Quais transformações você quer ver na sua cidade? Você se sente representado ou representada nas políticas públicas dirigidas aos jovens? Qual é o futuro que deseja para as diversas juventudes? Questões como essas nortearam a 4ª Conferência Regional da Juventude da Macrorregião de Campinas, realizada em setembro.
O encontro reuniu mais de 200 jovens representando 80 diferentes agremiações, coletivos e organizações de diversas cidades da região. Eles discutiram suas prioridades e atualizaram a agenda de políticas voltadas às juventudes nos municípios, estado e país. Adolescentes a partir de 15 anos tiveram direito à voz e ao voto (confira entrevista com dois jovens abaixo).
As discussões resultaram na aprovação de 36 propostas de políticas públicas, que agora serão encaminhadas ao governo do Estado de São Paulo e à Assembleia Legislativa (Alesp). As propostas abrangem diversas áreas de interesse das juventudes e refletem as prioridades e necessidades apontadas no encontro. A conferência também elegeu 141 delegados que representarão a região na etapa estadual, que acontece no final de novembro na cidade de Olímpia (SP).
“A questão da participação social, para além das aspirações, das necessidades individuais, é uma experiência em que o jovem vai poder discutir as necessidades do coletivo. Pensando na cidade como um todo, pensando na região, pensando no estado. É um grande aprendizado”, diz Felipe Gonçalves da Silva, gestor da Coordenadoria de Políticas para a Juventude, da Prefeitura de Campinas.
FEAC integra a Comissão Organizadora da conferência
A conferência foi organizada pela Prefeitura de Campinas, por meio da Secretaria de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos e da Coordenadoria da Juventude; Conselho Municipal da Juventude; e Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo. A Fundação FEAC é integrante da Comissão Organizadora da Conferência Regional (Core), responsável pela realização do evento.
A FEAC também apoia a Organização da Sociedade Civil (OSC) Ozipa Criativa, que desenvolveu a campanha de comunicação da conferência, e se juntou à OSC Minha Campinas para mobilizar as juventudes da cidade.
“A conferência é um marco para a mobilização e participação social e política das juventudes de Campinas. Especialmente as juventudes periféricas, para que suas vozes, necessidades e potencialidades sejam consideradas na pauta do poder público e orientem as ações da sociedade civil organizada e do Investimento Social Privado”, fala Rodrigo Correia, coordenador do Programa Juventudes, da FEAC.
Última Conferência Nacional aconteceu há oito anos
As conferências regionais e estadual servirão como base para guiar os debates da 4ª Conferência Nacional da Juventude, prevista para os dias 14 e 17 de dezembro. O encontro nacional, que acontecerá em Brasília, tem como tema “Reconstruir no presente, construir o futuro: desenvolvimento, direitos, participação e bem viver”.
A última Conferência Nacional da Juventude foi realizada há oito anos, em 2015. Neste intervalo de tempo, o país assistiu à descontinuidade de políticas públicas e programas destinados às juventudes. Por isso, a conferência vem sendo vista como uma retomada.
“Eu acredito que é uma reconstrução da política de juventude que foi apagada a nível nacional nos últimos anos. Esse movimento de juventudes em todo o Brasil é importante para retomar também a agenda da juventude no governo federal para que a gente tenha políticas nacionais de juventude mais consistentes e mais duradouras”, destaca Felipe Gonçalves da Silva.
Direito à educação, renda, saúde, cultura, igualdade…
Os jovens participantes da 4ª Conferência Regional da Juventude promoveram debates a partir de 12 eixos, divididos em oito grupos. Os eixos foram baseados nas diretrizes do Estatuto da Juventude e da 4ª Conferência Nacional da Juventude. Envolvem o direito a:
- Cidadania, participação social e política e representação juvenil.
- Educação.
- Profissionalização, renda e trabalho.
- Diversidade e igualdade; comunicação e liberdade de expressão.
- Saúde.
- Cultura, desporto e lazer.
- Sustentabilidade e mobilidade.
- Segurança pública e acesso à Justiça.
Entre os assuntos que tiveram destaque na conferência estão o modelo de educação do Novo Ensino Médio, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, com sua Agenda 2030, e as oportunidades de profissionalização e trabalho.
Também fizeram parte da programação apresentações culturais. Os jovens da OSC Grupo Primavera abriram o evento com uma dança de hip-hop e, após o intervalo para almoço, alunos da Escola Estadual Culto à Ciência declamaram poesia slam, um tipo de poesia falada que versa sobre questões sociais.
Falam as juventudes: você tem fome de quê?
Para falar sobre a importância do envolvimento das juventudes na política e na 4ª Conferência Regional da Juventude, a Fundação FEAC conversou com dois integrantes do Projeto Pega a Visão, grupo formado por jovens interessados em política, cidadania e garantia de direitos. O projeto teve participação ativa na conferência e tem o apoio do Programa Juventudes, da FEAC.
“Meu sonho é que todos tenham acesso a um sistema de saúde decente e à educação superior, onde a classe social não importa, nem a cor, religião ou orientação sexual”, diz Hellen da Silva Santos, 16 anos.
Já Carlos Daniel de Souza Macedo, 17 anos, destacou que a conferência abre espaço para participação direta dos jovens e, por isso, é um canal muito importante. “Quero que a juventude se fortaleça e nossa voz seja ouvida”, defende. Hellen e Carlos participaram da conferência e contam um pouco de sua visão. Confira o bate-papo:
Como foi participar da 4ª Conferência Regional da Juventude?
