Para o tamanho dos desafios socioeconômicos brasileiros, ações individuais muitas vezes não bastam: é preciso uma atuação coletiva, mobilizando organizações, empresas e pessoas em prol do mesmo objetivo. É assim que atua a dimensão Impulsionando Organizações, da Fundação FEAC.  

Em 2021, os programas agiram para levantar doações, compartilhar conhecimentos, fortalecer organizações da sociedade civil (OSC) e engajar voluntários a fim de superar diversas vulnerabilidades sociais, que foram agravadas pela pandemia da Covid-19. 

Nesta segunda de quatro matérias com a retrospectiva da FEAC de 2021, conheça os principais desafios e ações dos programas Cidadania Ativa e Qualificação da Gestão, que compõem essa dimensão.  

Cultura de solidariedade 

Diante da continuação da pandemia, os programas se depararam com o desafio de mitigar o avanço das desigualdades sociais. Para isso, estimular a solidariedade e a cultura de doação foi fundamental.  

Mobiliza Campinas, campanha contra a insegurança alimentar, chegou à sua segunda edição em 2021. A iniciativa captou doações de recursos financeiros de pessoas físicas e empresas, que foram convertidos em cartão alimentação para famílias vulneráveis do município.   

Um dos desafios da campanha foi retomar o ritmo das doações, que diminui no começo do ano: “O trabalho de captação de recurso teve que ser reforçado para buscarmos o mesmo recurso que o ano passado e, consequentemente, atender o mesmo número de famílias”, explica Camila Stefanelli, líder do programa Cidadania Ativa, um dos organizadores do Mobiliza. 

No fim da campanha, a meta foi atingida: foram arrecadados R$ 3.275.400, beneficiando 6.823 famílias (ano passado, foram 6.330 famílias). Em 2021, as doações de pessoas físicas cresceram 27%, em relação ao ano passado.  

“Com o esforço da mídia informando sobre a fome, que ainda está agravada na nossa região, conseguimos recuperar o ritmo das doações”, analisa Camila.  

A fim de fomentar a solidariedade, outra ação da dimensão foi a Janela do Bem, lançada em outubro de 2021. Trata-se de uma plataforma que reúne informações sobre OSC de Campinas, parceiras da FEAC, que atuam em diversas causas sociais.  

A Janela do Bem estimula a doação a partir de uma relação de transparência e confiança: empresas e pessoas físicas interessadas em doar podem conferir a história das OSC e acessar documentos como balanço financeiro e estatuto. A doação de recursos financeiros pode ser feita na própria plataforma.  

Além de estimular a cultura de doação, a plataforma ajuda a fortalecer a captação de recursos das OSC, que foram prejudicadas com a pandemia. “Os desafios da sustentabilidade financeira das organizações refletem diretamente nos seus recursos humanos e impactos”, analisa Nathalia Garcia, líder do programa Qualificação da Gestão. 

Formação de lideranças 

Estimular a participação popular, considerando o contexto pandêmico, não foi uma tarefa simples. “Tivemos dificuldade em manter o engajamento dos participantes dos projetos diante de tantas inseguranças, com profissionais sendo desligados, luto, doença, lockdown, falta de habilidades com tecnologia e escassez de recursos materiais”, analisa Nathalia. 

A dimensão, entretanto, enfrentou o desafio. Muitos projetos foram desenvolvidos 100% online, como é o caso do Hub Quebrada em Movimento, que nasceu em 2021.  

O objetivo é estimular a prática da cidadania dentro das comunidades. Cinco coletivos da região do Campo Grande, em Campinas, foram selecionados para compor o hub e, juntos, atuarem para gerar transformação social.  

Os coletivos passaram por uma trilha de capacitação, oferecida pela organização Casa Hacker, com o apoio do programa Cidadania Ativa, da FEAC. Eles receberam mentoria sobre elaboração de projetos, gestão financeira e organização de equipe.  

Para 2022, a proposta é seguir com a implementação de novos hubs e, assim, formar lideranças comunitárias em outras áreas de Campinas. A próxima região a receber o projeto será o Jardim São Marcos.  

Outro projeto em prol da mobilização popular é o Lideração, em parceria com o Minha Campinas, que teve o bairro Satélite Íris como o primeiro contemplado. Os moradores da região foram convidados para um ciclo de formação sobre temas que permeiam a vida política, como democracia e direitos humanos.  

“São os moradores dos territórios vulneráveis que sabem quais são os problemas do bairro e convivem com eles. A luta por melhores condições nos territórios deve partir de quem sente a necessidade de mudança”, destaca Marcela Doni, analista do programa Cidadania Ativa.  

