Os sinais de agravamento nas situações de vulnerabilidade social por causa da pandemia estão por todos os lados. Mas, para além da percepção, é preciso ter dados precisos para que organizações da sociedade civil (OSC) possam dar respostas efetivas. Por isso, a Fundação FEAC lançou, no final de novembro, a iniciativa Diagnóstico Socioterritorial PSB (pós-pandemia) para dar às OSC que atuam com proteção social básica a capacidade de realizar coleta e análise de dados sobre o cenário atualizado em seus territórios.
O projeto disponibiliza quatro ferramentas que guiam as organizações por todo o processo de diagnóstico, começando por um roteiro que indicará o início do percurso, passando pela disponibilização de questionários customizáveis para aplicação de entrevistas e chegando, por fim, a orientações para análise dos dados coletados.
“É importante para as organizações da proteção social básica ter um diagnóstico atualizado e individualizado/personalizado que dará subsídios para que (re)conheçam a realidade atual, identificando potencialidades e desafios a serem superados para planejar suas ações de forma mais efetiva”, explica Sílnia Prado, líder do Programa Fortalecimento de Vínculos da FEAC.
A necessidade de se conhecer melhor a situação nos territórios apareceu em 2020, quando a FEAC realizou uma série de escutatórias (técnica que permite ao interlocutor expor todos os pontos que são importantes para ele) com estas organizações, que apresentaram a demanda de se conseguir ferramentas para construírem diagnósticos sobre os possíveis cenários impostos pela pandemia.
“O último Censo tem mais de uma década. Os diagnósticos decorrentes destes dados já estavam desatualizados e foram ainda mais impactados pela crise financeira dos últimos anos e pela pandemia. As vulnerabilidades conhecidas estavam se agravando e novas surgindo ou ganhando evidência no quadro caótico instaurado na nossa cidade”, continua Sílnia.
Parcerias na construção
Na construção das ferramentas e materiais orientativos deste projeto-piloto, a FEAC contou com a Atena Consultoria e Estratégia, especializada em pesquisas e análises de dados, e também com a participação de duas organizações parceiras, o Núcleo de Ação Social (NAS) e o Projeto Gente Nova (Progen).
A presença dos três parceiros permitiu que a ferramenta fosse construída ao mesmo tempo de maneira teórica e prática. A Atena ficou responsável por articular todas as etapas de elaboração e execução, fazendo mentorias com as duas organizações, produzindo o universo amostral da pesquisa e treinando as equipes das duas organizações que iriam a campo realizar as entrevistas.
Este último, por sinal, foi um dos grandes desafios da criação do diagnóstico. “É um projeto que conta com 100% do trabalho que de quem faz a pesquisa de campo e, no caso, são profissionais que não estão acostumados com esse tipo de ação. Portanto, foi um trabalho muito intenso de treinar essas pessoas para garantir uma aplicação de qualidade da pesquisa”, explica Denise Alcantara, líder da Atena.
Não à toa, o Diagnóstico Socioterritorial PSB tem ferramentas voltadas especialmente para aprofundar a prática de aplicar as entrevistas, parte fundamental de qualquer pesquisa de campo.
Experimentado como piloto pelas organizações parceiras, o projeto já está influindo no planejamento delas para o próximo ano.
“Percebemos um aumento na situação de desemprego e, ao mesmo tempo, uma competência da comunidade em superar essa situação. Conhecemos pessoas, por exemplo, que ficaram desempregadas e começaram a buscar novas alternativas como vender pão, fazer jardinagem. Por isso, desenvolvemos um projeto que apoia o potencial empreendedor dessas pessoas”, conta Márcia Ramos Spanholetho, coordenadora geral do NAS.
Já Cláudio Raizaro, coordenador técnico do Progen, avalia que as ferramentas permitirão melhorar a comunicação com os beneficiários de sua organização e qualificar e ampliar a captação de recursos.
“Conseguiremos participar com qualidade em editais de chamamento público, em termos de colaboração e de fomento, de propostas de verbas parlamentares, bem como com as iniciativas de investimento social privado, como é o caso da própria parceria com a FEAC”, analisa Cláudio.
Mapeando Campinas
Sílnia conta que o próximo passo é buscar que cerca de 30 OSC apliquem o Diagnóstico Socioterritorial PSB em sua atuação.
“Será oferecido um acompanhamento para as demais organizações que se propuserem a realizar o diagnóstico, sempre que houver necessidade de apoio, esclarecimento de dúvidas ou, ainda, para reportarem novos gargalos nesta aplicação”, diz Sílnia.
O objetivo é, ao final de 2022, unificar os diagnósticos coletados pelas parceiras. “Esses dados nos darão um cenário real sobre a situação nos territórios vulneráveis de Campinas, e compartilhar essas informações com a Secretaria Municipal de Assistência Social”, finaliza Sílnia.