(Por Laura Gonçalves)

Alguns minutos antes do início da Oficina de Artes oferecida pelo Movimento Assistencial Espírita (MAE) Maria Rosa, todos os jovens esperam ansiosos para colocarem a mão na massa. O motivo é que a aula vai além da educação artística e estimula os adolescentes a pensarem como se fossem funcionários de uma empresa. Lá, quem chega atrasado recebe até uma ‘multa’.

Cerca de 40 jovens, com idade entre 12 e 19 anos, já entenderam que o negócio é sério e, por isso, seguem as regras direitinho. E nessa brincadeira a oficina da instituição, parceira da Fundação FEAC, trabalha com a prevenção de situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades, aquisições de conhecimento e do fortalecimento de vínculos familiares.

“Nosso objetivo é ir além do espaço de convivência. Queremos que os participantes conheçam o mundo corporativo de alguma forma, que saibam de algumas regras empresariais e vivenciem isso aqui. É aprender a se comportar, a ganhar, guardar, usar o que têm com responsabilidade. Isso faz com que eles cresçam e conheçam seus direitos e deveres”, explicou o responsável pela oficina Nelson de Souza.

Como iniciativa socioeducativa, a arte ainda atua como instrumento de integração dos jovens. “Não é somente estar entre pinceis e tintas.  Acreditamos na habilidade desses meninos e essa é mais uma maneira deles se desenvolverem”, explicou a assistente social Kelly Cristina Parro da Silva.

A autoestima também é trabalhada na instituição. “Queremos formar adultos criativos, proativos, seguros, com habilidades e competências que propiciem a atuação social e a inserção no mercado de trabalho. Nossa intenção é promover o desenvolvimento pessoal e social deles”, enfatizou a presidente da instituição, Celina Dias.

E além da criação e da arte, o trabalho desenvolvido ainda incentiva a liberdade de expressão como caminho para o desenvolvimento do potencial criativo e intelectual dos adolescentes. “Mais do que arte, a oficina é também um meio para os jovens exercerem a cidadania e aprenderem a reutilizar materiais e serem também responsáveis”, informou Nelson.

De acordo com a assessora técnica do departamento de Assistência Social da Fundação FEAC, Nadir Semenzin Braga, a arte pode ser um importante catalisador do desenvolvimento humano, tanto no campo da educação escolar como ferramenta para a educação profissional, tendo dessa forma uma função de complementaridade.

“As atividades artísticas oferecidas pela instituição demonstram os desafios que transcendem o fazer artístico. Há o trabalho em equipe; a abertura a novas perspectivas distintas diante do trabalho e da vida; a busca por formas inovadoras de aprender e ensinar; e a ponte entre o aprendizado artístico e o mundo do trabalho. Em todos esses desafios a posição da arte-educação deverá ser ampla, profunda e corajosamente utilizada”, complementou a assessora.

Dinheiro social

Como uma empresa, a Oficina de Artes também tem seus funcionários, com cargos e funções. “Os cargos principais são de encarregado, contador e fiscal. Esses três escolhem os responsáveis pelo departamento de limpeza, os organizadores, os auxiliares e os corretores de investimento. Também temos auditor fiscal e operador de recebimento, responsável pela conferência do imposto de renda”, informou o estudante Giovane Pissuti, que já frequentou a oficina por 7 anos e atualmente é voluntário na instituição.

De acordo com Giovane, os atendidos vendem os materiais reciclados utilizados nas aulas e desta forma já começam a ganhar o dinheiro social, chamado de Cent. Outra maneira de ‘enriquecer’ é trabalhando nos cargos disponíveis. A partir daí eles começam a ter noção do dinheiro social e podem ‘comprar’ os materiais que serão utilizados na confecção das obras de arte. Também podem gastar seus Cents no final do ano com o leilão das peças produzidas ao longo do ano.

E mais que o aprendizado das artes, os adolescentes e jovens acabam desenvolvendo habilidades matemáticas. “Frequento a oficina de artes faz muito tempo e tenho certeza que aprendi muito aqui. Hoje me comunico melhor e sei lidar com números. Esse dinheiro social nos ensina a poupar e a gastar com moderação”, explicou Richard Douglas da Cruz.

O fortalecimento de vínculos também está presente. Os adolescentes acabam tendo noção do dinheiro, dão valor ao que ganham fora daqui, pois muitos já têm algum tipo de renda, e aprendem a gastar com responsabilidade. Isso é refletido na economia do lar”, acrescentou Kelly.

João Gustavo de Carvalho, 17 anos, frequenta a oficina há 3 anos e acredita que o que vem aprendendo faz toda a diferença. “Além da disciplina, aprendi a ter noção do dinheiro fora daqui. Já dou aulas de violão e com o que ganho já comprei uma aliança de compromisso para a minha namorada e até ajudo financeiramente em casa”, assegurou.

 

Saiba mais: www.maemariarosa.org.br