Durante a formação, os nove participantes formaram um coletivo – o Mobiliza Satélite – e formularam um plano de ação para acionar a prefeitura e reivindicar melhorias concretas no transporte público. A união gerou resultados: o bairro ganhou três novos pontos de ônibus 

A formação de novas lideranças continua e, no momento, moradores da região D. Gilberto, Vida Nova e San Martin participam do projeto. 

Trabalho voluntário 

Para fazer a transformação social acontecer, o programa Cidadania Ativa acredita na potência do trabalho voluntário. O Via Conexão é um dos destaques: o projeto de mentoria voluntária se iniciou no ano passado, totalmente virtual, e se consolidou em 2021. 

“O projeto conseguiu mobilizar 192 pessoas, entre mentores e voluntários, em plena pandemia”, informa Camila, líder do programa. O objetivo do Via Conexão é conectar profissionais mais experientes a jovens em situação de vulnerabilidade e pessoas com deficiência, todos eles começando sua carreira.  

Este ano, o projeto firmou uma parceria institucional com a Azul – Linhas Aéreas, o que resultou, pela primeira vez, em 100% dos mentores de uma só empresa. “No decorrer dos primeiros ciclos, que foram abertos a empresas, tivemos a participação de colaboradores da Azul. Eles gostaram tanto que optaram por fechar uma turma exclusiva de mentoria”, explica Marcela Doni.  

Para 2022, o programa Cidadania Ativa pretende seguir a parceria com a Azul, assim como desenvolver novas iniciativas para ampliar as oportunidades de trabalho voluntário em Campinas.  

Apoio ao trabalho em rede 

Frente à continuação da pandemia, outra preocupação da FEAC foi fortalecer ainda mais o trabalho em rede do terceiro setor, por meio do programa Qualificação da Gestão. Assim, foram proporcionados espaços de informação e diálogo para que, juntas, as OSC pudessem enfrentar esse período.   

“Em 2020 e 2021, muitas organizações buscaram orientações e informações junto à FEAC, revelando inquietudes e inseguranças diante da incerteza na retomada das atividades presenciais”, explica Nathalia Garcia, líder do programa.  

O #RetomaCampinas foi uma das ações desenvolvidas em apoio às OSC e seus profissionais. O objetivo foi oferecer assessorias coletivas, por meio de encontros remotos com especialistas, para orientar sobre o planejamento de uma retomada segura do trabalho presencial.   

A programação contou, por exemplo, com uma live da médica pediatra Gabriela Murteira, que abordou protocolos de segurança, higiene e adaptações de espaços que devem ser seguidos nas OSC de assistência social e educação infantil.  

Além dos encontros, o #RetomaCampinas lançou um portal, onde foram reunidos protocolos de saúde e diversos materiais para disseminar boas práticas nessa retomada. 

“Acreditamos que juntas e bem-informadas, as OSC estarão mais fortalecidas para essa jornada, diminuindo o risco de contaminação pelo coronavírus dentro e fora das instituições”, diz Nathalia. 

Além da preocupação com a pandemia, o programa Qualificação da Gestão seguiu com o lançamento de materiais de outras temáticas para fortalecer o terceiro setor. Um deles é o ebook “Primeiros Passos de uma OSC”, voltado para qualquer cidadão interessado em conhecer os principais pontos para se iniciar uma OSC.  

O material, elaborado em parceria com a OSC Legal, discute temas como aspectos jurídicos de OSC, gestão de organizações e prestações de contas. 

Para 2022, ainda há muito trabalho para ser feito. Nathalia reforça que o programa vai continuar atuando com as equipes das organizações, no intuito de fortalecer o ecossistema das OSC.  

“Para conquistar nosso objetivo, é necessário olhar para as OSC para além das boas práticas de gestão. O programa também visa se aproximar das diretorias, como forma de garantir a participação ativa de todos”, ressalta a líder. 

Retrospectiva 2021

Esta matéria faz parte da retrospectiva 2021 da Fundação FEAC. Leia as outras e confira os destaques que marcaram o ano:

FEAC busca restabelecer laços comunitários de populações vulneráveis

• Solidariedade, voluntariado e apoio a OSC marcam o trabalho da FEAC em 2021

Projetos da FEAC estimulam o desenvolvimento de territórios vulneráveis

Em 2021, FEAC garantiu direitos de crianças, adolescentes e mulheres

Por Laíza Castanhari 

Edição 12 – Trabalho voluntário + retrospectiva 2021

Os novos desafios e a virtualização do trabalho voluntário pós-pandemia
Trabalho feminino cresce e ajuda a empoderar mulheres
FEAC busca restabelecer laços comunitários de populações vulneráveis

• Solidariedade, voluntariado e apoio a OSC marcam o trabalho da FEAC em 2021

Projetos da FEAC estimulam o desenvolvimento de territórios vulneráveis
Em 2021, FEAC garantiu direitos de crianças, adolescentes e mulheres

 

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