto, esse processo de estudo precisa ser contínuo, reflexivo e comprometido com o aperfeiçoamento da prática profissional”, finalizou a gerente do Departamento de Educação da FEAC, Claudia Chebabi.

A Série de Encontros de Formação da Educação Infantil de 2017, que conta com carga horária de 24h, sendo 14h presenciais e 10h à distância, iniciada na última semana de abril, segue até outubro, com encontros realizados a cada dois meses.