Ingrid Vogl

A importância da parceria família e escola e os caminhos para que esta aproximação de fato aconteça são os assuntos abordados por Sandra Cristina Trambaiolli De Nadai, psicóloga, psicopedagoga, especialista em relações interpessoais na escola e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM), ligado à universidades públicas e privadas como Unicamp e Unesp.

Durante a entrevista, a especialista frisa que mais que a presença em reuniões e festas escolares, os pais e a escola precisam agregar objetivos comuns e estabelecer relações em que compartilhem compromissos e responsabilidades.

O assunto tratado nesta entrevista também é tema do Concurso de Redação Minha Família na Escola edição 2016 , iniciativa da Fundação FEAC por meio do Compromisso Campinas pela Educação, que teve como pergunta norteadora: “Parceria família-escola: O que minha família pode fazer para apoiar o trabalho da escola?”. Em sua sétima edição, o Concurso tem o objetivo de incentivar o debate sobre possibilidades e formas da família apoiar o trabalho da escola com foco na qualidade da educação como um todo.

O Minha Família na Escola já teve seus vencedores anunciados e a solenidade de premiação 2016, reservada a convidados, acontecerá no dia 26 de outubro, às 19h, no Vert Eventos, como parte da 7ª Semana da Educação de Campinas, que será realizada entre os dias 24 e 29 de outubro.

A seguir, confira a entrevista exclusiva que Sandra Cristina Trambaiolli De Nadai concedeu ao Compromisso Campinas pela Educação.

CCE- Qual a importância da parceria família e escola para alunos, pais, professores e demais membros da comunidade escolar e quais os resultados que essa boa relação pode gerar?

Sandra- Duas instituições, escola e família, são responsáveis pela educação das crianças, ambas podem ou não, favorecer o desenvolvimento moral das crianças, depende das práticas educativas destas. Seus papéis são indispensáveis e complementares, mas se uma falhar não quer dizer que a outra não poderá ter êxito.

O desenvolvimento dos alunos (filhos) e a formação das características de suas personalidades se devem a experiências vivenciadas em diversos contextos e não apenas no ambiente familiar, como apontado por praticamente a totalidade de educadores. Os pais também se consideram os responsáveis pelos comportamentos inadequados de seus filhos apontados pela escola (dado de pesquisa); diante desses fatos podemos afirmar que a falta de parceria traz prejuízo para todos, mas para que a parceria seja eficiente precisamos entendê-la não como a concepção que atualmente vemos na escola: de quando podem contar com os pais para ajudar em festas, nas tarefas dos filhos e presença nas reuniões. A parceria que buscamos é que escola e família se agreguem com objetivos comuns e estabeleçam relações em que compartilhem compromisso e responsabilidades.

Quando há parceria não há culpabilização e julgamentos frente aos problemas enfrentados. A família, na maioria das vezes tem o problema terceirizado para si e tenta resolver com os recursos que tem, fazendo uso em sua grande maioria de sanções expiatórias, ao não conseguir resultados acabam por se afastar da escola sentindo-se fracassados e os filhos se decaem aos seus olhos.

Diante da parceria onde a escola informa e busca informações a respeito do aluno utilizando-se de uma linguagem construtiva, descritiva, acessível, sem julgamentos e juízo de valor, os pais sentem-se acolhidos, facilitando o olhar para a escola como parceira.

Todos são beneficiados quando a parceria é no sentido de compartilhar e sentirem-se responsáveis e não culpados, em especial o aluno por ter favorecido seu desenvolvimento moral de maneira coerente entre aqueles que educam, respeitando seus devidos espaços, sendo a escola o espaço das relações públicas e da família das relações privadas.

CCE- Como você vê hoje o panorama dessa relação entre família e escola e quais são os principais desafios a serem enfrentados para que essa aproximação seja efetiva?

Sandra- A relação entre família e escola ainda é pautada em auxílio ao que a escola solicita. O grande desafio é cada um repensar o que lhe cabe e suas responsabilidades e práticas educacionais com os estudantes/filhos, pois o desenvolvimento destes se faz em ambas instituições.

