De 7 a 18 de setembro, os olhos dos quatro continentes estarão voltados para o Brasil. E não é só porque as Paralimpíadas serão realizadas na cidade do Rio de Janeiro, mas os paraatletas brasileiros também são estrelas desta competição.
O Brasil vem se tornando uma potência mundial no paradesporto olímpico. A evolução teve sua explosão a partir dos jogos de Sydney em 2000 quando os atletas conquistaram 22 medalhas. Três Paralimpíadas depois, em 2012, em Londres, o número de medalhas quase ao dobro.
Em 6 de julho de 2015, foi sancionada pela Presidência da República a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), que ampliou de 2% para 2,7% da arrecadação dos concursos de prognósticos e loterias federais. Além de mudar o percentual que antes era de 85% para o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e 15% para o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), passou a vigorar a destinação de 62,96% e 37,04%, respectivamente. Entre 2007 e 2014, o total de repasses ao CPB chegou a R$ 210 milhões, com a vigência da LBI.
Com a nova lei, o esporte paralímpico atinge um novo patamar de recursos financeiros, com um aumento estimado de R$ 90 milhões anuais. Segundo Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, com a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, a arrecadação de R$ 39 milhões da Lei Agnelo/Piva, passou para R$ 130 milhões.
Segundo o Comitê Paralímpico Brasileiro, vinte modalidades fazem parte do quadro de competições oficiais do Comitê Paralímpico Internacional (IPC). São elas: atletismo, basquete, bocha, ciclismo, esgrima, futebol de cinco, futebol de sete, goalball, halterofilismo, hipismo, judô, natação, remo, rugby, tênis, tênis de mesa, tiro com arco, tiro esportivo, vela e voleibol. São 4.350 paraatletas de 179 países. E nesse cenário está a cidade de Campinas com 50 atletas paralímpicos dedicados a diversas modalidades.
Paradesporto em Campinas
Desde a década de 90, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) foi tomada pela discussão acerca do esporte de rendimento. Com isso se construiu um arcabouço teórico com pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e da PUC-Campinas para se chegar ao ideal de como receber a pessoa com deficiência na prática esportiva de rendimento.
A Unicamp é hoje referência na produção intelectual em relação a este tema. É o ambiente acadêmico que mais forma doutores e mestres sobre a temática Esporte para Pessoas com Deficiência.
Segundo Luiz Marcelo Ribeiro Luz, mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas e especialista em Educação Física Adaptada, há na cidade entidades como a Gadecamp, Adeacamp, Associação Paralímpica de Campinas e Gigantes que ofertam uma gama de esportes de rendimento para pessoas com deficiência. Entre as modalidades, natação, atletismo, handebol, rugby, esgrima, basquete e parabadminton.
“Essa conjunção de esporte é inteligente, porque não gera uma competitividade entre as entidades. E assim oferta a possibilidade de escolha para as pessoas com deficiência que desejam seguir o caminho do esporte”, comemora Luiz Marcelo.
Cada modalidade tem uma especificidade de atendimento. O basquetebol trabalha com pessoas com lesão medular e amputados. O rugby e o parabadminton com atletas que têm tetraplegia ou amputações e deformações de quatro membros. Já a natação atende três grandes áreas da deficiência: a física, a intelectual e a visual e com isso abrange um número maior de pessoas.
Vale lembrar que o parataekwondo e o badminton ainda não estão na lista dos esportes paraolímpicos.
“Todas as instituições voltadas ao paradesporto de rendimento em Campinas são muito bem organizadas e tem um atendimento de primeira qualidade”, enfatizou o professor da Unicamp.
A Gadecamp (Grupo de Amigos Deficientes e Esportistas de Campinas), por exemplo, hoje voltada somente ao basquete, teve sua origem no Projeto de Atividade Motora Adaptada (PAMA), da Faculdade de Educação Física da Unicamp, desenvolvido em 1988. O propósito era integrar e estimular o convívio social da pessoa com deficiência à sociedade, utilizando, na época, esportes adaptados como natação, atletismo, handebol, basquetebol e futebol de salão para atingir tal objetivo.
