O cenário de insegurança alimentar e vulnerabilidade social, que se agravou com a pandemia, ainda inspira muitos cuidados em Campinas. De acordo com dados do CadÚnico, da Secretaria de Assistência Social do município, mais de 50 mil moradores vivem em situação de risco social e fome. Diante desse quadro, a Fundação FEAC lançou este mês, no dia 15, a quarta edição da campanha emergencial Mobiliza Campinas.
O programa foi criado em 2020 para enfrentar os efeitos sociais e econômicos da crise sanitária no município. É uma iniciativa da Rede Mobiliza, parceria da Fundação FEAC com mais de 100 organizações da sociedade civil (OSC) de Campinas. A Rede é responsável por identificar e cadastrar as famílias e distribuir os cartões alimentação, visando apoiar essa população.
A situação neste início de ano foi agravada pelas fortes chuvas que atingem a região, afetando diretamente a população mais vulnerável e também as organizações que atuam nesses territórios. Algumas OSC sofreram danos em sua estrutura e perderam estoques de alimentos utilizados para suprir necessidades básicas das famílias atendidas pelas unidades.
Mobiliza também apoiará vítimas das chuvas
“Neste ano, serão beneficiadas também famílias impactadas pelas recentes chuvas e enchentes em Campinas. Os recursos mobilizados com a sociedade civil serão convertidos em cartões alimentação e distribuídos nas regiões mais afetadas”, conta Sílnia Prado, da Fundação FEAC, que está à frente da campanha desde a primeira edição, em 2020. “Lançada como resposta emergencial à crise social instaurada pela pandemia, a Rede Mobiliza tem uma equipe atenta para a inclusão de novas famílias em risco social ampliado por novas vulnerabilidades”, diz.
Além do recurso financeiro, a FEAC, em parceria com a Campanha SOS Chuvas da Prefeitura de Campinas, criou uma estratégia de cooperação para apoiar as organizações nos reparos causados pelas chuvas, permitindo assim que o atendimento às pessoas em situação de vulnerabilidade social não seja prejudicado.
Por meio dessa ação, a Fundação FEAC doará 460 cestas básicas à organização Projeto Há Esperança para que ela consiga atender à demanda de 230 famílias até conseguir repor o seu estoque de alimentos, perdido com as enchentes. Além das cestas, um recurso financeiro será doado para apoiar o novo espaço de armazenagem.
“Sempre digo que políticas públicas se fazem com parceria e cooperação e foi isso que vimos aqui: ação solidária do poder público e da sociedade civil em prol dos mais vulneráveis”, afirmou Vandecleya Moro, secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas. Confira entrevista completa no quadro abaixo.
FEAC realizará um aporte inicial de R$ 1,5 milhão
A campanha Mobiliza Campinas já está na rua e tem a expectativa de beneficiar 4.555 famílias, ou18.220 pessoas, em situação de vulnerabilidade social. O valor do cartão alimentação a ser distribuído será de R$ 450, dividido em três parcelas de R$ 150, como na campanha de 2022. O primeiro e maior lote de cartões será distribuído já em março.
A Fundação FEAC realizará um aporte inicial de R$ 1,5 milhão e pretende mobilizar mais R$ 500 mil com doações junto a pessoas físicas e empresas até 30 de abril. A capilaridade da Rede Mobiliza nos territórios de Campinas abrange o entorno de mais de 100 OSC locais que atuam de forma continuada na relação com famílias e indivíduos.
Uma das OSC que integra a Rede é o Instituto Padre Haroldo, uma entidade filantrópica que oferece serviços como prevenção, proteção e educação a diversos públicos em situação de vulnerabilidade social. Seu trabalho impacta cerca de 1,5 mil famílias, incluindo gestantes, bebês, crianças, adolescentes, jovens e adultos de todos os gêneros, que vivem em Campinas.
Vanessa Aguiar, que é pedagoga e coordenadora técnica dos serviços com crianças e adolescentes do Instituto Padre Haroldo, reforça a importância de ações pontuais para enfrentar a fome. “Uma comunidade que tem pessoas passando fome é violentada em seus direitos básicos. A campanha do Mobiliza Campinas, com a Fundação FEAC, é emergencial. Para atender a essa demanda que é urgente, que é não ter comida para comer e alimentar os filhos”, afirma.
