Estão sendo desenvolvidas ações de escuta com alunos e professores, além de lives com especialistas e entrevistas com candidatos. Semana será entre os dias 19 e 23 de outubro
(Por Ingrid Vogl)
Educação como projeto de política pública. Esta é a ideia que norteia a 11ª Semana da Educação de Campinas, que acontece de 19 a 23 de outubro e pretende ser um espaço de voz de quem está na sala de aula e conexão com o poder público. O evento, já consolidado na agenda da cidade, tem o objetivo de mobilizar a sociedade para o diálogo sobre a educação pública, colocando o tema em evidência e reconhecendo que a educação deve ser um projeto de política pública, contribuindo assim para um ensino/aprendizado cada vez melhor.
Em 2020, ano de eleições municipais, a Semana da Educação de Campinas se propõe a contribuir com um diálogo que apresente propostas técnicas de pesquisadores, além de entrevista com os candidatos à prefeitura sobre suas propostas de governo na área da educação. Todas as atividades serão gravadas e/ou online, respeitando o panorama de pandemia em que ainda estamos.
Os manifestos dos estudantes e professores serão apresentados aos candidatos eleitos. O objetivo é que seja estabelecido um diálogo, de modo a incluir em seus projetos políticos as demandas por eles trazidas. E para que reafirmem um compromisso político indicando o investimento em esforços para a superação dos desafios elencados a partir das pesquisas e diálogos da 11ª Semana da Educação.
“Em sua 11ª. edição, a Semana amplifica a voz de atores fundamentais para transformar a educação: educadores, alunos, especialistas e candidatos à prefeitura de Campinas. Em especial, a escuta de alunos e educadores alicerçará a construção de documentos que serão entregues aos eleitos para que beneficiem debates e a construção de políticas públicas”, explicou Cristiane Stefanelli, coordenadora de projetos da Fundação Educar DPaschoal e um dos membros do Comitê Gestor da Semana da Educação.
Solte sua voz
A primeira ação da 11ª Semana da Educação aconteceu na sexta-feira, dia 18 de setembro, com o encontro online “Solte sua voz”. A proposta foi mobilizar 140 jovens de escolas públicas campineiras que se inscreveram para uma escuta dos estudantes dos últimos anos do ensino fundamental, ensino médio e alunos que concluíram o ensino médio na rede pública a partir de 2018.
Facilitado pelo Coletivo Sem Rótulo, a escuta dos alunos foi feita a partir de dois desafios: superar a evasão escolar no ensino médio e implementar tecnologias e metodologias ativas. O objetivo é construir um manifesto com as demandas e necessidades dos jovens levando-se em consideração o panorama pandêmico e pós pandêmico.
O encontro teve como proposta sensibilizar jovens e desafiá-los a se tornarem embaixadores para multiplicar a pesquisa sobre as duas temáticas discutidas para colegas de escola e, assim, ouvir o maior número possível de vozes dos estudantes das escolas públicas de Campinas.
“O resultado do encontro foi um sucesso e o retorno dos adolescentes bastante positivo. Além da escuta, foi importante a troca de experiências entre pares e a percepção dos próprios adolescentes sobre a importância dessa participação para o avanço da educação pública da nossa cidade”, afirmou Cristiane.
Segundo Marina Carvalho, facilitadora do evento com os jovens e cofundadora e responsável pelas experiências de aprendizado do Coletivo Sem Rótulo, abrir espaço para escuta de quem vive dentro da escola é tão necessário quanto inspirador. “Vê-los dialogando sobre os desafios e propondo soluções é maravilhoso! A potência que existe na percepção e no pensar deles é uma oportunidade de ouro. Escutar essas vozes é, para além de inspirador, uma forma que acredito ser muito mais eficiente se buscamos por melhoria na educação pública. Não tem como evoluir, se os mantivermos à parte dessa mudança”, opinou.
Vozes conscientes
Os diálogos com os jovens aconteceram com a divisão em dois grupos: o primeiro discutiu as principais causas da falta de envolvimento dos alunos na sala de aula. Além disso, os estudantes indicaram ideias de soluções para engajar alunos na aprendizagem.
Como soluções, os jovens foram diversificados: propuseram desde a gamificação, formação dos professores para novas tecnologias, até a quebra do tabu de que não existe matéria chata e difícil, o que muda é a maneira como o conteúdo é apresentado.
“Quando o professor traz algo diferente a gente se exalta positivamente, temos mais atenção. O ideal era ter menos teoria e mais mão na massa. Nesse sentido, a gamificação é uma pedida, para criar ambientes de aprendizagem onde a gente aprenda de forma mais interessante, dinâmica e divertida”, afirmou Pedro Henrique Correa Calheriani, que desenvolveu uma plataforma virtual de ensino para escola dele.
