Mulheres do Jardim Bassoli transformam lixo em trabalho e renda
Entre as grandes preocupações da sociedade atual estão a geração de renda e o empoderamento feminino, especialmente em áreas de vulnerabilidade. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego entre mulheres é mais alta que a dos homens, e iniciativas que promovem o empreendedorismo e a sustentabilidade são essenciais. Além disso, a reciclagem é um tema central no debate sobre o meio ambiente e economia circular.
No Jardim Bassoli, o descarte correto do lixo é o ponto de partida para alcançar o objetivo central de um projeto do Programa de Fortalecimento de Vínculos: promover trabalho e renda dignos. A CooperBassolié fruto de mais de uma década de luta de um grupo de mulheres do bairro, que, por meio da estruturação e incubação, buscam criar uma cooperativa de reciclagem. A implementação da cooperativa de coleta e destinação de materiais recicláveis traz benefícios ambientais, ao reduzir a quantidade de lixo destinada aos aterros sanitários já sobrecarregados, e econômicos, consolidando-se como uma alternativa de trabalho e renda para uma região onde 2,4 mil famílias vivem em situação de alto risco social.
Em 2023, o sonho começou a se tornar realidade com o início da estruturação da sede da cooperativa. O terreno foi limpo, cercado e nivelado após a terraplanagem, e a base da construção já está pronta, com a instalação da tenda concluída. As sete pessoas fundadoras da CooperBassoli iniciaram treinamentos em gestão administrativa e financeira, além de capacitação sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, recebendo uma bolsa de R$ 450. A meta final é expandir o grupo para 17 cooperados.
Fontes: Gabriela Ferreira, assistente de projetos na Fundação FEAC; Gabrieli de Souza Reis, analista de projetos na Fundação FEAC; e representantes da comunidade.
Empreendedorismo Jovem nas Periferias: o Impacto Social dos HUBs Comunitários em Campinas
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) tem 30% das pessoas com até 24 anos de idade em situação de vulnerabilidade social, de acordo com um estudo do Observatório PUC-Campinas, com base em dados do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Segundo a pesquisa, pelo menos 300 mil crianças e jovens de 0 a 24 anos precisam do auxílio do governo federal para sobreviver. No total, as cidades da RMC têm 1 milhão de pessoas nesta faixa etária, o que significa que um em cada três moradores deste grupo passam algum tipo de necessidade.
O empreendedorismo jovem tem se mostrado uma poderosa ferramenta de transformação nas periferias, especialmente em regiões de vulnerabilidade social. Em Campinas, a criação de hubs comunitários tem incentivado jovens a identificar problemas em suas comunidades e propor soluções inovadoras. No Campo Grande, região oeste do município, o projeto Quebrada em Movimento oferece oficinas sobre organização, busca de recursos e gestão de projetos. O hub tem apoio de duas organizações: a Casa de Maria de Nazaré e a Casa Hacker. Em 2023, as atividades para a comunidade alcançaram 72 empreendedores sociais.
Na região norte, o Hub Conexão Quilombo Amarais, gerido pelo Grupo Primavera, promove atividades para a comunidade, como aulas de dança, artesanato e oficinas de informática e robótica, além de mentorias. Em 2023, 40 empreendedores locais participaram das atividades e 56 pessoas fizeram formação em Libras.
Esta iniciativa está inserida no programa de Cidadania e Impacto Social, que tem como objetivo promover a inclusão econômica e o desenvolvimento sustentável por meio de projetos que incentivam o empreendedorismo e a inovação social em regiões de vulnerabilidade.
Fontes: Gabriela Ferreira, assistente de projetos na Fundação FEAC, e Gabrieli de Souza Reis, Analista de projetos na Fundação FEAC
Educação Ambiental como Ferramenta de Mudança Social no Jardim São Marcos
A educação ambiental é uma ferramenta eficaz de mudança social, especialmente em áreas urbanas com vulnerabilidades ambientais. No Jardim São Marcos, o projeto Verde que te Quero Ver utiliza essa abordagem para enfrentar problemas locais como enchentes e o descarte inadequado de lixo, além de promover a revitalização de espaços públicos e fortalecer o senso de pertencimento entre os moradores.
A iniciativa já envolveu diretamente 92 pessoas e resultou na plantação de mais de 5.631 mudas em espaços revitalizados, fomentando a preservação ambiental e a integração social. O projeto envolve crianças, pais e a comunidade em práticas sustentáveis, como hortas urbanas, contribuindo para a melhoria do território e a conscientização coletiva.
Fontes: Sílnia Prado, analista de projetos na Fundação FEAC; Hellen Gama, analista de Projetos na Fundação FEAC; e representantes da comunidade
Juventudes Ativas: Conselho Jovem da FEAC e o protagonismo na Formulação de Políticas Públicas
O Conselho Jovem, criado pela Fundação FEAC, coloca os jovens no centro da formulação de políticas públicas, promovendo cidadania e inclusão social. Formado em 2021 durante o isolamento forçado pela pandemia de Covid-19, o Conselho incentivou uma mobilização junto à Câmara dos Vereadores de Campinas para a retomada da discussão de um Projeto de Lei (PL) sobre assédio sexual nas instituições de ensino. Em 2023, a iniciativa ganhou destaque com o apoio da Casa Hacker, que facilitou a escuta das juventudes periféricas de Campinas e elaborou um relatório sobre suas principais necessidades.
