A imagem que acompanha este texto não é só um flagra de um momento de alegria, de descontração. É, isso sim, uma representação visual exata de como Flávio Eduardo Lopes, falecido aos 72 anos em 7 de setembro, encarava a missão à qual dedicou grande parte da sua vida: a luta pelos direitos de pessoas em situação de vulnerabilidade. 

Paulo Tilkian, presidente do Conselho Curador da Fundação FEAC, antecedeu Flávio, seu amigo, no papel de presidente da diretoria executiva. “Ele sempre tomou decisões com muita leveza e bom humor. Misturava serenidade e alegria na sua ação, e isso me encantou”, diz Paulo, que conheceu Flávio ainda na escola, mas de quem se aproximou mesmo quando passaram a conviver juntos na FEAC. 

O otimismo e o comprometimento, por sinal, eram uma característica que carregou por toda sua longa carreira no terceiro setor, exaltada também por seus colegas do passado.  

“Flávio era alegre, sorridente e sempre preocupado com as causas daqueles que precisavam. Foi essencial para a Adacamp [Associação para o Desenvolvimento dos Autistas em Campinas] estar onde hoje se encontra”, aponta Camilo Paes de Barros, atual presidente da instituição na qual Flávio atuou por 20 anos a partir de 1996, e que presidiu por dois mandatos seguidos, entre 2000 e 2004. 

Apesar de exercer o mais alto cargo executivo da FEAC, Flávio nunca deixou de ir onde existiam vulnerabilidades. E sempre o fez não apontando o que havia ali de negativo, e sim ressaltando o que havia de potencial.  

Celina Dias, atual presidente do Conselho das Entidades Filiadas da FEAC, órgão que reúne organizações da sociedade civil que atuam nos territórios e que são parceiras da fundação, se recorda de que Flávio “sempre fazia visitas às entidades das regiões mais vulneráveis para conhecê-las e saber como estava seu relacionamento com a FEAC”. Segundo ela, isso fazia com que as organizações se sentissem valorizadas e parte do trabalho da fundação. “Ele sempre olhava para o lado positivo das coisas”, frisa. 

Como ressalta Darcy Pádua, decano do Conselho Curador da FEAC, “todos os que conviveram com Flávio reconhecem a sua grande capacidade de orientar e dirigir, condições aliadas à sua forma peculiar de tratamento e relacionamento com pessoas, especialmente as mais humildes e necessitadas”. 

Foi com esse olhar atento que Flávio levou a Apae de Campinas, que ele presidiu entre 1986 e 1990, a uma atuação pioneira pela inclusão produtiva de pessoas com deficiência. 

“Dinâmico e visionário, logo percebeu a importância de concretizar um sonho por muito tempo almejado pelos fundadores da Apae: a inclusão da pessoa com deficiência intelectual no mundo do trabalho. Não mediu esforços e trouxe para dentro da instituição uma parceria com uma multinacional”, conta a coordenadora pedagógica da instituição, Eliane de Fátima Trevisan Nogueira. 

A capacidade analítica só foi refinada com o tempo. Em 2020, no início da pandemia, o presidente da diretoria executiva logo percebeu quais seriam algumas das principais consequências da crise sanitária, e colocou a si e a FEAC a serviço do combate a esses gravíssimos problemas. 

“Nos últimos dois anos, Flávio estava muito preocupado com o agravamento das vulnerabilidades sociais, principalmente com a fome e a perda da renda e da empregabilidade. Ele esteve pessoalmente envolvido, buscando apoio e parcerias com os contatos dele, para que desenvolvêssemos o Mobiliza Campinas. O combate à fome era muito importante para ele. Também estava acompanhando de maneira próxima os projetos de empreendedorismo”, lembra-se Jair Resende, superintendente socioeducativo da FEAC. 

Essa prontidão em agir para amenizar os efeitos da pandemia também é lembrada pelo prefeito de Campinas, Dário Saadi: “Quando assumiu a presidência da diretoria executiva, em 2019, não demorou muito para encarar essa assustadora pandemia e mais uma vez demonstrou sua capacidade para, rapidamente, ser um grande aliado nessa guerra à Covid-19. Em março de 2020, a FEAC já estava ajudando 5 mil famílias.” 

Vandecleya Moro, secretária municipal de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos de Campinas, afirma, por sua vez, que Flávio “era um humanista e quando o assunto era ajudar ao próximo, nada o detinha. Era um homem de palavras inspiradoras e ações repletas de espírito fraterno”. 

Nas falas aqui compiladas, nos lamentos em redes sociais, nas notícias de jornais ou nas notas de condolências, o retrato que se constrói de Flávio Eduardo Lopes é o de um homem de ação que nunca deixou de agir com ternura mesmo diante dos desafios mais difíceis, das situações mais graves. 

Por isso, as palavras de Darcy Pádua, do conselho da FEAC, resumem tão bem a sensação de todos: “Deixamos registrados nossos sentimentos de perda e, ao mesmo tempo, nossa gratidão pelo período de convivência.”