Para ter um impacto social realmente efetivo, uma organização da sociedade civil (OSC) precisa planejar bem as diversas etapas de seu projeto, criando, por exemplo, um plano de ação bem estruturado e definindo indicadores de avaliação. O AcelerAÇÃO, parceria entre a Fundação FEAC e a ASID – que trabalha com inclusão de pessoas com deficiência –, nasceu justamente para propiciar o aprimoramento das  organizações no desenho de propostas de intervenção, além de criar um espaço para troca de boas práticas entre os participantes.

Ao todo, 16 organizações parceiras do Programa Mobilização para Autonomia (MOB), da FEAC, passaram por 56 horas de capacitação virtual entre dezembro de 2020 e março de 2021. A formação foi dividida em seis módulos: estruturação de projetos, mensuração de impacto, inovação social, sustentabilidade, gerenciamento de projetos e captação de recursos.  

“Acreditamos que, através de capacitações, treinamentos e estudos, a equipe da organização se torna mais confiante para desenvolver e colocar em prática iniciativas mais inovadoras e impactantes e, assim, seu beneficiário terá um maior desenvolvimento”, explica Caroline Ferronato, coordenadora de projetos da ASID.  

Diagnóstico 

As organizações participantes receberam um diagnóstico inicial da ASID e atendimentos individuais para apoio na escrita dos projetos. Após a capacitação, foi realizada uma nova avaliação para verificar o  desenvolvimento. Levando em conta uma série de métricas, foi identificada um crescimento médio de 26,5% das organizações participantes.

Além das aulas, as OSC contaram ainda com acompanhamento para o desenvolvimento de 11 projetos com foco nas pessoas com deficiência, que serão executados, a partir deste ano, em parceria com a FEAC. 

Apresentar um novo projeto propicia muita reflexão. A gente vê como é importante buscar a real demanda e fazer pesquisa, colocar o usuário junto, para que ele possa participar e ter governança nesse processo. É preciso ouvir a pessoa lá na ponta, saber qual é o problema, para aí propor as estratégias e soluções”, diz Regiane Fayan, líder do MOB, da FEAC. 

Um processo tão rico que, após a capacitação, oito dos 11 projetos foram selecionados em um edital aberto pela FEAC no começo de 2021, e receberão apoio financeiro e acompanhamento da equipe técnica da Fundação por um ano.  

Pró-Visão, que trabalha com pessoas com deficiência visual, foi uma das selecionadasSeu projeto tem como objetivo  proporcionar condições para o enfrentamento de dificuldades de mobilidade, oferecendo, por exemplo, apoio psicológico, evitando assim isolamento, sedentarismo, acidentes e perda da qualidade de vida em geral para as pessoas com deficiência visual. 

“Existe uma preocupação com a capacitação contínua dos nossos profissionais, e esse curso trouxe a discussão sobre a adequação da escrita para projetos desafiadores, com atualizações que o terceiro setor requer”, analisa Maria Cecília Saragiotto, coordenadora técnica da Pró-Visão. 

Projetos na pandemia 

Desenvolver e executar projetos durante a pandemia de Covid-19 é um desafio para as OSC. “Estávamos trabalhando para uma sociedade para todos, para esse processo inclusivo, e de repente vem uma pandemia e todo mundo tem que se isolar. E aquela pessoa, que a gente trabalhou para que saísse do isolamento, também precisa se isolar novamente”, analisa Regiane, da FEAC. 

Uma solução proposta pelas organizações que participaram do AcelerAÇÃO, que foi colocada em prática, é o planejamento de projetos para serem executados à distância ou no esquema híbrido.

“[As pessoas com deficiência] não podem ser invisíveis. Então, como que esses projetos podem propiciar que você olhe para elas, que você cuide delas. Muitos dos projetos foram construídos junto às pessoas com deficiência e isso é muito significativo

Regiane Fayan, líder do Programa Mobilização pela Autonomia


 

O Centro Infantil Boldrini, uma das organizações participantes, é especializado em oncologia e possui uma unidade de reabilitação para pessoas com severas incapacidades motoras.  Apresentou um projeto para continuar o atendimento, à distância, que seus pacientes tanto precisam  

“Vamos utilizar a tecnologia digital para proporcionar o fortalecimento do paciente, dando prosseguimento à aplicação dos recursos terapêuticos que impedem as sequelas impostas pelo distanciamento”, diz Katia Cappellaro, coordenadora da assistência do centro de reabilitação 

Para o projeto da Pró-Visão, voltado a pessoas com deficiência visual, também foram incluídos atendimentos à distância, por ligações e vídeo. ideia é que o projeto seja híbrido, até que tudo se normalize.  

Foi virtual também a cerimônia de encerramento do AcelerAÇÃO, em 22 de abril. Feita para comemorar o final de um ciclo, também marcou o início de outro, no qual todos saíram fortalecidos e preparados para propiciar um impacto maior para as pessoas com deficiência. 

Cerimônia de encerramento do AcelerAÇÃO, que qualificou 16 OSC (Imagem: Caroline Ferronato/ASID)

Por Laíza Castanhari