O Dia Mundial do Brincar é comemorado em 28 de maio no Brasil e em outros 40 países. A data, que foi criada oficialmente pela Organizações das Nações Unidas (ONU), em 1998, busca reforçar a importância do brincar para o desenvolvimento integral das crianças. Em Campinas, a programação dura a semana toda e é construída a partir do Comitê Intersetorial do PIC (Plano da Primeira Infância Campineira).

O principal objetivo é oferecer à população uma variedade de atividades gratuitas e lúdicas, com eventos culturais, esportivos, jogos ao ar livre e oficinas de leitura, desenho e música, que envolvam pessoas de todas as idades, incentivando e sensibilizando a sociedade sobre a importância do brincar. A programação completa pode ser conferida neste link, no portal da prefeitura do município. O tema em 2023 é “A natureza no brincar”, chamando a atenção para a necessidade, principalmente neste pós-pandemia e neste mundo cada vez mais digital, de as crianças brincarem em contato com a natureza.

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Brincadeiras ganharam as praças de Campinas na Semana do Brincar

FEAC divulga documentário sobre Caminhos do Brincar

Este é um dos temas presentes no documentário Caminhos do Brincar, realizado pela Trilobita Filmes, que revela um olhar sensível para o registro do resultado dos trabalhos do projeto homônimo desenvolvido pela Fundação FEAC em parceria com o Instituto Arcor Brasil e a Organização da Sociedade Civil Progen, em sua unidade do Jardim Satélite Íris I, na região Noroeste de  Campinas. A direção do filme é da própria equipe de campo do projeto, que atuou junto às comunidades nos territórios, conta a líder do Programa Infância em Foco, a pedagoga Stelle Daphine Goso.

“É um documentário que revela grande parte do que foi feito no projeto Caminhos do Brincar, porque mostra diversas ações desta equipe de campo que convida crianças, adultos e cuidadores, para que de forma lúdica e artística ocupem estes espaços”, diz Stelle. “É um movimento de mobilização social valioso porque impulsiona a convivência intergeracional nos espaços coletivos e públicos dos territórios, resgatando o brincar tradicional, as experiências olho a olho, presenciais e não digitais, que hoje é uma realidade muito intensa vivida pelas crianças, inclusive as de baixa renda”, completa.

Joana Piza, que integra a equipe de campo do projeto, atuou semanalmente em duas periferias de Campinas, o Satélite Íris 1 e o Buraco do Sapo, situado no Jardim Novo Flamboyant, região Leste de Campinas, convidando as crianças e ocupando os espaços públicos com cortejos musicais e muitas brincadeiras ao ar livre. “Fazemos um trabalho diretamente com as crianças, convidando e convocando estas crianças, de maneiras muito diferentes, para ocuparem estes espaços públicos com o brincar. São as crianças de mãos dadas com os cuidadores e lideranças locais que nos dizem como vai ser o festejo”, explica Joana.  

“Nos últimos dois anos, o projeto atuou para revalorizar, reconquistar e trazer de novo as crianças para o lado de fora, após uma longa experiência de confinamento”, diz Stelle, da FEAC. “São experiências complexas. A situação de habitação das famílias de baixa renda já é muito desafiadora para as crianças. Espaços pequenos, pouco adequados e seguros para elas brincarem, interagirem, receberem pessoas. Poucos quintais, casas cada vez menores, nesta disputa diante desse crescimento urbano e do aumento das desigualdades”, observa.

Ela reafirma que a proposta do projeto, que agora entra em sua terceira fase, é resgatar o brincar, entendendo que o brincar é uma das atividades principais da infância e uma das formas mais efetivas para a criança se desenvolver de forma saudável. O projeto mostrou, entre outros resultados, um maior acolhimento nos espaços públicos das crianças com deficiência ou com pouca habilidade social. “A presença de educadores brincantes e qualificados apoiava uma convivência mais harmoniosa entre as crianças”, diz Stelle.

Segundo ela, a equipe de campo também apontou que havia muitos conflitos e que as crianças discutiam e se agrediam por muito pouco. “A presença de um adulto acolhedor é muito importante tanto para criança, como uma referência de gentileza, quanto para os próprios cuidadores das crianças, que foram também se inspirando ao observar que  podiam ser mais pacientes, que não precisavam gritar, que poderiam educar de forma gentil e assertiva”, conta.

O direito das crianças à cidade

O projeto Caminhos do Brincar, da FEAC, dialoga muito com a temática do brincar na natureza. Ele propõe brincadeiras ao ar livre, nos espaços públicos e com os recursos que estão disponíveis em cada local, afinal  os espaços de brincar não precisam estar restritos à casa ou à escola: a cidade toda pode ser brincante.

“É um projeto que vislumbra garantir apoio à criança no direito à cidade, de se relacionar com este espaço amplo, coletivo, público. Hoje a gente vê um confinamento muito grande da criança, que permanece muito tempo em casa, na escola, ou nos veículos de deslocamento”, aponta Stelle.

Por Natália Rangel