(Por Laura Gonçalves)

Nas salas de aula da Casa da Criança Madre Anastácia, entidade parceira da Fundação FEAC, todos os alunos participam das brincadeiras e atividades e a inclusão é vista com respeito. A creche, que atende mais de 270 crianças do bairro Vida Nova, em Campinas/SP, tem como desafio transformar a escola num espaço para todos.

Para trabalhar com crianças com algum tipo de deficiência, a creche decidiu não criar um projeto especialmente dedicado a esses alunos, e sim inclui-los no projeto institucional que considera a todos, sem distinção. O trabalho em cada turma é feito de forma específica e há um olhar para as dificuldades das crianças. O objetivo é que os alunos aprendam a conviver com as diferenças e se tornem cidadãos solidários.

Na instituição, a educação especial é entendida como a modalidade de ensino que tem como objetivo quebrar as barreiras que impedem a criança de exercer a sua cidadania. Lá, o atendimento especializado é apenas um complemento do ensino, e não substituto.

O trabalho não é feito apenas individualmente. “Como nosso projeto é inclusivo, eu gosto de ficar na sala de aula, observando como é o comportamento dessa criança na turma, com seus professores e monitores. Também proponho atividades, que são adaptadas para toda a turma, para que essas crianças sejam contempladas. Desta forma, a integração é maior e eu ainda observo a dificuldade da criança em específico e também de outros alunos, eventualmente”, explicou a professora de educação especial, Camila Possari.

Desta forma, a educação inclusiva significa educar todas as crianças em um mesmo contexto escolar. Com a inclusão, as diferenças não são vistas como problemas, mas como diversidade. E essa variedade acaba ampliando a visão de mundo e desenvolvendo oportunidades de convivência a todas as crianças.

Segundo Camila, cada turma tem um planejamento diferente e com a observação em sala de aula é possível detectar as dificuldades de todos os alunos. “Nem todas as crianças com algum tipo de deficiência frequentam outras instituições e contam com atendimento específico. Então, eu procuro também fazer um atendimento especializado com essas crianças”, disse.

Para a professora é preciso favorecer a diversidade, uma vez que ela considera que todos os alunos podem ter necessidades especiais em algum momento de sua vida escolar. “Procuramos incluir sempre, mas alguns dias da semana os alunos que apresentam alguma deficiência contam com o atendimento especializado. Eles fazem exercícios de atividades motoras, leitura, participam de jogos e brincadeiras específicas”, ressaltou.

Ela explica que muitas vezes, esses alunos são chamados com os colegas, visando um atendimento mais descontraído. “É necessário criar o vínculo com a criança. A partir dessa confiança criada, o trabalho flui melhor. É preciso que esse atendimento individualizado seja tranquilo e significativo, por isso também procuro envolver os outros professores”, relatou.

De acordo com a assessora técnica do programa Primeira Infância em Foco, da Fundação FEAC, Adriana Nunes Silva, a Casa da Criança Madre Anastácia sempre respeitou e valorizou as características individuais de cada criança. Assim sendo, os pequenos são inseridos no contexto diário com muita naturalidade.

“Os profissionais conseguem caracterizar e montar em suas turmas grupos intencionais de colaboração. Reconhecer os potenciais em sala de aula e não querer que todos tenham o mesmo nível de competência ou habilidade intelectual deve ser uma das metas do educador. Cada um deve ser estimulado a participar, realizando aquilo que é capaz”, esclareceu a assessora.

Além disso, todos os profissionais se envolvem com as atividades propostas nos espaços de convívio. “A integração é fantástica e essas atividades são incorporadas ao planejamento para que as crianças possam vivenciá-las com frequência. Incluir as atividades na rotina é não fazer com que ela vire apenas um evento, é mostrar que a diferença está presente”, concluiu Adriana.

Ações

A creche também trabalha com o desenvolvimento da equipe e com a comunicação com as famílias das crianças.

“Na 1ª edição do programa Primeira Infância em Foco, conseguimos contratar uma formadora para potencializar o que vinha sendo desenvolvido na creche. A intenção era fortalecer toda a equipe e não apenas o professor de educação especial. A pedagoga Luciana Cury falou sobre o trabalho das pessoas com inclusão, que exige uma escolha pessoal de atitude para tornar o objetivo possível”, esclareceu Adriana.

O contato com as famílias também é imprescindível para o sucesso do trabalho desenvolvido na creche. “Desde que participamos do programa Primeira Infância em Foco, percebemos a importância de trazer os pais para perto de nós. E isso ainda se torna mais essencial quando falamos das famílias dos alunos com alguma deficiência”, constatou a diretora da instituição, irmã Rosane Dallagnol.

Desta forma, a professora Camila procura reunir-se com os familiares e orientá-los sobre os caminhos a serem seguidos. “Muitos pais não se dão conta das dificuldades de seus filhos ou não sabem onde procurar ajuda especializada. Então nós encaminhamos essa família para uma instituição”, contou.

O pequeno Isaac, de 5 anos, já frequenta a Casa da Criança Paralítica – entidade parceira da Fundação FEAC – e apresenta melhoras no desenvolvimento motor. “Eu procuro conversar com o fisioterapeuta da instituição para que possamos desenvolver um trabalho conjunto. Isso traz benefícios para o pequeno. Essa união família, escola e instituição só traz benefícios”, garantiu a professora.

Valores

Na Creche Madre Anastácia, as salas de aulas recebem nomes relacionados a valores de convivências como Amor, Carinho, Alegria, Bondade, Coragem, Respeito, Amizade, Confiança, Esperança e Sabedoria. E esses valores são trabalhados com todas as crianças.

“As crianças são muito receptivas, aceitam e interagem com todos os alunos que apresentam algum tipo de deficiência, mas mesmo assim não deixamos de trabalhar esses valores”, afirmou a professora.

“Educar requer dedicação, principalmente para ensinar valores importantes como respeito ao próximo. A inclusão é isso e todos ganham com esse exercício de tolerância e respeito”, finalizou a coordenadora pedagógica, Fabiana Masson.