A participação ativa dos jovens levou à eleição de dois de seus membros para o Conselho Municipal da Juventude, envolvendo centenas de jovens em debates sobre seus direitos. Essa iniciativa, parte do Programa Juventudes da Fundação FEAC, demonstra como a mobilização juvenil pode transformar a relação entre jovens, suas comunidades e os governos locais.
Fontes: Rodrigo Correia, coordenador do programa, e Rafaela da Silva Canela, analista de projetos da Fundação FEAC.
Além de qualificação, o jovem precisa de suporte para se inserir no mercado
O desemprego entre os jovens tem sido um desafio, uma vez que a taxa de desocupação entre eles tem se mantido mais do que o dobra da taxa de desemprego da população em geral. A pandemia de Covid-19 dificultou ainda mais o panorama para inserção dos jovens no mercado de trabalho, sobretudo porque impactou o ensino e as oportunidades de qualificação.
Para contornar o cenário negativo, o projeto Jovem Chef, resultado de uma parceria entre a Fundação FEAC e a OCS Movimento Assistencial Espírita (MAE) Maria Rosa, capacita profissionalmente jovens com idades entre 15 e 24 anos para atuar no mercado de gastronomia.
O público-alvo dos cursos são jovens em vulnerabilidade social que vivem no município de Campinas. Deu tão certo, que o projeto se tornou uma referência para o setor de bares, restaurantes e hotéis na hora de contratar um profissional, uma vez que estabelecimentos parceiros abrem as portas e oferecem emprego para esses jovens profissionais da gastronomia. Eles, que chegam ao mercado bem-preparados, aproveitam as oportunidades. Há casos de alguns que até já foram promovidos a cargos de gerência.
Mas eles não chegam nos estabelecimentos munidos apenas de conhecimentos técnicos para exercer a profissão. O projeto Jovem Chef os prepara para fazer as entrevistas de emprego e muitas vezes até os levam – literalmente – para os processos seletivos, oferecendo orientação em todas as etapas.
E como o empreendedorismo é algo em que faz parte dos sonhos de muitos jovens, há alunos que abriram o próprio negócio e estão se dando muito bem vendendo delícias doces e salgadas e tendo renda.
Fonte: Karina Cappelli, especialista em inclusão produtiva da Fundação FEAC, e alunos e ex-alunos do projeto Jovem Chef
A importância do contato com o verde na primeira infância
Diversas pesquisas indicam que quando a criança tem acesso a áreas verdes o seu desenvolvimento é mais efetivo, já que há aumento da criatividade, da coordenação motora e da função cognitiva.
Um projeto da Fundação FEAC chamado Verdejando Escolas envolveu toda a comunidade escolar, ouviu as preferências das crianças e levou o verde aos espaços abertos de três escolas: a Associação Douglas Andreani e a Instituição Educacional Sementes do Amanhã, ambas no Jardim Monte Cristo, e o Espaço Infantil Corrente do Bem, na Vila Brandina.
Os resultados incluem aumento do nível de sensação de pertencimento ao ambiente natural e social das crianças de 13% para 73%; e 73% das professoras passaram a propor mais atividades que favoreçam o contato com a natureza nesses espaços.
O projeto, que consistiu no plantio de árvores, plantas e grama e na instalação de equipamentos de lazer atendendo o que foi solicitado pelas crianças e comunidade escolar, já transformou espaços abertos dessas três instituições de ensino infantil da periferia de Campinas.
Ao todo, foram plantadas 671 mudas, instalados 36 novos equipamentos e brinquedos, deixando 548 m² mais atrativos para o brincar e o aprender junto ao verde, impactando diretamente 785 crianças e 48 educadoras. Se considerados os demais funcionários das instituições, as famílias dos estudantes e comunidade como um todo, são 3.249 pessoas indiretamente impactadas.
Fontes: Amanda do Carmo, coordenadora do Socioeducativo, e Tatiane Zamai, gerente de Fortalecimento das Organizações da Sociedade Civil da Fundação FEAC, e representantes da comunidade
Fotos: https://we.tl/t-6PQDtJzCAT
Network entre lideranças comunitárias e a busca de um objetivo comum
No processo de transformação de uma região de alta vulnerabilidade social, os moradores já podem ver na prática, depois de poucos meses de trabalho, os primeiros resultados. Um deles é a criação de um comitê comunitário que vem mostrando aos líderes e aos moradores dessa região que trabalhando juntos são mais fortes em busca de objetivos comuns: a transformação positiva e o desenvolvimento territorial.
A região dos Amarais, que engloba os bairros Jardim São Marcos, Santa Mônica, Jardim Campineiro e Vila Esperança, passa por uma transformação com o projeto Desenvolve Amarais, que coloca os moradores locais como protagonistas na busca por melhorias que atendam toda a comunidade. Partiu deles a demanda por uma área de lazer e uma praça foi construída em um local que antes acumulava entulho.
