(Por Laura Gonçalves Sucena)

Um momento de escuta e reflexão sobre o desenvolvimento infantil. Assim foi mais um encontro “Troca de Saberes”, promovido pelo projeto Novo Olhar, do Programa Primeira Infância em Foco (PIF), da Fundação FEAC, que reuniu diretoras educacionais e orientadoras/coordenadoras pedagógicas de instituições de educação infantil para discutir a importância do monitoramento do Desenvolvimento Infantil (DI) e pensar no desenvolvimento integral das crianças e suas diversas dimensões.

Com a participação das instituições AMIC, Casa da Criança Meimei, Creche Menino Jesus de Praga, Centro de Formação Semente da Vida, Serviço Social da Paróquia São Paulo Apóstolo – SPES, Instituto Educacional Dona Carminha, Casa da Criança Madre Anastácia, Escola de Educação Infantil Santa Rita de Cássia e Casa da Criança de Sousas, o encontro teve como foco os processos contínuos, intencionais e integrados que contribuem com o desenvolvimento das crianças.

De acordo com a líder do PIF, Claudia Chebabi, o projeto Novo Olhar visa assegurar que as instituições acompanhem o desenvolvimento das crianças de 0 a 3 anos para garantir que elas se desenvolvam adequadamente de acordo com a faixa etária em que se encontram. “É preciso que façamos uma reflexão sobre o que sabemos sobre as fases do DI para que possamos observar as crianças nas diversas situações e qualificarmos as práticas pedagógicas”, comentou.

Durante a atividade, a equipe técnica do Projeto Novo Olhar propôs a reflexão sobre o DI e suas dimensões: motora, cognitiva, comunicação e linguagem e socioafetiva. A ideia proposta era que todos pensassem em como observar as crianças, por faixa etária, dentro dos critérios da ficha de acompanhamento do DI, que documentam os avanços e dificuldades experimentadas pelos pequenos.

“Achei o exercício interessante porque nos fez olhar nas nossas crianças. Na faixa etária dos 24 a 35 meses, observamos que os pequenos imitam atitudes simples dos adultos, correm com segurança, já desfraldaram, compreendem grande parte do que escutam e muito mais. A Ficha de acompanhamento nos auxilia nisso”, falou a diretora da creche Menino Jesus de Praga, Rosane Ferreira.

De acordo com Adriana Nunes Silva, técnica de referência do projeto Novo Olhar, foi importante promover a reflexão realizada em duplas, em que cada representante de uma instituição dialogou com uma profissional que não fazia parte de sua equipe. “A oportunidade de aprofundar conhecimento é fundamental para o trabalho pedagógico e refletir junto com um colega que tem outras vivências traz mais consistência ao estudo proposto”, ressaltou.

Adriana ainda enfatizou que, com as discussões, as equipes saíram mais fortalecidas e convictas de que com um processo permanente de acompanhamento e monitoramento é possível promover um trabalho consistente e de qualidade. “O desenvolvimento integral da criança depende da garantia de condições favoráveis para o alcance de seu máximo potencial. A Primeira infância é decisiva para a aquisição das bases do desenvolvimento humano. Nascemos com um cérebro em organização e atravessamos um longo período de infância enquanto suas estruturas vão amadurecendo. Quanto melhor a criança se desenvolver nesse período inicial da vida mais potencial ela terá no futuro, inclusive, de sucesso no mercado de trabalho”, pontuou.

Monitoramento

Também foram apresentados os números já alcançados pelo projeto Novo Olhar. Em 2017, foram acompanhadas no DI 451 crianças das instituições AMIC – Village, Casa da Criança Meimei, Creche Menino Jesus de Praga, Centro de Formação Semente da Vida e Serviço Social da Paróquia São Paulo Apóstolo – SPES. Já este ano, a meta foi ampliada para que cerca de 1.500 crianças sejam monitoradas, incluindo outras instituições, AMIC – Monte Cristo e Campo Belo, Casa da Criança Madre Anastácia, Centro Infantil Tia Nair, Creche Mãe Cristina, Escola de Educação Infantil Santa Rita de Cássia, Instituto Educacional Dona Carminha, Casa da Criança de Sousas e Creche Bento Quirino – Unidade I.

