(Por Claudia Corbett)

O primeiro dia do mês de julho de 2017 tornou-se um marco para os bairros Vila Abaeté, Sirius e Jardim Bassoli de Campinas/SP. Foi a data que deu início aos primeiros projetos idealizados pelos próprios moradores, para o desenvolvimento integrado e sustentável destes territórios. As oito iniciativas apresentadas no Festival de Comunidades Empreendedoras da Escola da Transformação receberam premiação, por reconhecimento e valorização das propostas dos moradores para promover o bem-estar social de suas comunidades.

Segundo Herbert Santo Lima, facilitador de desenvolvimento comunitário, o Festival é uma atividade muito emblemática, pois é o primeiro momento que os moradores têm a oportunidade de mostrar para o mundo seus sonhos e projetos. “Estar em cima de um palco segurando um microfone pode parecer uma experiência assustadora para alguns deles, porém é o primeiro passo que eles dão para convidar novos parceiros para a jornada de realização dos projetos”, contextualizou.

A Escola de Transformação é um projeto do Instituto Elos que reúne formação, realização e mobilização a partir de ações comunitárias. A proposta deste Festival foi incentivar o senso de comunidade empreendedora, nos três bairros, por intermédio de desenvolvimento de projetos com foco na qualidade de vida dos moradores e no desenvolvimento local. Para chegar ao resultado almejado, contou com a parceria da Demacamp, executora local da iniciativa Desenvolvimento Integrado e Sustentável dos Territórios (DIST), do Fundo Socioambiental da Caixa Econômica Federal e da Fundação FEAC.

“Conhecemos os projetos quando estabelecemos a parceria com Instituto Elos e Demacamp, e fomos gratificados com a oportunidade de contribuirmos atuando como mentores no desenvolvimento destas propostas. Existe um universo de talentos prontos para agirem em suas comunidades que estavam apenas aguardando para serem oportunizados’, comentou a gerente do Departamento de Arquitetura, Viviane Nale.

Por meio de chamamento público, os moradores dos condomínios tiveram a oportunidade de apresentar propostas de projetos que visam contribuir com melhorias para a comunidade dos bairros. As iniciativas de moradores dos locais tiveram foco nas crianças e adolescentes e na geração de renda para as mulheres.

Projetos

No momento da apresentação o nervosismo das equipes era grande, mas a vontade de fazer algo em prol da melhoria de vida nas comunidades onde vivem, venceu as barreiras e todos conseguiram transmitir, cada um à sua maneira, suas inspirações. Cada grupo teve dez minutos para a apresentação. Para a maioria deles o tempo foi pouco. Bem escritas, as propostas discorriam em detalhes os trabalhos que seriam realizados, para qual público alvo e os benefícios a eles agregados.

As duas propostas do Condomínio Abaeté foras as primeiras a serem apresentadas. ‘Cante, Dance, Crie’ propôs aula de dança e ballet como uma oportunidade para as meninas e meninos do bairro. A segunda apresentação foi a ‘Beneart Canaã’. Com um nome forte de significados, o projeto trouxe ao palco a tradição da família de duas irmãs cozinheiras de mão cheia que querem compartilhar seus conhecimentos, ensinados pela mãe Dona Bene, com as mulheres da comunidade com a proposta de geração de renda. “Estamos com o coração acelerado, mas com os pés no chão. Dar continuidade a este projeto será um grande passo na nossa vida e na das pessoas com as quais iremos dividir o legado que a nossa mãe nos deixou. Isso tudo é uma energia muito boa”, comemoraram as irmãs.

O Jardim Bassoli apresentou três propostas. Montado por uma equipe jovem, o ‘Bassoli dos Nossos Sonhos’ quer levar cultura e lazer para os espaços do condomínio por meio cinema nas quadras de esportes, brinquedoteca, rodas de leitura e de conversas.

Já em andamento, o ‘Artes do Bassoli’ foi criado por mulheres moradoras, cheias de talento, que costuram e fazem artesanato e querem compartilhar seus saberes, ampliar a oficina de trabalho e ainda a abrangência de locais para vendas. O projeto também tem como foco dar oportunidade de geração de renda assim como ampliar convivência entre as moradoras do local.

