O empreendedorismo tem sido cada vez mais reconhecido como uma via poderosa de transformação social, especialmente em regiões periféricas e para pessoas em situação de vulnerabilidade. No Brasil, onde a informalidade do mercado de trabalho é alta, o empreendedorismo surge como uma alternativa viável para milhares de pessoas que enfrentam dificuldades de acesso ao emprego formal, especialmente nas regiões mais marginalizadas. O ato de empreender, contudo, requer uma combinação de características pessoais e desafios que nem todos conseguem superar sem o apoio adequado.
Características do Perfil Empreendedor
O perfil empreendedor é moldado por uma série de características que incluem resiliência, iniciativa, criatividade e disposição para assumir riscos. Esses traços são essenciais para superar obstáculos econômicos e estruturais que afetam desproporcionalmente pessoas em situação de vulnerabilidade.
Segundo uma pesquisa do Sebrae, o Brasil tem hoje cerca de 52 milhões de empreendedores, e o empreendedorismo por necessidade continua sendo uma grande motivação. De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022, 37,5% dos empreendedores brasileiros começaram seus negócios por falta de alternativas no mercado de trabalho. Nas regiões periféricas, o perfil do empreendedor é ainda mais influenciado por essa realidade, com muitos buscando criar soluções locais para problemas que os cercam, como falta de serviços básicos ou de oportunidades de consumo.
Além disso, as habilidades interpessoais, como a capacidade de negociação e liderança, são frequentemente destacadas como essenciais para o sucesso de um empreendedor. Para quem vive em regiões vulneráveis, a rede de apoio e o acesso a capital são igualmente importantes, ainda que muitas vezes inacessíveis.
Desafios do Empreendedorismo
Empreender, especialmente em situações de vulnerabilidade, carrega desafios substanciais. Entre os principais estão a falta de acesso a crédito, informalidade, burocracia e falta de capacitação. Para pessoas em regiões periféricas, esses problemas se somam a dificuldades como acesso precário à infraestrutura e limitações educacionais. Segundo o Sebrae, 60% dos pequenos empreendedores fecham suas portas após cinco anos de operação, uma taxa influenciada por esses fatores.
O cenário de desafios é ainda mais acentuado para grupos específicos, como mulheres, jovens e pessoas negras. Embora o empreendedorismo feminino esteja em ascensão, com 34% das mulheres brasileiras à frente de negócios próprios, elas enfrentam maiores barreiras no acesso ao crédito e à formalização. Já os jovens têm mostrado crescente interesse pelo empreendedorismo, especialmente no setor digital, mas carecem de experiência e apoio.
O Impacto Transformador do Empreendedorismo nas Periferias
Nas regiões periféricas, o empreendedorismo tem um papel transformador ao gerar renda, capacitar indivíduos e fortalecer a economia local. Iniciativas de empreendedorismo social, que focam na solução de problemas sociais por meio de negócios sustentáveis, têm ganhado força em Campinas e em outras áreas urbanas. Essas iniciativas frequentemente oferecem produtos e serviços que atendem diretamente às necessidades das comunidades, ao mesmo tempo em que criam empregos e empoderam pessoas marginalizadas.
Em Campinas, iniciativas apoiadas pela Fundação FEAC, como capacitações para pequenos empreendedores e parcerias com negócios sociais, têm demonstrado que o fortalecimento do empreendedorismo em regiões periféricas pode gerar um impacto direto na inclusão produtiva. Essas ações têm o potencial de quebrar o ciclo de pobreza, ao permitir que indivíduos gerem suas próprias oportunidades.
Empreendedorismo, Gênero, Raça e Classe Social
O perfil do empreendedor no Brasil reflete as desigualdades presentes na sociedade. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2021 mostram que pessoas negras e pardas têm menos acesso ao crédito, o que impacta diretamente o desenvolvimento de seus negócios. Mulheres negras, enfrentam uma dupla desvantagem: são menos propensas a receber financiamento e muitas vezes têm menos oportunidades de educação formal. Isso as coloca em situação de maior vulnerabilidade econômica.
A desigualdade geracional também é um fator importante. Muitas vezes, a sociedade incentiva jovens de periferia a empreender por necessidade, mas não lhes oferece acesso adequado a recursos, redes de apoio ou mentoria. O Sebrae aponta que programas voltados para a capacitação e apoio a jovens empreendedores têm sido fundamentais para garantir que essas iniciativas prosperem.
Caminhos para a Transformação
Políticas públicas, instituições privadas e organizações da sociedade civil precisam trabalhar em conjunto para transformar a realidade do empreendedorismo nas periferias. A Fundação FEAC tem investido em programas que promovem capacitação, acesso a crédito e desenvolvimento de habilidades, principalmente voltados para mulheres, jovens e populações negras. Além disso, parcerias com projetos de impacto social, como a Coalizão pelo Impacto do ICE, ajudam a construir um ecossistema mais inclusivo e sustentável para empreendedores de regiões vulneráveis.
O apoio contínuo a essas iniciativas é crucial para garantir que o empreendedorismo seja uma via real de transformação social e inclusão produtiva para quem mais precisa.
Empreendedorismo como caminho
O empreendedorismo oferece não apenas uma alternativa ao desemprego, mas também um caminho para o empoderamento e transformação social. Em regiões periféricas, o impacto pode ser ainda mais profundo, ao fornecer oportunidades para aqueles que enfrentam as maiores barreiras econômicas e sociais. No entanto, para que essas transformações ocorram de maneira sustentável, é essencial o apoio de iniciativas que promovam o desenvolvimento de habilidades, a inclusão financeira e a criação de redes de apoio.