(Por Claudia Corbett)
As tardes das segundas-feiras são as mais esperadas pelas idosas do Lar dos Velhinhos de Campinas (LVC). Este é o dia da semana que a voluntária Sandra Soares Penteado dedica seu tempo para conversar e cuidar das unhas destas vaidosas senhoras.
“Quando minha mãe faleceu, decidi me dedicar a algo que desse sentido à minha vida e que ao mesmo tempo fizesse bem para alguém. Cheguei no LVC pensando que ia somente ajudá-las. Hoje, posso comprovar que elas também contribuíram para que eu aceitasse meu luto”, contou a voluntária.
As atividades desenvolvidas por voluntários em instituições para idosos, de longa permanência, têm contribuído para amenizar a solidão deles. O que gera um vazio nas pessoas que envelhecem é o sentimento de que a contribuição que deram para o mundo se esgotou. “Este sofrimento é causado pela necessidade de fazer algo para alguém, que não é atendida”, contextualizou Edison Vidal, médico geriatra.
Esta experiência não é diferente com os homens idosos. “Eles são mais fechados. Mas aprendi como tirá-los do silêncio. Indagar sobre algo da profissão que exerceram é um estimulo certeiro”, observou Fernando Gouvêa, voluntário na instituição há 40 anos. O técnico administrativo aprendeu a fazer barba e cortar cabelo, profissionalmente, para atender as necessidades dos idosos. “Eles contam as histórias da juventude. Descrevem os locais onde moraram. Relatam sobre a dinâmica da cidade onde viveram. Falam até sobre a política da época. Percebo que a voz deles fica mais firme. Isso faz bem a eles”, reconheceu.
Muitos destes relatos estão publicados no livro `Entre memórias, emoções e afetos – Histórias de vida dos moradores do Lar dos Velhinhos de Campinas´. A obra é resultado do trabalho voluntário da jornalista Vanessa Paola Rojas Fernandez, realizado em 2014. A renda total das vendas foi revertida para a entidade.
“Este tipo de interação tem um significado. O idoso está contribuindo. Dividindo com sua experiência. Contando sua história para contribuir para a vida da outra pessoa”, complementou o geriatra.
Via de mão dupla
Homens e mulheres da terceira idade estão cada vez mais envolvidos com causas sociais. Também dedicam tempo e talento. O Centro de Voluntariado FEAC, em seus encontros de mobilização ao trabalho voluntário, recebe um número considerável de idosos. Eles buscam preencher o vazio do dia a dia, com atividades que sabem fazer. Sentem-se plenos quando percebem que estão contribuindo para o bem comum, especialmente em prol de pessoas em situação de vulnerabilidade social.
“Quando as pessoas estão exercendo o voluntariado, encontram mais do que buscavam. Elas descobrem disposição, sentimento de pertencimento e de ser útil ao próximo. Deixam o isolamento de seus lares. Fazem novas amizades. E melhoram a autoestima e ganham em qualidade de vida”, comentou Marcela Doni, assessora técnica do Centro de Voluntariado FEAC.
Maria Helena de Barros Salek há mais de dez anos faz parte do grupo de costura do Centro Espírita Allan Kardec, entidade parceira da FEAC. “Esta foi a melhor escolha que fiz para a minha velhice”, ressalta a voluntária. Aos 80 anos, a ex-professora universitária coordena o grupo de voluntárias de corte e costura, que responde pelas peças para o enxoval de bebês de mães em situação de vulnerabilidade social. “Sempre dizemos que estas crianças recebem mais do que roupas para vestir. Recebem amor”, destacou.
Informações sobre o Encontros de Mobilização ao Trabalho Voluntário – do Centro de Voluntariado da FEAC: (19) 3794.3544 ou [email protected]