(Por Laura Gonçalves Sucena)

Combater as violências contra crianças e adolescentes, investindo na construção e formação de atores locais e ações de fortalecimento de vínculos comunitários e familiares. Assim atua o projeto Entre Malhas, que faz parte do Programa Enfrentamento a Violências, da Fundação FEAC, e atua desde o início do ano na região do Campo Belo.

Com a parceria técnica do Instituto Padre Haroldo, o projeto está realizando uma série de ações no território. A primeira etapa teve início com a articulação de serviços locais que demandaram e formularam uma proposta de uma série de atividades que provoquem trocas e aprendizados com a comunidade. E, assim surgiu uma segunda etapa, denominada Ciclo de Diálogos: construindo um bairro educador. 

Segundo Natalie Lima Hornos, coordenadora do Entre Malhas, os encontros acontecem em diversos espaços comunitários e equipamentos do bairro do Campo Belo, e contam com convidados especiais. “Estamos chamando pessoas que possam colaborar e trazer novas ideias e visões, como ativistas, pesquisadores e trabalhadores, para que possamos refletir juntos sobre assuntos emergentes. Para isso convidamos desde os moradores e lideranças comunitárias até professores da rede pública de ensino, profissionais da saúde, assistência social e organizações do terceiro setor. Muitos encontros também estarão abertos à toda rede socioassistencial de Campinas e a proposta é conseguir uma sociedade mais justa, inventiva e protetiva”, falou.

As temáticas escolhidas surgiram a partir do processo de escutatória.  A coordenadora conta que o Entre Malhas teve início com uma dupla de profissionais que percorreu o bairro ouvindo as pessoas do território. “Foram ouvidos 93 atores que circulam no território para compreender a vida das crianças e dos adolescentes no Campo Belo.  Uma das questões percebidas e apontadas no período desta pesquisa foi a baixa oferta formativa específica para a rede socioassistencial. A comunidade local também não conta com equipamentos culturais e a oferta aos serviços públicos é muito aquém da demanda local. Dessa forma chegamos com a proposta do Ciclo de Diálogos, apostando numa contribuição para a diminuição dessas lacunas”, informou.

Para Natália Valente, líder do programa Enfrentamento a Violências da Fundação FEAC o diferencial do projeto foi investir no processo de escuta, sendo possível a partir daí, desenhar as ações de forma assertiva, compreendendo as potencialidades e vulnerabilidades presentes na região do Campo Belo.    

Primeiro encontro 

Para falar sobre um dos gêneros musicais mais tocados ultimamente e que desperta muita polêmica, o primeiro encontro contou com a participação do MC Gerinho, que conversou com profissionais das instituições Afascom, Comec e Cidade dos Meninos e com alunos da Escola Estadual Jardim Marisa.

Rodeado de polêmicas, o Funk está presente em festas, encontros e no dia a dia de muita gente e isso não é diferente na região do Campo Belo. Por isso, o MC explicou os subgêneros da música e o motivo desse gênero ser alvo de tantas críticas e também de tantos fãs. 

“O Funk conta com diversos subgêneros como o Ostentação, o Consciente, o Proibidão etc. Nós da Liga do Funk acreditamos em denunciar problemas sociais e, principalmente, o falar sobre o descaso com os moradores de comunidades, falamos dos problemas enfrentados e não queremos palavras de baixo calão ou sensualização”,  falou o MC.

Gerinho explicou que a Liga do Funk trabalha para fomentar a juventude que sonha em viver do funk, profissionalizando seu trabalho. “Oferecemos aulas de dança, presença de palco, canto, entre outras atividades. Queremos que essa meninada conte suas histórias e cante suas músicas.

Segundo o MC, o crescimento do funk se deve muito ao avanço da internet. As redes sociais alavancaram muitos artistas e abriram um espaço midiático livre para os MCs se expressarem de maneira autônoma, contando sua história e transmitindo sua mensagem sem mediação.  “O movimento funk vem ao longo dos anos emergindo de maneira avassaladora. As crianças que sonhavam em ser jogadoras de futebol, agora sonham em virar funkeiras e isso é bom porque o Funk gera empregos e tem sua mensagem”, contou.

“Agora, a sociedade tem que saber o que deseja ouvir. O Funk Proibidão ou Ostentação só ganha fama porque as pessoas curtem e escutam. Esses subgêneros estão crescendo porque a população quer ouvir. Eu tenho família e não quero que eles escutem músicas sensuais. Aliás, esse tema já existe há anos em outros gêneros musicais, mas foi o Funk que ganhou a péssima fama”, pontuou MC Gerinho.

Para a coordenadora pedagógica da Escola Jardim Marisa, Tatiana Varanda, o encontro com o MC foi muito rico. “O Funk está inserido na cultura do território. É importante trabalhar a questão do respeito no Funk e isso vai ao encontro do que eles aprendem na escola, que é respeito às diversidades e às opiniões. Não é mais aceitável o machismo e palavras de baixo calão”, pontuou.

O estudante Daniel Barbosa também gostou do encontro. “O Funk representa muita coisa e aprendemos muito com as letras. Antes passavam mais mensagens bacanas e hoje se fala muito de mulher, de ostentação. Eu gostei de conhecer o MC Gerinho e concordo que as músicas devem falar mais de problemas sociais e passar mensagens legais”, contou.

Novos encontros

Segundo Natalie, os encontros em lugares da própria comunidade, como foi o caso da primeira ação, realizada na Associação de Moradores Cupiúba, é um espaço de aprendizagem. “Esse formato reúne, propositalmente, comunidade e profissionais da rede, para refletirem juntos sobre assuntos emergentes e fundamentais para que almejem sociedades mais justas. São assuntos como questões étnicas-raciais, os meios de comunicação, a participação social, e possibilidades de ações coletivas para contribuir com a consolidação do Campo Belo como um bairro educador”, explicou.

Os Ciclos de Diálogos continuam até o final do ano com novos encontros. No dia 30 de setembro será a vez da articuladora de Mulheres Guarani e Kaiowá, Fabiane Medina a falar sobre o tema “Existe indígena em Campinas? – Descolonizando o pensamento”.

Temas como ‘Pesquisa, conservadorismo e as questões sociais’, ‘Juventudes, conceito e legislação’, ‘ Juventudes e mundo do trabalho’, ‘Movimentos migratórios em diálogo com direitos humanos, trabalho e cultura’, ‘Juventudes Periféricas e suas expressões culturais’ também estão na pauta. Ainda haverá encontros exclusivos para os professores da Escola Jardim Marisa, para a comunidade do Menino Chorão e para a rede socioassistencial do território, com o objetivo de oferecer formações.

Sobre o Enfrentamento a Violências

O programa é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe na mitigação dos impactos das violências e no enfrentamento para romper os ciclos que as perpetuam com objetivo de promover o bem-estar e a cultura de respeito, empatia, tolerância e paz.

Mais informações: https://www.feac.org.br/enfrentamentoaviolencias/