(Por Laura Gonçalves Sucena)

 

Quando as escolas foram fechadas devido à pandemia do coronavírus, a equipe pedagógica do Espaço Crescer e Vencer, parceiro da Fundação FEAC e que atende 138 crianças na Educação Infantil em Campinas, sentiu que era hora de se unir e fazer algo diferente. Os profissionais decidiram inovar e, por meio de aplicativos de mensagens, saíram dos muros da escola para checar se os pequenos e suas famílias estavam bem.

Mas antes de colocar o plano em ação, todas as famílias foram comunicadas e, assim todos os pais e responsáveis foram envolvidos nas atividades e  nas rotinas combinadas.

Após o contato virtual estabelecido, as famílias foram convidadas a irem até a escola para buscar um Kit Criatividade, composto por folhas de sulfite, tintas, pincéis, giz de cera, lápis de cor, livros e brinquedos. Por meio do Kit, foi pactuado informalmente com as famílias as tarefas que seriam passadas para as crianças, mas sempre de maneira divertida.

A adesão surpreendeu e 90 famílias aderiram à atividade e fizeram a retirada do material recreativo.

Segundo a diretora educacional, Aline Santos, a intenção era levar ludicidade para os pequenos. “Pensamos que o kit seria útil no caso de haver um tempo ocioso, uma vez que as crianças passam bastante tempo na escola. Também foi uma maneira de incutir dentro das casas outras maneiras de entretê-las”, explicou.

“Pesquisamos e vimos muitas ideias prontas circulando na internet, mas não queríamos encaminhar algo pronto e sim construir algo juntos, algo que pudesse nos aproximar. E a meu ver, não conheço outra forma de se fazer educação infantil; a efetividade é algo intrínseco nas linhas pedagógicas e é tão forte que atravessa as paredes da escola”, comentou Aline.

Isolamento social

Para Stelle Dáphine, analista de projetos do projeto Novo Olhar da FEAC, fortalecer e estimular o vínculo positivo entre crianças e seus familiares, especialmente nesse momento, pode contribuir para minimizar os impactos do afastamento social e instabilidade econômica causados pela pandemia. 

“Um dos aspectos mais importantes do desenvolvimento infantil é uma interação responsiva dos cuidadores com as crianças. Ou seja: a criança vai se desenvolver e construir ferramentas e habilidades internas à medida que os seus adultos cuidadores compreendam suas necessidades e respondam adequadamente a elas. Para isso, é preciso conexão entre crianças e adultos. Por isso que o projeto do Espaço Crescer e Vencer tem um importante valor: incentiva, estimula e dá ferramentas para as famílias interagirem e brincarem com suas crianças nesse momento de tanta adversidade”, disse Stelle.

Para a analista, a pandemia impôs às crianças não só a necessidade do afastamento social, como também acrescentou altas doses de estresse em seus cotidianos. Práticas que auxiliem as famílias e suas crianças a reduzirem os níveis de estresse e desenvolver interações mais responsivas podem contribuir enormemente para o desenvolvimento das crianças e, consequentemente, com o desenvolvimento da sociedade.

Para a diretora, a interrupção das aulas e o isolamento acabaram gerando ansiedade nas crianças. “A escola então pensou na necessidade de se manter uma comunicação clara, transparente e ágil com os pais ou responsáveis, sempre visando o bem-estar deles. Aprender brincando e se divertindo pode acontecer sempre, mesmo em situações adversas, como esta que estamos passando”, ponderou.

Outra necessidade levantada pela equipe pedagógica foi com relação à época do ano. “Estamos no primeiro trimestre do ano letivo, ou seja, as crianças mal começaram o ano e ainda estavam passando pelo processo de acolhimento – adaptação das crianças no ambiente escolar. Daí vem o isolamento social e nos fez perceber que nosso trabalho, talvez, perderia um pouco de força e os vínculos seriam enfraquecidos. Nós não poderíamos deixar isso acontecer”, enfatizou Aline.

Afetividade Virtual

Com o encerramento das atividades escolares, alguns pais de alunos também entraram em contato com a escola e relataram que os pequenos estavam sentindo falta das aulas, das professoras e dos amigos. “Esses relatos nos mostraram que era preciso agir. Então sempre enviamos áudios aos alunos e, de acordo com os pais, esse gesto está sendo muito bem recebido pelos pequenos”, contou Aline.

“Ouvir uma voz familiar, de monitoras e professoras faz com que elas se sintam amadas e isso traz um ânimo”, comentou a diretora. A mãe da pequena Letícia, de 2 anos confirma: “Minha filha estava triste e quieta e meu marido nos chamou a atenção para esse fato. Falei com a tia Aline e nós percebemos que ela estava sentindo falta da escola.  Ela não se alimentava direito, e quando ela recebeu o áudio das tias, tudo mudou”, contou Andrezza Celestino.

Andrezza afirma que a pequena estava acostumada com a rotina da escola. e deixar de ir brincar com as professoras e os amigos, num período que não é férias, foi estressante. “A escola foi muito feliz nesse projeto porque agora minha filha está contente. Ela quer se alimentar para ficar forte e não pegar o vírus, quer se cuidar para voltar à escola. Os áudios são muito bons”, afirmou.

Para realizar os áudios, com mensagens de afeto, de orientação, sempre focados na prevenção ao coronavírus (COVID-19), histórias e músicas infantis, toda a equipe elaborou um cronograma de ações. “Trocamos ideias de como faríamos os áudios afetivos e como contaríamos as histórias, afinal contar história por áudio é bem diferente de contar história na escola ,que tem um ambiente propício. Foi uma tarefa afetiva nova e desafiadora para nós, enquanto equipe. Pensamos nos mínimos detalhes sempre preocupados com o bem-estar das crianças”, disse a diretora.

Para a professora Tamires Basilino, a proposta dos áudios afetivos representa o estreitamento do relacionamento entre a escola e a família. “Isso fortalece a ideia de que a educação rompe fronteiras”, disse. “Os áudios são nossa porta de contato com as famílias e pelo que elas nos falam, isso está sendo uma ferramenta de esperança para os pequenos nesse momento difícil que estamos todos passando. É uma forma de estar perto, enquanto muito se diz sobre distância”, completou a professora Bruna Marangoni.

Primeira Infância em Foco

O projeto Novo Olhar faz parte do programa Primeira Infância em Foco, iniciativa da Fundação FEAC que investe em esforços para promover o desenvolvimento da primeira infância com objetivo de assegurar que todas as crianças tenham desenvolvimento adequado à sua faixa etária.

Saiba mais: https://www.feac.org.br/primeirainfanciaemfoco/