Agora, os moradores não só usufruem o espaço e cuidam das plantas e brinquedos que garantem o lazer onde esse direito não existia, como atuam como verdadeiros guardiões para que ninguém mais descarte lixo ou entulho ali.
A criação do Parque Linear do Córrego da Lagoa é outra mudança que vai ganhando corpo. Já foram plantadas novas espécies de árvores próximo à praça e o reflorestamento total da área deverá incluir mudas frutíferas e até hortas urbanas. Para fortalecer o processo de transformação, foi criado o Comitê Comunitário dos Amarais, com líderes da região.
Fontes: Rafael Moya, gerente de Desenvolvimento Territorial da Fundação FEAC, e líderes que integram o Comitê Comunitário dos Amarais
Fotos: https://we.tl/t-509bciHeTO
Preparando o futuro: FEAC investe na formação tecnológica de jovens de Campinas
A capacitação tecnológica para jovens em situação de vulnerabilidade é de grande importância para que eles consigam entrar ou se recolocar no mercado de trabalho. O desemprego entre a população jovem do Brasil gira em torno de 14%. Por outro lado, há um déficit potencial anual de 24 mil profissionais de TI no Brasil e até o fim deste ano esse déficit poderá alcançar a marca de 290 mil profissionais, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e Tecnologias Digitais (Brasscom).
A parceria da FEAC com o projeto AWS re/Start, uma iniciativa da Amazon, oferece formação em programação em nuvem para jovens de regiões de vulnerabilidade social, sem a necessidade de conhecimento prévio. O projeto não só prepara esses jovens para o mercado de trabalho, como também fortalece suas competências em setores inovadores, o que os habilita para conquistar oportunidade em carreiras promissoras no mercado de trabalho digital. A expectativa da FEAC é que 61% dos alunos consigam emprego na área em até 6 meses.
Já foram beneficiados jovens de 16 regiões de vulnerabilidade de Campinas e uma nova turma foi recentemente aberta dando prioridade aos jovens de Paulínia, mas com possibilidade de inscrições de moradores de toda a RMC.
Fontes: Karina Cappelli, especialista em inclusão produtiva da Fundação FEAC, e porta-vozes da OSC Campinho Digital
Da casa para o mercado: o apoio que mães de crianças com deficiência precisam para gerar renda familiar
A inclusão econômica é um dos desafios enfrentados pelas mulheres, que são mães de crianças com deficiência. Elas geralmente são sobrecarregadas pela necessidade de cuidar de seus filhos especiais, e também da casa e de outros familiares. E ainda precisam levar dinheiro para suprir ou ajudar a cobrir as necessidades da família.
Essas mulheres enfrentam barreiras para se integrar ao mercado de trabalho. Atuar em uma empresa como CLT não é a realidade para elas, sobretudo porque não podem deixar o filho que precisa de cuidados especiais e cumprir uma jornada de 8h longe de casa. Muitas vivem apenas com os recursos do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que lhes é de direito por terem filhos com deficiência. Então, é no empreendedorismo que essas mães podem encontrar uma oportunidade de resgatar sua identidade e gerar renda.
O projeto Autonomia para Empreender, da Fundação FEAC, visa capacitar mães de crianças com deficiência, oferecendo-lhes, além de apoio psicológico, habilidades empreendedoras de forma que possam ter autonomia financeira e inclusão produtiva.
Fontes: Viviane Machado e Viviane Pacheco, analistas da área Socioeducativa da Fundação FEAC, e mães participantes do projeto
Rede de cuidados e inclusão: A oficina de conserto de cadeiras de rodas que virou política pública em Campinas
A inclusão produtiva de pessoas com deficiência é outro tema de extrema relevância na sociedade. Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2022, indicam que o Brasil tem 18,6 milhões de pessoas com deficiência, considerando a população com idade igual ou superior a dois anos. Esse número representa 8,9% de toda a população brasileira a partir de dois anos de idade. Na região Sudeste, 8,2% da população tem alguma deficiência. Em Campinas, de acordo com estimativa da FIPE, 85.460 moradores têm algum tipo de deficiência. Muitas dessas pessoas têm dificuldade de locomoção e chegam a esperar até dois anos para conseguir uma cadeira de rodas.
Iniciativa da Fundação FEAC em parceria com Casa da Criança Paralítica (CCP) de Campinas, o projeto Oficina Locomover, de manutenção e adaptação de cadeiras de rodas de forma gratuita, foi lançado com o objetivo de realizar a manutenção e adaptação de, no mínimo, 200 cadeiras anualmente, além de promover reparos de outros meios auxiliares de locomoção, como bengalas, muletas e andadores.
O projeto expandiu-se para incluir serviços de confecção de próteses e órteses, beneficiando diretamente pessoas com deficiência, e tornou-se política pública, visando quebrar barreiras para incluir pessoas com deficiência de maneira produtiva e socialmente integrada.
Fontes: Viviane Machado e Viviane Pacheco, analistas da área Socioeducativa da Fundação FEAC