(Por Ingrid Vogl)

Julho é tradicionalmente o período de férias escolares para alunos e professores. Mas nas escolas de educação infantil, as atividades não param para as monitoras, que durante algumas semanas deixam de auxiliar nas atividades desenvolvidas dentro da escola e passam a desempenhar o papel de protagonistas do desenvolvimento integral na primeira infância.

Neste período, as monitoras do Centro de Formação Semente da Vida, entidade parceira da Fundação FEAC que atende 137 crianças de 0 a 5 anos e 11 meses, são as responsáveis por, semanalmente, elaborarem o planejamento das atividades que são desenvolvidas com as crianças. O desafio é selecionar e propor ações que atendam as diferentes idades – que vão dos 0 aos 3 anos de idade neste caso – e que estejam focadas na intencionalidade do processo educativo nas atividades desenvolvidas pelos educadores.

A aplicação da intencionalidade educativa nas vivências da criança na escola já vem sendo trabalhada pelo programa Primeira Infância em Foco (PIF), do qual a Semente da Vida faz parte, e que é promovido pelo Departamento de Educação da Fundação FEAC. O que se pretende é olhar para as necessidades da criança e identificar o que é preciso para seu pleno desenvolvimento, como preconiza a Base Nacional Comum Curricular.

“Temos que parar com o pensamento da hierarquização exacerbada entre professoras e monitoras. Essa dicotomia de que o professor educa e o monitor cuida precisa ser quebrada e é uma luta constante. Alguns docentes ainda enxergam que só estão trabalhando com o desenvolvimento cognitivo da criança e esquecem que a integralidade do desenvolvimento infantil também envolve dar banho, alimentar. Tudo isso é educar”, analisou Valéria Penha Oliveira Ruggeri, diretora educacional da Semente da Vida.

Planejamento

Na escola de educação infantil Semente da Vida, o planejamento das atividades com as crianças durante as férias pelas monitoras é incentivado e valorizado, sempre com a orientação da equipe gestora. Segundo Valéria, não se pode pensar que somente professores têm a capacidade de promover atividades educativas ou pedagógicas.

“Nesse momento de férias em que as monitoras estão aqui, elas passam pela necessidade de planejar as ações, que sempre são intencionais e dedicadas a essas crianças que estão aqui. Para criar as atividades, elas levam em consideração a diversidade de necessidades das crianças, sem deixar de lado a intenção pedagógica, sempre com nossa supervisão”, explicou a diretora.

Outro diferencial do planejamento no período de férias é o trabalho em grupo e o contato direto com a gestão da escola, o que facilita a troca de ideias sempre com propostas variadas de vivências que podem ser exploradas e também o esclarecimento de dúvidas e orientações. O foco é sempre no desenvolvimento da criança como um todo: desde pensar no simbólico, até o artístico.

“Esse grupo está ávido para trabalhar, porque no período letivo ele é corresponsável pelas atividades. Mas agora, as monitoras se sentem muito à vontade e motivadas para fazer o planejamento do trabalho com a primeira infância. É muito bacana ver como elas conduzem as propostas e como neste período entre o primeiro e o segundo semestre, as crianças apresentam um salto em seu desenvolvimento”, pontuou Valéria.

Para Juliana Pedro da Silva Bernardelli, que há oito anos é monitora e está na Semente da Vida há um ano, a dinâmica de trabalho na entidade é uma novidade enriquecedora. “Está sendo maravilhoso porque estamos aprendendo bastante, sempre com a supervisão da Valéria. Pesquisamos e trazemos ideias que ainda recebem a contribuição da gestão. Estamos trazendo atividades com propostas inovadoras, que normalmente não são aplicadas ao longo do ano letivo e deixando que as crianças tenham liberdade para se descobrirem com muitas possibilidades.  O resultado é que elas estão se divertindo e nós mais ainda. É muito gratificante se sentir protagonista do desenvolvimento desses pequenos”, disse.

Estratégias

Enquanto no período letivo as atividades estão previstas dentro de um projeto pedagógico, durante as férias elas são mais abertas, flexíveis e livres. Isto porque o número de alunos é menor e há uma diversidade de idades e, portanto, o trabalho é mais voltado para o dia a dia das turmas.

Outra estratégia praticada na Semente da Vida é a troca de turmas entre as monitoras, o que acaba ocasionando uma rica experiência para as educadoras. O fato da escola receber poucas crianças durante as férias – de 15 a 20 por dia, o que equivale a um terço das crianças de 0 a 3 anos matriculadas – também possibilita que os grupos com os pequenos fiquem integrados e façam atividades em um mesmo espaço que não necessariamente já tenham experimentado anteriormente, devido à separação das turmas no período letivo. Esta vivência entre crianças de diferentes idades também contribui para o desenvolvimento infantil, já que os menores costumam se espelhar nas crianças mais velhas e assim, dão rápidas respostas de desenvolvimento.

Para Vera Lúcia de Souza Petta, monitora, o trabalho conjunto é o grande diferencial do planejamento.  “Outra novidade é a troca de turmas das quais somos responsáveis no período letivo. A gente pensa sempre com foco no que aquela determinada ação vai impactar e desenvolver na criança, se cabe aplicá-la para aquela determinada idade etc. Tudo é muito bem pensado pela equipe”, disse.

Ao mesmo tempo que a atividade planejada e desenvolvida no período de férias é essencial para a exploração das práticas pedagógicas das educadoras, por outro lado é preciso um acompanhamento constante dessas profissionais em sala de aula, além de oportunizar novos conhecimentos.

Na análise de Adriana Nunes da Silva, assessora técnica do PIF, o monitor é um profissional fundamental na educação infantil, responsável por acompanhar as crianças diariamente, contribuindo com o desenvolvimento de práticas educativas do cuidar e educar.

Ser incluído não só na rotina escolar, mas também nas formações e reuniões pedagógicas, faz com que em seu contato constante com toda equipe, ele tenha mais oportunidades, tanto de aprendizado como de compartilhar informações, principalmente, sobre o desenvolvimento da criança que acompanha.

São esses profissionais que complementam o trabalho do professor no dia a dia, colaborando com atividades dentro e fora da sala de aula, e durante o mês de julho, período em que os professores estão em férias, planejando e desenvolvendo atividades lúdicas para as crianças da creche.

“A creche já tem um clima contagiante, mas durante este período ele se intensifica. Com muita alegria, as monitoras se unem e se empenham em fazer o melhor para as crianças. O encantamento é geral, pois elas assumem uma postura investigativa de profissional e consideram as crianças protagonistas, criadoras e inventoras, ao utilizarem práticas educativas voltadas para a infância, para o brincar”, avaliou.

Saiba mais sobre a Semente da Vida: sementedavida.org.br