A partir do crescimento técnico dos atletas e a restrição de recursos para campeonatos, em 1999, especializou-se em basquete de cadeiras de rodas. O time treina, atualmente, no Ginásio do Instituto Padre Haroldo – entidade conveniada à FEAC, participa do Campeonato Estadual Paulista na série A e da Elite do Brasileiro. A GADECAMP tem dois atletas paralímpicos que estão na seleção brasileira e isso é o maior estímulo para os demais que fazem parte do projeto.
Segundo o presidente do Grupo, Milton Marcelino Ferreira, o trabalho é realizado em três etapas: equipe infantil com o objetivo da iniciação esportiva e da convivência; juvenil para adolescentes, preparando-os para o alto rendimento; profissional que disputa campeonatos paulistas e brasileiros.
Há um respeito muito grande por parte dos jogadores de basquete andantes para com os cadeirantes. “Quando eles sentam nas cadeiras de rodas para tentar sentir o que sentimos dizem que somos guerreiros”, relatou.
Este tipo de atendimento gratuito, que favorece as pessoas com deficiência, ainda está restrito. Poucas pessoas têm conhecimento da existência destas entidades esportivas e das atividades que são desenvolvidas dentro da Universidade Estadual de Campinas.
Luiz Marcelo Luz é um dos mais antigos incentivadores da prática de paradesporto com foco nas olimpíadas. “Eu sou do movimento paralímpico, eu não sou do esporte paralímpico”, enfatizou ao dizer com orgulho que sua equipe da Unicamp ajudou a pensar alguns itens antes mesmo do comitê paralímpico ser formado em 1995. Em 1990 sofreu com essa construção das regras e hoje, às vésperas dos jogos de 2016, vibra com a possiblidade das pessoas com deficiência serem enxergadas de perspectiva diferente.
Há dez anos foi criado em Campinas um projeto chamado “Paraolímpicos do Futuro”, para o qual foi montada uma cartilha que foi apresentada em todo país. “Temos hoje grandes atletas que nasceram deste projeto”, contou Luiz Marcelo.
Campinas é uma cidade com cerca de 20 mil jovens entre 15 e 19 anos com deficiência, segundo o Censo de 2010. Apesar deste número expressivo, há uma grande dificuldade em identificar onde estão estas pessoas e fazer com que saibam da importância do esporte para sua inclusão. E isso torna-se grande gargalo, porque não existe uma política nacional de esporte no Brasil.
A chegada das pessoas com deficiência às instituições que ofertam esportes pode-se dar por interesse da entidade por algum projeto, mas por esse ter começo meio e fim, poucos são os indivíduos que dão continuidade. Há os que chegam de maneira espontânea, mas ainda é uma parcela aquém do desejado. “Temos o melhor Centro de Treinamento Paralímpico, recém-inaugurado na cidade de São Paulo, que é o melhor do mundo porque somos os melhores do mundo. Precisamos fazer jus a isso em nossa cidade disseminando o esporte para as pessoas com deficiência, fazendo com que saibam o quanto, qualquer que for o esporte, pode ajudá-las”, enalteceu Luiz Marcelo.
Instituições que oferecem esporte para PCD:
Associação Paraolímpica de Campinas (APC):http://apccampinas.org.br/
Gadecamp: http://www.gadecamp.com.br/
Gigantes: http://aecsgigantes.wix.com/gigantes
Associação de Esportes Adaptados de Campinas: www.adeacamp.com.br
Fonte: http://www.brasil2016.gov.br/pt-br/incentivo-ao-esporte/lei-agnelo-piva
*Desde o lançamento dos jogos paralímpicos, em novembro de 2015, o Brasil adotou a palavra paralímpico, por orientação do comitê internacional, para igualar ao uso de todos os outros países de língua portuguesa.