(Por Ingrid Vogl)
“Eu sei que comida saudável também é gostosa”. Com um sorriso cativante, Larissa da Silva, 5 anos, resume o que tem aprendido sobre o instigante e saboroso mundo da culinária. Todos os meses, ela e seus 30 colegas da turma do agrupamento III da escola de educação infantil Lar Ternura, parceira da Fundação FEAC, vão para a cozinha preparar receitas.
A atividade faz parte do Projeto Culinária, que é desenvolvido há cerca de 8 anos pela escola e vem sendo aprimorado de acordo com as necessidades da comunidade escolar. Segundo Cláudia Shimamoto, diretora do Lar Ternura, o foco atual do projeto é a conscientização das crianças sobre a importância de adotar uma alimentação saudável. Os educadores vêm trabalhando este enfoque há 1 ano, após perceberem que não só as crianças, mas também suas famílias tinham uma alimentação inadequada.
Para que houvesse o envolvimento dos familiares, a equipe de educadores pede todos os meses que os pais enviem receitas saudáveis, pelo caderno de recados dos alunos. E as famílias são assíduas participantes da ação. Espetinho de frutas, sucos variados, tortas, bolos e muitas outras receitas gostosas chegam mensalmente até a escola.
Após o envio das receitas, a professora lê para as crianças cada uma delas, e por meio de votação, uma é escolhida para ser preparada no fim de cada mês. Até que chegue o dia do preparo da receita, as educadoras, em sala de aula, discutem com as crianças sobre os ingredientes a serem usados, como por exemplo, quais vitaminas possuem, qual sua origem e como deve ser feita a higienização dos alimentos antes de serem consumidos. Também é feita uma reflexão em sala de aula sobre o que é um alimento saudável e o que é gostoso.
“A professora problematiza o assunto com as crianças, perguntando, por exemplo, se é mais saudável comer um bolo de chocolate ou tomar um suco de frutas. E quem define é o grupo. O objetivo não é que elas deixem de comer o que é gostoso, porque são crianças, mas que tenham a consciência de fazer escolhas saudáveis, pois isso começa com as crianças e acaba chegando em casa e transformando toda a família”, explicou Cláudia.
A horta cultivada na escola é uma extensão do projeto e é outro espaço onde as crianças vivenciam o tema alimentação saudável. Lá, elas têm a oportunidade de participar do plantio, da colheita, aprendem a higienizar os vegetais, experimentam o alimento in natura e também com temperos. Quando a colheita é farta, os pequenos levam para casa alface e outras hortaliças.
A interdisciplinaridade também está presente no Projeto Culinária, já que a partir dos ingredientes das receitas são trabalhados assuntos relacionados à matemática, como quantidades; língua portuguesa com a linguagem oral e escrita; e também outros temas como sabores, olfato, textura, higiene. Tudo isso aliado a muita experimentação.
Após o preparo do alimento, todo o processo é registrado em sala de aula. No fim do ano, as receitas elaboradas pelos alunos são reunidas em um livro para que a criança leve o material para casa. Isto acaba incentivando a família a experimentar os quitutes que já foram preparados pelas crianças.
De acordo com Adriana Nunes da Silva, assessora técnica do programa Primeira Infância em Foco (PIF) do Departamento de Educação da FEAC, trabalhar com projetos possibilita a aprendizagem por meio do estabelecimento de relações e da utilização das múltiplas linguagens. A participação ativa das crianças e a possibilidade de respeito à escuta, ao diálogo e às negociações realizadas na prática educativa entre crianças e educadores é fundamental. “Nesse projeto sobre alimentação saudável, fica evidente que são propostas realizadas com crianças e não para as crianças”, analisou.
Pequenos cozinheiros
Dentre todas as etapas da culinária, a que mais empolga as crianças é o preparo dos alimentos, feito na cozinha da escola. Com as mãos devidamente lavadas e toucas para evitar que fios de cabelo caiam durante o manejo da comida, elas seguem para o refeitório e sentam nos bancos para aguardar a orientação da professora. O local possui cartazes com desenhos de frutas, legumes associados a palavras como disposição e alegria, que convidam para uma alimentação saudável.
A receita escolhida pelas crianças naquela manhã foi suco de laranja, mamão e banana. Ao lado do papel afixado na parede que mostrou didaticamente as quantidades de cada um dos ingredientes por meio de desenhos, a professora Lenice Lustosa Antunes interagiu o tempo todo com os pequenos: fez a contagem das laranjas usadas no preparo, compartilhou as cascas para que os pequenos sentissem o aroma cítrico da fruta e relembrou as vitaminas que cada ingrediente possui. À medida que a professora ia comandando o preparo do suco, os alunos eram chamados para ajudar e participar de todo o processo, sempre curiosos e interessados. Mãozinhas para cima enviando energia positiva também fizeram parte da preparação do suco.
Depois de toda a atividade, hora da degustação. Com um copo nas mãos, cada uma das crianças aguardou pacientemente a professora compartilhar o alimento com todos. “O suco ficou muito gostoso e tem um cheirinho de banana. Eu adoro a culinária porque aprendo o que é comida saudável e ensino pra minha mãe também ”, disse Muriele Vitória Santos Gava, 5 anos.
Durante toda a ação culinária, a satisfação da professora estava estampada em seu rosto. “As crianças estão empenhadas em participar e aprender com o projeto. A todo momento elas comentam sobre o que estão aprendendo e fazem relações com sua rotina de alimentação familiar. Apesar de existir um forte apelo publicitário para que se consuma alimentos não saudáveis, estamos gradualmente trabalhando o que faz bem para a saúde. O que pretendo é que até o fim do ano as crianças estejam bem conscientes do que é bom para eles”, apostou Lenice.
Resultados
O desenvolvimento do projeto envolvendo os 91 alunos de 3 anos a 5 anos e 11 meses rapidamente refletiu resultados positivos em toda a comunidade escolar. Segundo Cláudia, na hora da refeição na escola, as crianças costumavam misturar todos os alimentos no prato, mas hoje elas preferem comer separadamente a salada e, em seguida, consumir o prato principal. A equipe de educadores também notou que a obesidade entre as crianças diminuiu e que os pais estão mais preocupados com a alimentação dos filhos em casa. As famílias também sempre apresentam relatos sobre os filhos que começaram a pedir para comer saladas durante as refeições e até mesmo para plantar os vegetais em casa.
“Estamos felizes por alcançarmos nossos objetivos com o projeto. As famílias nos dizem que estão se alimentando melhor e que os hábitos em casa passaram a ser mais saudáveis. E é justamente nisto que acreditamos: mudar o hábito da criança necessariamente muda o hábito da família”, apostou a diretora.
O próximo passo da culinária escolar é trabalhar com a utilização de cascas de alimentos, caminhando assim para a utilização integral e melhor aproveitamento dos hortifrútis. E assim, crianças vão experimentando texturas e sabores do delicioso universo culinário e aprendendo que a boa alimentação é essencial para uma vida saudável.
Saiba mais sobre o Lar Ternura: www.larternura.com.br