(Por Ingrid Vogl)

Em tempos de pleno desenvolvimento tecnológico, o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na educação é uma tendência. Mas um dos desafios das escolas é usar a tecnologia com criatividade aliada à proposta curricular. É sobre este assunto que Samantha Kutscka, coordenadora de projetos e relações institucionais da  Escola do Futuro da USP, fala ao Compromisso Campinas pela Educação (CCE).

 A especialista em inclusão digital analisa como as TICs podem influenciar o processo de ensino e aprendizagem e as inovações e desafios dessa área. Samantha estará na Fundação FEAC no dia 30 de março para participar de um bate papo sobre o assunto, durante o Encontro Mensal do CCE. Confira a entrevista.

CCE- Como as Tecnologias da Informação e Comunicação podem influenciar o processo de ensino e aprendizagem?

Samantha- A escola é a instituição mais fora do contexto tecnológico e mais resistente às mudanças. Por mais que abrace instrumentos como lousas digitais, computadores, tablets, têm muita dificuldade em alterar dinâmicas em sala de aula. Quando existe inovação nas dinâmicas, coisa que as TICs facilitam e inspiram, o processo de ensino/aprendizagem passa a ser mais criativo, colaborativo e horizontalizado.

CCE- Qual a importância e como as TICs podem beneficiar a educação?
Samantha- A importância das TICs está justamente no poder de aproximação. É necessário ver a tecnologia como linguagem e não como ferramenta. A partir do momento que o professor se apropria dessa linguagem e a utiliza para produzir conteúdo e fomentar a produção de conteúdo por parte dos alunos, a escola passa a ser um ambiente transformador: tanto da própria instituição, quanto de alunos e professores.

CCE- Quais os principais desafios e avanços do uso das TICS no processo de ensino e aprendizagem, principalmente na última década?
Samantha- O grande desafio é a formação do professor para o uso criativo da tecnologia como linguagem. Transformar uma aula é uma coisa complexa, mesmo porque muitos professores já têm uma sobrecarga de trabalho. Nesse contexto, reler, reformar uma aula é um trabalho extra. Mesmo porque não é o ato de trocar a lousa por um material em ppt. É mudar a dinâmica. E isso requer conhecimento da  disciplina, de diversas tecnologias (para ter diferentes atividades, propostas de trabalho) e de cada turma, além de uma dose de criatividade.

Já caminhamos muito no sentido de termos todas (ou quase todas) escolas conectadas. Mesmo que por meio de smartphones e redes sociais, os professores interagem com os alunos. Também vejo muitos professores liberando seus conteúdos em blogs em pdf, ppt ou vídeo.  Já caminhamos bem, mas ainda tem chão.

CCE- De que maneira as TICs inovam o processo de ensino e aprendizagem?
Samantha- As TICs inovam o processo por permitirem acesso à informação. Elas alteram o papel do professor. Agora o docente precisa ensinar o aluno a perguntar, não a procurar a resposta.

CCE- Quais os principais desafios para esse processo de inovação?
Samantha- É justamente transformar o professor de repositório de informações, fonte única do conhecimento do aluno, em um guia, alguém que acompanhe o aluno durante a jornada que é a construção de seu próprio conhecimento.

CCE- O que é literacia? Fale um pouco sobre como este conjunto de habilidades e competências pode influenciar na aprendizagem escolar e também fora da escola.
Samantha- As literacias digitais podem ser definidas como um conjunto de habilidades e competências adquiridas ou desenvolvidas com e através do uso de novas tecnologias. Elas são desenvolvidas à medida que vivemos em rede, nos conectamos, produzimos e compartilhamos conteúdos. É o conceito de Tecnototemismo: a tecnologia no centro da sociedade. Porque a escola estaria alheia a isso? E estando alheia a isso, a escola se colocaria num papel difícil, de repúdio a tudo que atrai seu público. Quando a escola abraça a tecnologia e chama para si a responsabilidade por desenvolver essas competências que serão requeridas de seus alunos num futuro próximo, a escola se contextualiza em seu tempo para exercer seu papel de forma concreta.

CCE- Como educadores podem unir educação e comunicação de maneira criativa para promover aprendizado?
Samantha- A primeira premissa da criatividade é a curiosidade. Busque novos apps, softwares, use, teste, pense como você casaria isso com o currículo escolar, qual seria a atividade… Monte uma aula. Teste. Crie repertório… Filmes, livros… Associe coisas… Monte um quadro de design thinking… Estude… Ame… Pire! E incentive seus alunos a fazerem o mesmo!