“Nesta parceria, FEAC trouxe apoio financeiro e o olhar de ‘cuidar quem cuida'”
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A secretária da Assistência Social e Direitos Humanos da prefeitura de Campinas, Vandecleya Moro, destaca a importância das parcerias com entidades, organizações, empresas e imprensa “para que as políticas públicas alcancem mais pessoas e cheguem a quem mais necessita delas”.
É esta a estratégia da ação emergencial SOS Chuvas, da prefeitura, que conta com a colaboração da Fundação FEAC para apoiar com cestas básicas e recurso financeiro as OSC que sofreram prejuízos com as chuvas. Além disso, afirma a secretária, é vital o trabalho in loco. “É através da rotina dos profissionais, que realizam atendimentos nos locais, que se tem a avaliação de que a demanda de uma comunidade ou região está para além daquilo que ofertamos”. Na segunda-feira (13), a secretária concedeu, por telefone, uma entrevista à Fundação FEAC: Como a secretaria da Assistência Social tem se organizado para enfrentar o crescimento da insegurança alimentar, agravada pelas chuvas?Vandecleya Moro – Nós fortalecemos as políticas públicas para atender a demanda trazida com as fortes chuvas. Campinas sempre foi uma cidade solidária e houve uma percepção da gravidade da situação que fez aflorar e se intensificar esta solidariedade. As parcerias com entidades, organizações, empresas e imprensa são muito importantes porque nos permitem alcançar mais famílias, inclusive atingir pessoas que estão invisíveis para os cadastros oficiais. O diálogo é o caminho para qualquer parceria, seja com ações do governo federal, estadual ou municipal. O que une as diversas ações é o objetivo comum de fazer com que as políticas cheguem até as pessoas que mais necessitam delas. Quais os desafios e as soluções da atual gestão?Vandecleya Moro – Uma barreira importante é a comunicação. Muitas vezes a população não sabe como ter acesso ou reivindicar direitos. Para enfrentar essa dificuldade nós fortalecemos a comunicação interna. É importante capacitar os canalizadores da informação, os trabalhadores que estão na ponta, para que eles possam orientar o cidadão que procura ajuda no Centro de Referência de Assistência Social (Cras). Como é a parceria com a FEAC na ação emergencial SOS Chuvas?Vandecleya Moro – Nesta campanha, o nosso olhar era ali, na ponta, para a população atingida. Foram distribuídas 6 toneladas de roupas e alimentos, além de móveis e eletrodomésticos. As doações atenderam 150 famílias em situação emergencial. A FEAC veio com o olhar dela, de cuidar de quem cuida, e forneceu apoio financeiro às OSC que também tiveram seus espaços e mantimentos destruídos pela chuva. O mês de janeiro foi atípico e nós seguimos atendendo em duas frentes: no acolhimento e no SUAS, para oferecer suporte às famílias desabrigadas até que elas consigam alcançar sua autonomia. Sempre digo que políticas públicas se fazem com parceria e cooperação e foi isso que vimos aqui: ação solidária do poder público e da sociedade civil em prol dos mais vulneráveis. Como apoiar e identificar as famílias em risco?Vandecleya Moro – O trabalho in loco é fundamental. É através da rotina dos profissionais, que realizam atendimentos nos locais, é que se tem a avaliação de que a demanda de uma comunidade ou região está para além daquilo que ofertamos. E isso aciona o alerta de que é preciso atender outras necessidades, como roupas, medicamentos, alimentação. Que outras estratégias a prefeitura adotou?Vandecleya Moro – A prefeitura disponibilizou nesta primeira quinzena de fevereiro o Renda Campinas, programa de transferência de renda que atenderá as famílias mais vulneráveis. [O programa] chega junto com a campanha Mobiliza Campinas, que também atua dando às famílias a autonomia para comprar o alimento que precisa. |
Por Natália Rangel
Edição 24 – Mobiliza Campinas• FEAC lança campanha Mobiliza Campinas em cenário social agravado pelas chuvas
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