Carlos – Foi muito legal! Principalmente porque o pessoal do projeto Pega a Visão conduziu o eixo de participação social e política. É um desafio porque esse eixo dialoga com todos os outros eixos, de educação, de saúde, de acessibilidade… Então houve uma demanda muito grande, de muitos assuntos, muitos debates. Foi gratificante.
Hellen – A experiência foi marcante para mim. Ver quantas coisas ainda devem ser mudadas para melhorar o país.
Perceber que muitos direitos não são respeitados é muito ruim, mas foi importante ver tantos jovens engajados para mudar as realidades do nosso país. Realidades como a minha, uma jovem de periferia que até bem pouco tempo não falava em direitos. Aliás, eu nem sabia que tínhamos direitos.
Por que as conferências regional, estadual e nacional são importantes para as juventudes do Brasil?
Carlos –É por meio desses espaços de construção de política pública que nós temos acesso a informações e conseguimos opinar, votar… Enfim, fazer com que a nossa voz seja ouvida.
Hellen – Porque nós temos direito como cidadãos de opinar sobre decisões que irão influenciar o nosso presente e futuro. A representação jovem é importante porque nós estamos vivendo a educação e a saúde agora, hoje, então sabemos o que precisa mudar para que no futuro os jovens não sofram o que nós atualmente sofremos.
Qual o futuro que você quer para os jovens do Brasil?
Carlos – Eu quero que a juventude tenha muito mais acesso a seus direitos do que tem hoje. Tenho certeza de que esse país precisa da juventude para se erguer.
Hellen – Eu sonho com um futuro melhor no qual todos os jovens possam ter participação política, poder de fala e decisão sobre leis e cargos. Que todos tenham acesso a um sistema de saúde decente onde a classe social não importe, nem a cor, religião ou orientação sexual.
Acesso à educação superior com faculdades acessíveis para todos, incluindo jovens com deficiência. Um país com jovens capacitados para a formação que desejam seguir e sem problemas com os materiais que precisam para estudar e nenhum custo para viver o básico.
Por que você decidiu participar do Projeto Pega a Visão? Como está sendo sua experiência?
Carlos – Eu comecei a participar do Projeto Pega a Visão porque os tópicos apresentados lá sobre os direitos dos jovens na sociedade chamaram a minha atenção. Aprendi a participar socialmente de eventos políticos.
Hellen – Meus amigos falavam sobre direitos dos jovens, que tínhamos o poder de mudar o país, o mundo, mesmo vindo de bairros periféricos, onde não temos direito nem à educação básica. Eu quis participar do projeto com o intuito de saber como seria isso.
Aprendi o que são as políticas públicas e quais são os direitos dos jovens e que mesmo sendo uma adolescente de 16 anos, eu tenho lugar de fala, tenho direitos e posso lutar por eles.
Por que a juventude deve se engajar nas demandas sociais do país?
Carlos – Essa é uma pergunta difícil, mas acho que a resposta está justamente nessa consciência social e política, que pode ser uma arma do bem para que os jovens consigam entender as suas realidades, e que, através disso, promovam transformação social.
Hellen – Porque somos o futuro. Somos nós que vamos mudar o país e precisamos saber como fazer política, a maneira certa, para não cometermos os mesmos erros do passado. A nossa participação é essencial para mudar a crua realidade, com discriminação, por conta do racismo, e violência.
FEAC apoia projetos que incentivam participação política das juventudes |
Engajar as juventudes em ações de política e cidadania é um dos propósitos da Fundação FEAC. Esse incentivo se dá por meio do apoio a projetos que estimulam o protagonismo dos jovens, como o Projeto Pega a Visão.
O projeto é realizado pela OSC Projeto Gente Nova (Progen) e convida jovens para desenvolver uma educação política. São 11 encontros que têm como base o Estatuto da Juventude e promovem ações reflexivas e de conscientização sobre direitos, democracia, acesso à informação e tipos de atuação. Os jovens também têm a chance de construir um projeto que pode envolver temas da juventude como identidade, empreendedorismo, direitos e participação social e política. A segunda turma do Pega a Visão tem previsão para começar ainda neste segundo semestre do ano. Podem participar jovens com idade entre 15 e 18 anos. Outro exemplo de iniciativa apoiada pela FEAC que também mobiliza a participação das juventudes na política é o Projeto Política Jovem, da Minha Campinas. Ele nasceu a partir da falta de representatividade de jovens na esfera política e da ausência de políticas públicas que atendem as juventudes. Ao longo do projeto foram realizadas várias ações como a campanha a Cada Voto Conta Campinas que resultou no aumento de emissão do título de eleitor entre os jovens em 2022. Outro exemplo é a campanha Escola sem Assédio, que buscou garantir a implementação e aprovação do projeto de lei sobre prevenção e atuação frente ao assédio moral e sexual e à importunação sexual nas escolas em Campinas. A campanha deu origem ao coletivo Voz da Juventude. Neste ano os membros do Política Jovem também organizaram uma campanha de incidência sobre a Lei Paulo Gustavo para que o edital de chamamento de projetos priorizasse o público jovem. Conheça mais sobre o projeto assistindo ao vídeo abaixo. |