(Por Ingrid Vogl)

Quando informações de interesse comum são compartilhadas, o impacto social acontece com empoderamento e protagonismo. É exatamente isso que acontece com os participantes do projeto “Jovens Mobilizadores/as dos Direitos Sexuais e Reprodutivos” (saiba mais aqui), que após serem capacitados, têm a oportunidade de ir além dos limites do bairro onde moram para multiplicar seus conhecimentos sobre temas ligados à saúde sexual e reprodutiva, em especial na promoção dos direitos sexuais e reprodutivos.

O projeto é uma iniciativa da Fundação FEAC em parceria técnica com a ONG Reprolatina – Soluções Inovadoras em Saúde Sexual e Reprodutiva. O objetivo é capacitar jovens de instituições sociais e escolas públicas de Campinas/SP para atuarem como mobilizadores/as, por meio de ações educativas que contribuam com a redução da vulnerabilidade juvenil. Em especial, levando conhecimentos sobre a prevenção da gravidez não planejada, de infecções sexualmente transmissíveis (IST/HIV-Aids), violência, bullying e promovendo uma reflexão sobre os direitos dos jovens e seus projetos de vida.

Até o momento, 62 jovens participam do projeto, que é dividido por grupos nas regiões Leste, Sudoeste e Norte, de acordo com a Política de Assistência Social do município. Enquanto os jovens das regiões Leste e Sudoeste estão desenvolvendo ações informativas dentro das escolas onde estudam e nas Organizações da Sociedade Civil (OSC) parceiras do Projeto, o grupo da região Norte já ultrapassou as salas de aula e inclusive seu território para multiplicar conhecimentos com pessoas de outros locais.

A primeira atuação do grupo da região do Padre Anchieta fora de seu território foi na Escola Estadual Prof. Bernardo Caro, no residencial Vila Olímpia, quando participaram do HAbitAção. O evento foi promovido pela Cohab e Sehab em novembro. Na ocasião, foram oferecidos diversos serviços e atividades, como apresentações de dança, artes marciais e orientação jurídica, médica, atendimento de cabeleireiro, além de recreações.

O grupo de jovens mobilizadores/as foi convidado para fazer parte do evento devido ao alto índice de casos de gravidez precoce na região. A participação se deu através da oferta de orientações  sobre como evitar gravidez indesejada e se prevenir das infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV-Aids. Os jovens apresentaram ainda um vídeo educativo para discutir o  assunto com os adolescentes e outros jovens que passaram pelo evento.

Protagonismo

Segundo Dário Aparecido da Silva, gerente de TI e educador na Reprolatina, os grupos formados já saíram da teoria e foram direto para a prática de conscientização de seus pares, a partir da metodologia participativa empregada nas capacitações. Dário atribui o sucesso do projeto ao fato do compartilhamento de informações serem feitas de jovens para jovens.

“Eles já incorporaram e assumiram a missão de serem multiplicadores de conhecimento, com uma linguagem que faz sentido para seus pares”, afirmou. Segundo Dário, os participantes da capacitação não conheciam muito sobre o assunto, mas eles se apropriaram do tema, se transformaram dentro do grupo e agora assumiram um papel de responsabilidade social dentro de suas comunidades, como agentes mobilizadores.

“A ideia é que a partir de agora, as próprias escolas e entidades sociais criem oportunidades e ambientes propícios para que esses jovens formem novos grupos e assim, a rede de informações sobre o tema só aumente”, explicou o educador.

Multiplicação

Para Carla Nascimento, assessora social da Fundação FEAC, referência na região Norte, os resultados do projeto superaram os objetivos, já que não era previsto que os jovens atuassem como mobilizadores em outros territórios. O sucesso da atuação do grupo foi tão grande que eles já têm convites para comandarem palestras sobre orientação sexual em outros locais.

