O Projeto Novo Olhar, da Fundação FEAC, tem a missão de transformar a qualidade de ensino das escolas de educação infantil, que contemplam o atendimento de crianças de 0 a 6 anos. O ponto de partida do projeto é um percurso formativo extensivo às equipes gestoras e professores das escolas participantes, onde os profissionais são impulsionados para a construção de um projeto pedagógico inovador e democrático, que promove o protagonismo das crianças e o seu desenvolvimento pleno.
A boa receptividade do projeto permitiu que, pela primeira vez, uma metodologia da FEAC fosse adotada além das fronteiras de Campinas: o Instituto Arcor Brasil (IAB), parceiro da FEAC na edição Novo Olhar de Campinas, investiu na contratação do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Unicamp, de forma a replicar o projeto em todas as escolas da rede municipal de Educação Infantil de Rio das Pedras (SP).
“A temática da primeira infância deve ser pauta de extrema relevância em se tratando de políticas públicas, portanto não deve haver limites para investimentos nesse sentido, nem mesmo limites territoriais”, destaca Teresinha Klain, analista de projetos do Programa Primeira Infância em Foco, da FEAC.
Com o apoio da Secretaria Municipal de Educação de Rio das Pedras, nove escolas municipais de educação infantil estão engajadas no projeto. Cerca de 120 profissionais participam de aulas virtuais quinzenais, coordenadas por pesquisadores do Nepp, da Unicamp.
Novo Olhar: além de Campinas
O percurso formativo Novo Olhar foi idealizado pelo Programa Primeira Infância em Foco, da FEAC, em 2021, em um crítico momento da pandemia de Covid-19. Com as escolas fechadas, o projeto nasceu com a proposta de qualificar as equipes escolares nesse período de isolamento social. Entre março e agosto, mais de 400 profissionais da educação infantil de Campinas participaram da formação on-line.
A replicação do Novo Olhar aconteceu por intermédio do Instituto Arcor Brasil, que possui sua matriz em Rio das Pedras. Faz parte da atuação do IAB promover projetos que incidam em pautas da primeira infância nos municípios onde a empresa Arcor tem base industrial. Milena Azal, coordenadora do Instituto Arcor, enxergou potência no projeto e o apresentou para a Secretaria Municipal de Educação do município, com a proposta de torná-lo uma política pública.
“O Instituto Arcor compartilha os mesmos objetivos do projeto, que é aguçar a sensibilidade dos professores e equipe gestora, para que eles sejam mais sensíveis ao desenvolvimento infantil e construam um projeto educativo no qual as crianças sejam mais autônomas”, afirma Milena.
A prefeitura aderiu à sugestão de parceria em agosto de 2021. “Para nós, a formação dos professores é essencial, e quando nós vimos que o projeto traz essa proposta, a fim de melhorar a qualidade da educação infantil, nós ficamos muito felizes”, diz Daniel Gonçalves, secretário Municipal de Educação de Rio das Pedras.
O secretário avalia que, atualmente, o maior desafio das escolas de educação infantil do município é a parte estrutural: é preciso ampliar os espaços para atender mais crianças. “Nós temos duas escolas que, no segundo semestre, vão começar a etapa de reforma dos espaços físicos. O projeto, sem dúvida, está trazendo bastante conteúdo e conhecimento para que isso seja feito da maneira adequada.”
Construindo uma nova educação infantil
Ao todo, o percurso formativo é composto por cinco módulos. Em Rio das Pedras, três módulos já foram concluídos: no primeiro, foi apresentada a fundamentação teórica de um novo projeto educativo da educação infantil. As equipes escolares são convidadas a repensarem por que a educação é tão importante na primeira infância.
A partir das reflexões, um novo projeto pode ser colocado em prática, pautado em práticas democráticas que são detalhadas nos próximos módulos. O projeto proposto segue as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que orientam a educação de acordo com os princípios da Constituição de 1988.
No segundo módulo, os participantes aprendem a importância da pesquisa das crianças. Uma criança pesquisadora é aquela que tem curiosidade em explorar o ambiente que a rodeia. O professor deve estimular que a pesquisa aconteça, viabilizando, por exemplo, as brincadeiras em contato com a natureza.
“Ambientes ao ar livre e o contato com materiais orgânicos como as plantas, solos diversos e manejo da água são extremamente importantes para todos da comunidade escolar, que ajudam a fazer da escola um lugar potente, vibrante e afetivo”, analisa Teresinha, da FEAC.
Por último, as equipes escolares de Rio das Pedras realizaram o terceiro módulo, que apresenta a importância da organização dos ambientes da educação infantil. Como os espaços físicos podem potencializar as brincadeiras e o desenvolvimento das crianças?
“Muitas vezes, pensamos no ensinar e aprender restrito à sala de aula, mas a perspectiva pode ser mais ampla: a criança pode aprender no refeitório, com os sabores dos alimentos e com o uso dos talheres. Ela também pode aprender no parque, pesquisando a natureza”, exemplifica Roberta Borges, professora de pós-graduação na Faculdade de Educação da Unicamp e coordenadora do Nepp.
Impactos e próximos passos
No dia 27 de maio, o percurso formativo Novo Olhar foi apresentado na Câmara Municipal de Rio das Pedras, com o intuito de divulgá-lo aos vereadores e à comunidade. Representantes da Fundação FEAC, do Nepp e do Instituto Arcor conduziram a apresentação.
Roberta Borges, do Nepp, reforça a importância de um projeto como esse contar com a parceria do poder público, inclusive para viabilizar financeiramente as intervenções nos espaços escolares. “Um novo projeto educativo também é uma mudança política. Nós fizemos essa apresentação para que os vereadores se envolvam e apoiem o projeto”, explica.
Roberta avalia que já começou a observar mudanças nas escolas. “Por exemplo, usava-se muito plástico nas brincadeiras com as crianças, como tampinhas e brinquedos de plástico. Agora, vemos que os professores estão levando outros tipos de materiais, mais orgânicos, para dentro da sala”, diz.
A equipe do Nepp também realizou visitas técnicas nas escolas, para orientar a construção de um projeto de pesquisa, que será realizado no próximo semestre. A proposta é que cada escola identifique seu maior desafio e, a partir disso, coloque em prática o que aprendeu nas aulas teóricas.
O projeto pode ser, por exemplo, a ampliação de seus espaços físicos – como mencionado pelo secretário Daniel – ou a construção de ateliês de arte, equipados com utensílios de desenho e pintura, como pincéis, tintas e argilas, a fim de estimular a linguagem artística da criança.
No próximo dia 30 de junho será realizada uma formação presencial com a participação de todos os funcionários das escolas, num total de 180 pessoas. Também estão previstas visitas às escolas de outras cidades e a aproximação das famílias.
Por fim, nos dias 24 e 25 de novembro, uma exposição no centro pedagógico de Rio das Pedras, irá reunir os trabalhos das crianças desenvolvidos durante o percurso formativo. “Não tenho dúvidas que quem mais vai ganhar é a criança, que terá mais repertório de vida e leitura de mundo”, conclui Milena, do Instituto Arcor.