O último projeto do Bassoli apresentado no Festival se propõe a resolver um problema criado quando os moradores provenientes de zonas de risco foram levados para o bairro. Muitos deles eram catadores de lixos recicláveis e com a falta de espaço para armazenarem o que coletavam, tiveram que deixar de trabalhar. Ao todo, são mais de 30 pessoas desempregadas desde então. Por isso, o projeto que propõe a criação da Cooperativa de Reciclagem União Jardim Bassoli visa a construção de um espaço no qual todos possam, juntos, voltar a realizar o trabalho de separação de lixo reciclável como desenvolviam, agora de maneira mais organizada unindo ainda o trabalho de conscientização de descarte de lixo para o local onde moram. “A conquista deste prêmio aumentou a esperança de todas as famílias envolvidas nesta atividade.  Iremos abraçar esta oportunidade com muita dedicação para um dia conquistarmos a nossa tão sonhada Cooperativa”, comemorou Ana Claudia Franco de Camargo, uma das responsáveis pelo projeto.

Do Sirius vieram três propostas distintas. Uma delas, a Ritmo, Harmonia e Cidadania visa a inclusão social de adolescentes e jovens por intermédio da música. Já o esporte como ferramenta de cidadania foi apresentado com o nome de ‘Gerando Vidas’. Com aulas de Jiu Jitsu o morador que é faixa roxa nesta atividade quer levar oportunidade e novos horizontes às crianças e adolescentes por meio do esporte. “Desejo que o projeto do Jiu Jtisu desperte outros voltados ao esporte dentro da comunidade. Este primeiro será um piloto que ao dar certo trará história e motivação para a comunidade”, destacou Robson Graciano, autor do projeto. O ‘Hora do Brincar’ tem como foco as crianças, que segundo as autoras do projeto, contabilizam cerca de duas mil nos 15 condomínios. Com brinquedoteca, contação de história e muita brincadeira, o objetivo é estreitar os vínculos e ampliar o espaço de lazer com atividades socioeducativas.

“O Festival traz um sentimento de legitimação para as comunidades, que mostram da sua maneira que existe muito mais em suas localidades do que se coloca no mapa da cidade como comunidades empreendedoras. Espero que estes projetos inspirem outros a se desenvolverem nas comunidades e além dela, estou muito satisfeito com os resultados”, destacou Herbet Santo Lima da Escola de Transformação.

Avaliação

Ao final das apresentações, a partir das avaliações, todas as equipes receberam sugestões da comissão julgadora formada por Andrea Santos de Deus, da Secretaria Municipal de Habitação de Campinas; Prof. Adolf Deny Motter, especialista em gestão de desenvolvimento social e sustentável, na empresa Deny Motter Gestão em Desenvolvimento Social e Sustentabilidade, Lincoln Moreira, da Fundação FEAC; Rodrigo Faguldes, coach Júlio Magalhaes, da Caixa Econômica Federal; Thais Polydoro, da Escola de Transformação do Elos e pelo educador Tony Marlon do Instituto Escola de Notícias.  A escolha de uma equipe tão heterogênea não foi por acaso. As diferentes visões e conhecimentos dos profissionais envolvidos contribuíram para as orientações realizadas a cada um dos projetos.

“Todos os projetos apresentados são muito bons. Alguns com um envolvimento da comunidade bem interessante, no que tange ao pertencimento do que vem a ser aquela atividade naquele local. Já os projetos de cunho de cultura e lazer, do brincar e de recreação, todos ligados ao desenvolvimento humano, são os que têm impacto imediato na comunidade”, apontou Lincoln Moreira.

No próximo passo, os responsáveis pelos projetos irão se dedicar a fazer os ajustes apontados.  Até a entrega do produto pronto, todos continuam a receber mentoria do Instituto Elos, da Demacamp e da Fundação FEAC. A premiação se dará por meio de equipamentos e materiais indicados nas propostas e com foco na realização do projeto. Cabe a cada equipe cumprir a aplicação do recurso como relatado no projeto.

Saiba mais: institutoelos.org