Samuel Ribeiro chamou a atenção para o investimento na formação dos professores em relação às novas tecnologias. “Muitos professores não sabem lidar com as ferramentas tecnológicas e na hora de executar, se perdem. Outra questão é desmistificar aquele estereótipo de que uma matéria é mais difícil ou fácil, é preciso mostrar que não é um bicho de sete cabeças. É preciso desconstruir esse estereótipo para construir um ambiente ideal de ensino e aprendizado”, analisou.
Para o segundo grupo, a pergunta foi se os alunos conheciam alguém que tenha abandonado os estudos e quais seriam as principais causas da evasão escolar. E o desafio foi apontar ideias de solução para minimizar a evasão escolar. Infelizmente, todos os grupos conheciam pessoas próximas que haviam interrompido os estudos pelos mais variados motivos: começar a trabalhar cedo, engravidar, desmotivação.
Para Samuel Julião, é preciso pensar em formas diferenciadas de dar aula que impactam diretamente no interesse dos alunos pelos estudos. “Os professores precisam incentivar, acolher e interagir com os alunos, porque sinto que isso influencia na falta de incentivo para os estudos. Talvez reuniões frequentes com alunos e professores sejam uma forma de aproximá-los”, disse.
Soraya Bertoni ressaltou a importância das escolas terem projetos que foquem no protagonismo juvenil e a necessidade da divulgação de iniciativas relacionadas a jovens aprendizes. “Muitos estudantes acabam desistindo da escola para trabalhar, mas é preciso uma ação de conscientização na escola explicando que estudo e trabalho podem ser conciliados”, frisou.
A pesquisa com os estudantes se encerra dia 28 de setembro, quando os dados coletados serão analisados para a produção de um manifesto dessa voz do jovem. Esse documento será encaminhado ao candidato eleito com o propósito de estabelecer um compromisso de olhar atento para essas vozes e inspirar propostas e políticas públicas de soluções para esses desafios.
Semana da Educação
Ao longo de 11 anos, a Semana da Educação de Campinas se caracterizou por um processo constante de mobilização e articulação que foi aprimorado e hoje se constitui como um projeto coletivo: desde a etapa de planejamento, passando pelo processo de execução e avaliação.
Neste processo, em 2019 foi criado o Comitê de Governança, composto por integrantes da Fundação FEAC, Fundação Educar, Secretaria Municipal de Educação e Secretaria de Educação do Estado de São Paulo com o objetivo de planejar e implementar o evento naquele ano.
O Comitê identificou os desafios que norteiam o conteúdo das atividades propostas para a Semana da Educação pelos próximos 10 anos, elencando 05 conquistas alcançadas na última década: universalização do ensino fundamental; aprovação da Base Nacional Comum Curricular; existência de diversos recursos pedagógicos; escolas com grêmios estudantis e inclusão e diversidade. O grupo apontou também os 05 desafios que precisam avançar nos próximos 10 anos em Campinas: acesso à creche com qualidade na condição de oferta; garantir a alfabetização na idade certa; superar a evasão escolar no ensino médio; implementar tecnologias e metodologias ativas; valorizar a carreira do profissional de educação.
Para 2020, o Comitê de Governança elegeu três desafios a serem debatidos: garantir a alfabetização na idade certa; superar a evasão no ensino médio e implementar tecnologias e metodologias ativas. É a partir desses temas que a 11ª Semana da Educação se organizou para evidenciar: voz dos alunos, voz dos educadores, voz dos especialistas e compromisso público dos candidatos.
Após a escuta dos alunos, haverá o diálogo com professores das escolas públicas de Campinas em outubro. Por meio da articulação das Secretarias Municipal e Estadual de Educação, o objetivo é dialogar com educadores do ensino fundamental e médio das escolas públicas de Campinas a respeito dos desafios elencados pelo Comitê de Governança como norteadores para o evento deste ano.
Outra ação prevista para a 11ª edição do evento é a apresentação de propostas objetivas por parte de especialistas de como podemos superar os desafios tratados nesta Semana da Educação, considerando o período pós pandemia. Neste sentido, será feita uma live na semana do dia 19 de outubro.
Entrevista com os candidatos à prefeitura de Campinas também serão gravadas e disponibilizadas nas redes sociais. A pauta será educação em Campinas e o objetivo é compartilhar as propostas políticas governamentais em relação a área da educação.
De 19 a 23 de outubro estão previstas divulgações nas redes sociais de um material educativo sobre as eleições, elaborado pela Fast Food da Política. Serão feitos posts com adaptações dos conteúdos e mecânicas dos jogos desenvolvidos pela Fast Food da Política no formato compatível à replicação em mídias sociais para o desenvolvimento do pensamento crítico e informativo sobre as regras da Política Brasileira e também sobre a formação cultural da sociedade.
A realização da 11ª Semana da Educação tem o patrocínio da Fundação Educar DPaschoal e Iguatemi Campinas.
Saiba mais em: semanadaeducacao.org.br