No último 2 de julho, foi dia de compartilhar as experiências vividas nos últimos dois meses de formação dos profissionais da Região Noroeste de Campinas, que atuam nos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos da política de assistência social. Uma iniciativa da parceria da Fundação FEAC, por intermédio do Departamento de Assistência Social, e da Secretaria de Cidadania, Assistência e Inclusão Social – SMCAIS.
A palestra, que deu início ao evento, ministrada por Abigail Torres e Lúcia Helena Nilson, facilitadoras da formação, fizeram uma linha do tempo do serviço realizado pelas instituições sociais voltado a crianças e adolescentes. “Esse processo vem sendo construído há bastante tempo e com isso perdemos a noção histórica do porquê. O que fizemos hoje foi retomar esse caminho de evolução das instituições que em 1995 queriam tirar as pessoas na rua. Mais tarde, começaram a ver as atividades que complementam a escola. E ai surgiu a preocupação com a metodologia, com a didática, trabalho que está sendo feito até hoje”, contextualizou Lucia Helena.
Várias instituições se destacam nesse trabalho, mas a grande maioria muitas vezes não articula com a escola. A escola espera muita contribuição da instituição e essa também espera o respaldo da escola. Esse processo conjunto demorou um tempo para começar a aparecer. “Elas trabalham com a mesma criança que frequenta a escola e o projeto ou programa, mas não têm essa articulação, completou Lúcia Helena.
A preocupação atual é focar na convivência. As atividades devem ser feitas com o objetivo do contato diário do grupo, para que haja uma relação de igualdade e que todos possam se desenvolver plenamente. “Encontrar uma clareza do porquê daquela atividade e fazê-la bem feita. Se perguntar: como eu utilizo a dança, por exemplo, de maneira que ela provoque uma melhor convivência entre as pessoas que fazem esta atividade? É o aprender a conviver convivendo, todo o trabalho que vem sendo feito deve aliar a teoria à prática”, destacou a facilitadora da Formação.
Para Luiz Mendes coordenador do Projeto Gente Nova, entidade conveniada à Fundação FEAC que atua na região Noroeste, foco da terceira formação, foi uma oportunidade fundamental para consolidação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e para o fortalecimento da rede formada por organizações que atuam desenvolvendo serviços de convivência e fortalecimento de vínculos que atuam na região onde o Progen está localizado. “Um encontro desse potencializa o trabalho, especialmente para os educadores que tem pouca formação. Se tivermos mais oportunidades como esta, o trabalho terá cada vez mais qualidade. E é fundamental para o público que acessa o serviço, que ele tenha algo realmente voltado para a garantia dos seus direitos e para a compreensão e exercício da convivência tão desafiante em nossa sociedade”, enfatizou Luis. “Quando estamos juntos, nós nos reconhecemos como profissionais que executam um sistema. Essa atividade formadora contribuiu para que nos olhássemos, enxergássemos as nossas fragilidades, as nossas fortalezas e as nossas habilidades. Agora, não podemos deixar isso em um canto temos que, unidos, dar continuidade a essa formação”, provocou.
A manhã de compartilhamento foi enriquecida com seis oficinas: Capoeira, musicalidade e luta; Cultura popular nordestina; Jogos e Brincadeiras; Dança, Figurino e suas possibilidades, todas ministradas por educadores da Região Noroeste. A oficina de Cobertura Colaborativa foi desenvolvida por representantes da região Leste. A sexta oficina, Radio-Carta foi realizada por educadoras de um serviço de convivência e fortalecimento de vínculos da cidade de Santos, litoral do Estado de São Paulo. Esse método de produção coletiva é uma experiência que vem dando resultado positivo nas comunidades de Santos localizadas na mesma região ou até não tão próximas, mas que têm os mesmos problemas sociais. “Percebemos que isso poderia ser utilizado no contexto da assistência por conta da vulnerabilidade que crianças e adolescentes de localidades distintas se encontram e para fortalecer tanto no micro do território como também entre os territórios, para que eles entendam a realidade, se enxerguem como sujeitos sua história” explicou Maria Fernanda Bombonatti Portolani.
A gravação das mensagens é feita no celular. As crianças e adolescentes contam do que gostam de fazer, quem são, como são as suas famílias. As mensagens são enviadas para os outros territórios e a partir da troca eles se identificam, se comovem e respondem contando um pouco de si. “O bacana é que nos encontros presenciais eles se reconhecem”, contou Maria Fernanda. Segundo a educadora, essa troca é muito potente, primeiro porque cria vínculos, fortalece a convivência no próprio território e entre os territórios. Por intermédio desta atividade os envolvidos começam a entender como os processos funcionam, que muitas coisas que existem em um território também existem no outro e isso dá um sentido de união e a possibilidade de discutirem para entenderem e descobrirem juntos como resolver ou conviver com isso.
O Rádio-carta foi inspirado no método Cassete-foro desenvolvido pelo filósofo argentino Mario Kaplún em meados da década de 1970. Consistia em um sistema de comunicação para a promoção comunitária da educação de adultos, posto a serviço de organizações populares, rurais e urbanos, centrais cooperativas e centros de educação popular, desenvolvido em vários países da América Latina.
Novas Regiões
Nos meses de agosto e setembro, quem recebe a formação é a região Norte. O programa que teve início em dezembro de 2015 segue até dezembro deste ano. Já envolveu as regiões Sudoeste, Leste e Noroeste. A última região a receber a formação é a Sul, nos meses de outubro e novembro. A cada término de formação de uma região acontece um Encontro de Compartilhamento com atividades diversas e trocas de experiências.
Sobre o Programa Convivência no SUAS
Formação voltada às instituições que executam o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, prioritariamente com participação dos educadores sociais e equipe técnica, com o objetivo de Fomentar a reflexão e o diálogo dos trabalhadores do Serviço Único de Assistência Social (SUAS) sobre a dimensão relacional como resposta de provisão da Assistência Social; construir coletivamente instrumentos e ferramentas para o trabalho social que ampliem os conhecimentos sobre vínculos relacionais como fonte de proteção e de reconhecimento social, e que diversifiquem as estratégias adotadas nos serviços; oferecer subsídios para o reordenamento dos serviços de convivência e fortalecimento de vínculos de forma articulada com os demais serviços de proteção básica e especial.
Informações: (19) 3794.3543