Segundo Carla, o convite para a participação no HabitAção ocorreu a partir de uma demanda da comunidade do entorno da Vila Olímpia, já que ali há um número elevado de adolescentes grávidas. “A partir dessa ação, já pensamos em um trabalho da rede intersetorial que pretendemos criar neste território no próximo ano, com a atuação de jovens e onde serão abordados diversos assuntos de interesse comum. Isso é de extrema importância, já que os jovens da região da Vila Olímpia não têm acesso fácil à equipamentos públicos, como por exemplo, um Centro de Saúde.  Então informá-los de seus direitos, engajá-los e incentivá-los a serem protagonistas de suas próprias vidas é essencial”, afirmou.

Engajados

Na EE Prof. Bernardo Caro, o grupo de jovens multiplicadores/as se revezou entre a mesa informativa onde estavam expostos panfletos explicativos e a sala de leitura, que foi transformada em uma sala de vídeo debate para a exibição do curta-metragem “Uma vezinha só”, que aborda o tema gravidez indesejada na adolescência.

Comandando as rodas de conversa que se formaram para debater sobre o tema, os jovens fizeram bonito, e explicaram desde o uso correto da camisinha, masculina e feminina, até  fizeram esclarecimentos sobre  métodos contraceptivos. Bernardo Nascimento, 15 anos e transgênero, lembrou que o objetivo do grupo é alcançar cada vez mais pessoas em territórios distintos. “Saímos da nossa zona de conforto, em nosso bairro e queremos ser multiplicadores em pelo menos oito escolas da região. Às vezes a pessoa só tem informações pela internet e nem tudo é verdadeiro ou aborda o tema de maneira ampla. A gente quer empoderar os jovens para que eles não tenham vergonha de procurar o postos de saúde, fazer  exames, se prevenir, procurar saber da própria saúde, e também falar sobre os direitos deles. A gente vive em uma sociedade em que os jovens tem uma vida sexual ativa cada vez mais cedo. Então a informação é essencial”, explicou.

Para Richard Giovani Brito de Jesus, 23 anos, as palavras que definem seu sentimento pela missão de multiplicar informações sobre sexualidade são felicidade e realização. “É muito gratificante ter o conhecimento e poder transmiti-lo para outras pessoas que talvez não conheçam sobre o assunto. Nosso trabalho de compartilhar informações sobre a camisinha, que é o único método que previne doenças e a gravidez ao mesmo tempo, é essencial”, afirmou.

Vitoria Gomes da Cunha, 15 anos, acredita que sua missão após participar da capacitação é transmitir informações para promover uma sociedade mais respeitosa. “Passar conhecimento para os outros é um prazer imenso que sinto. Gosto de falar sobre sexualidade, gênero, direitos sexuais e reprodutivos e também sobre violência, preconceito e projetos de vida. É preciso compartilhar informações importantes como essas para a sociedade tão carente de bons sentimentos e valores de convivência“, ensinou.

Quem assistiu ao vídeo e participou das rodas de conversa saiu de lá com muitas informações complementares e novidades. “Achei que é importante saber sobre isso. O que mais me marcou foi saber que é preciso prevenir contra doenças e também da gravides precoce. Pra isso, é preciso usar a camisinha”, replicou Luana dos Santos, 11 anos.

Tânia Cristina Valêncio, 21 anos, participou com interesse do papo com os mobilizadores/as. “É sempre bom aprender um pouco mais sobre saúde sexual. Tive a oportunidade de tirar dúvidas sobre a colocação da camisinha masculina. Foi muito interessante, porque mesmo para quem já tem conhecimento sobre o assunto, uma informação complementar nunca é demais”, avaliou.

“Mesmo me prevenindo e usando camisinha sempre, eu não sabia de muitas coisas que foram ditas, como por exemplo, que se deve usar o preservativo no sexo oral e que há um jeito correto para fazer isso”, disse Milena de Sousa Machado, 18 anos.

Entusiasmados, os jovens multiplicadores/as se apropriam de sua missão e protagonizam sua responsabilidade frente à comunidade onde atuam. Isso sim, é promover impacto social de forma eficaz e efetiva.

Saiba mais: www.reprolatina.org.br