CCE- Quando o assunto é parceria entre família e escola, muito se fala na criação de espaços de diálogos. De que maneira esses espaços podem promover essa aproximação e minimizar os conflitos na escola?

Sandra- Esses espaços podem e devem ocorrer no dia a dia e que a família não seja chamada na escola apenas quando os filhos apresentam problemas, diante disso os pais acabam por se afastar desta. Também formação aos pais, para o favorecimento da autonomia moral dos filhos.

Realizar encontros formais de estudos e reflexões. Para isso, deve-se ressaltar que a escola precisa se conscientizar da necessidade de uma gestão democrática e de um ambiente sociomoral cooperativo, que favoreça o desenvolvimento moral, cognitivo e afetivo do aluno, incluindo, com isso, a família como sua parceira, dividindo responsabilidades e assumindo o papel que cabe a cada uma.

CCE- Quais ações, atividades e estratégias podem ser colocadas em prática pela escola para atrair o interesse dos pais pela vida escolar das crianças e assim, trabalharem juntos com a escola na solução de conflitos?

Sandra- Quando a família se sente acolhida ela vê a escola como parceira, mas se é acusada, sozinha, como aquela responsável pelo “problema” do aluno, seja ele de comportamento ou de aprendizagem, não se estabelece a parceria, mas o afastamento.

A escola é a instituição a quem cabe formalmente a educação, com a responsabilidade de oferecer formação aos pais, pois, o estilo de educação praticado pela família implica na construção da autonomia dos filhos e os pais estão perdidos quanto à educação deles nessa sociedade pós-moderna. A partir da formação a esses pais é que poderemos estabelecer uma parceria.

Os pais são responsáveis pela educação dos filhos, mas conforme as palavras de Piaget (1952, p.50), referindo-se aos direitos à Educação: “se todas as pessoas têm direito à educação, é evidente que os pais também possuem o direito de serem senão educados, ao menos informados e mesmo formados no tocante à melhor educação a ser proporcionada a seus filhos”.

CCE- Por outro lado, como a família pode atuar para se aproximar da vida escolar das crianças e jovens?

Sandra- A família na maioria das vezes precisa que a escola auxilie nesse processo, pois esta última é a instituição formal responsável pela educação, e assim é mais possível para ela dar o primeiro passo para repensar sua prática, suas concepções e a relação existente com a família. Tornando-se parceiros, compartilhando responsabilidades e favorecendo a construção de seres humanos mais respeitosos consigo e com o outro. Para isso faz-se necessário a formação dos educadores a fim de estabelecer uma parceria cooperativa.

CCE- E qual o papel do poder público para a promoção dessa aproximação entre família e escola.

Sandra- Penso que precisamos de políticas públicas que invistam em planos de convivência nas escolas e que a partir do momento que se estuda a importância de ambientes sociomorais cooperativos, de relações mais respeitosas, os quais favorecem o desenvolvimento moral para autonomia, envolvendo toda comunidade educativa, estaremos melhorando as relações no interior das escolas e as relações com os pais, pois todos são integrantes deste processo de formar seres humanos mais éticos, generosos…

Em outros países, como por exemplo, a Espanha, planos de convivência já fazem parte de políticas públicas há muito tempo, ainda estamos engatinhando, mas os problemas estão a todo vapor, como por exemplo, no caso do bullying, uma forma de violência específica e que temos visto a desinformação de educadores e pais quanto ao problema e o quanto família e escola são importantes para a superação.

Por meio do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM), temos desenvolvido formação de pais em escolas, o quanto tem se mostrado eficiente, pois os pais têm a oportunidade de repensar a educação que receberam e quais foram as consequências desta na sua formação e construção dos valores morais e o que pretendem para seus filhos. Refletem sobre a importância do estabelecimento dos limites de maneira a buscar o fortalecimento da personalidade e identidade dos filhos.

Os pais se mostram ávidos por esses conhecimentos e em melhorar a relação com seus filhos.

Saiba mais sobre o GEPEM: http://www.gepem.org/site/index.php/pagina-inicial