Segundo os dados levantados no monitoramento, a dimensão que mais demanda atenção é comunicação e linguagem. A capacidade de absorver a linguagem e distinguir sons surge muito antes que a criança possa realmente falar, o que indica que é de fundamental importância que os adultos interajam verbalmente com as crianças desde o nascimento.

“Com o resultado do monitoramento ficou evidenciada a necessidade de mudanças nas práticas educativas referentes à esta dimensão. Atrasos linguísticos comprometem muito as outras dimensões do desenvolvimento infantil e podem se acumular rapidamente se não forem tratados com urgência”, falou Denilze Ricciardelli, também técnica de referência do projeto.  

Além disso, é preciso que os educadores se atentem à forma de se comunicar com as crianças, valorizando o discurso para que sejam ricos em termos de vocabulário e de complexidade das sentenças.

Para Claudia, a comunicação precisa ser descritiva e não valorativa “Quando olhamos o desenho de uma criança precisamos nos atentar para não utilizar a linguagem valorativa, como por exemplo, que desenho lindo! Temos que descrever a situação, identificar a evolução, o que a criança passou a fazer que não fazia antes, como:  o desenho estar mais colorido, ocupar todo espaço do papel, entre outros. Desta forma, a comunicação, além de mostrar um vocabulário mais amplo para a criança, se torna construtiva. Nós erramos ao nos comunicar e precisamos ficar atentas a isso”, explicou.

A intenção é investir no desenvolvimento da criança o mais cedo possível para garantir um retorno para ela e para a sociedade. Cada habilidade assimilada em uma etapa da vida servirá para o aprendizado na seguinte.

Estudo de caso

Ao longo da Troca de Saberes, as participantes também puderam compartilhar informações sobre casos de crianças que foram acompanhadas e que necessitavam de mais atenção em algumas dimensões de seu desenvolvimento. Muitas vezes, algumas crianças ainda não apresentam o desenvolvimento adequado para sua faixa etária e, quando isso ocorre, é importante ficar atento e promover as intervenções necessárias.

Conversar com a família para uma parceria é fundamental. Além disso, as educadoras devem focar o trabalho na atenção individualizada e proteger as crianças de experiências negativas. “Muitas vezes a criança não quer ir brincar com outros colegas ou não quer comer no refeitório. Precisamos observar o motivo deste comportamento e evitar situações de conflito, evitando assim o estresse tóxico. Um olhar individualizado para essa criança faz toda a diferença porque o que move a aprendizagem são os vínculos saudáveis”, falou a orientadora educacional do Serviço Social da Paróquia São Paulo Apóstolo, (SPES), Michelly Salomão.

Para Mariana Zanetoni, orientadora pedagógica da AMIC Campo Belo, a troca de informações é essencial, especialmente em estudos de caso. “Hoje trouxemos o caso de uma criança que apresenta uma deficiência auditiva e falamos das ações que estamos realizando. Acabamos trocando experiências com a diretora educacional do Instituto Dona Carminha, que tem experiência no atendimento de pessoas com deficiência, e isso foi muito enriquecedor”, contou.

“Trocar experiências, rever nosso trabalho e fazer reflexões é muito importante para nosso trabalho. E isso nos fortalece e nos mostra que podemos fazer novas ações que serão importantes nas vidas das crianças, colaborando para seu desenvolvimento”, pontuou Valéria Ruggeri, diretora educacional do Centro de Formação Semente da Vida.

O que é o Desenvolvimento Infantil

É um processo vivido pela criança desde seu nascimento até os seis anos de idade e que engloba aspectos físicos, emocionais, sociais e cognitivos. Para um bom desenvolvimento nesta fase, a criança precisa de um ambiente acolhedor, harmonioso e rico em experiências. O cuidado começa já no período pré-natal, quando é preciso ter especial atenção com a mãe e com o ambiente em que ela está inserida, e segue de forma intensiva até que a criança chegue aos seis anos de idade. Também são essenciais nesta fase o envolvimento e a participação da família, da rede social de apoio e das políticas públicas que organizam serviços para apoiar as necessidades de famílias e crianças, e para respeitar os seus direitos.

Primeira Infância em Foco

O Programa Primeira Infância em Foco é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe em esforços para promover o desenvolvimento da primeira infância com objetivo de assegurar que todas as crianças tenham desenvolvimento adequado à sua faixa etária.

Saiba mais: https://www.feac.org.br/novoolhar/