Ingrid Vogl

Educar ensinando valores e formando cidadãos éticos. É sobre este assunto que Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, falará na noite de 2 de outubro, segunda-feira, durante evento que compõe a agenda da 8ª Semana da Educação de Campinas (28 de setembro a 4 de outubro). A especialista ministrará palestra aberta ao público, com entrada gratuita, no Teatro Iguatemi Campinas. O tema será “Desafios de educar no mundo contemporâneo” e a convidada pretende trazer reflexões que envolvem os papéis da família e da escola no processo de educar as crianças.

“Educar tem um conceito muito amplo, mas basicamente educar é apresentar aos mais novos a vida, o mundo e inclui-los no processo civilizatório. Ou seja, torná-los capazes de compreender o contexto em que vivem e aprender a conviver com os outros, famílias, amigos, além de desenvolver relações interpessoais e saber aprender a se comportar em diferentes contextos sociais. De modo especifico para a família, além de tudo isso é preciso transmitir valores e tradições familiares, que é o que torna cada um de nós um ser com uma identidade familiar e social”, explicou Rosely.

Quanto aos papéis da família e da escola no processo de educar, a especialista frisa que é necessário que haja uma complementação de ambas as partes. “Aos pais cabe todo esse processo de socialização primária, que é ensinar a convivência básica: como se cuidar, como se comunicar, como se dirigir aos seus pares, como se comportar, respeitar os mais velhos. Isto é, tudo que diz respeito aos relacionamentos interpessoais”, explicou.

Rosely também chama a atenção para a necessidade de se transmitir valores e tradições familiares. Questões como se reunir para a refeição ou avisar onde está ou que horas volta para casa. Uma família pode valorizar muito a honestidade, outra dá valor para a competição. “A função da família, além de fazer esse processo inicial de socialização, também é o de passar valores que prioriza. O eixo educacional da família é o afeto”, avaliou.

Indissociável

A família educa e a escola instrui. O bordão popularmente utilizado é equivocado, já que educar e instruir são indissociáveis, na opinião de Rosely. “À escola cabe fazer esse processo de socialização que a gente chama de secundário, porque ensina a convivência com os outros, com quem a gente não tem relacionamento personalizado, afetivo, que são os colegas. É responsabilidade da escola também ensinar a ser aluno, que tipo de adulto os alunos devem respeitar e como, ensinar a dialogar, a respeitar as diferenças. A escola que se reduz ao papel de ensinar somente os conteúdos disciplinares pode fechar as portas, porque hoje os componentes curriculares estão disponíveis em qualquer lugar”, disse.

Com relação ao cognitivo, é papel da escola ensinar o aluno a pensar e a aprender criticamente. Para Rosely, a escola atual ainda é conteudista, mas este modelo está superado há décadas. Antes existia um modelo de escola que funcionava em qualquer país e região, para qualquer tipo de criança. Mas hoje, não há um modelo ideal.

“Cada comunidade pode construir um modelo diferente que é adaptado àquela realidade. Mas temos alguns princípios de escola ideal para nossos tempos. O primeiro é não massificar, ou seja, quando um professor fala para 20, 30 alunos ele está massificando a informação, mas dessa forma, nem todos conseguem acompanhar uma aula”, explicou.

Outra necessidade apontada pela especialista é colocar o aluno em um papel mais ativo nesse processo de aprendizagem e ensiná-lo a pensar criticamente e a como aprender algo sozinho.

Rosely também cita alguns equívocos nos papéis de educar da família e da escola. Um deles é a questão da lição de casa. “Isso não é responsabilidade da família e essa missão de acompanhar a lição não pode ser dada para os pais, já que é uma responsabilidade da escola com o aluno. A escola é a primeira batalha que os filhos devem enfrentar sozinhos”, ressaltou.

Outra crítica da especialista sobre os papéis da família e escola no processo de educar é a questão da parceria, tão valorizada atualmente entre as comunidades escolares. “Esse é um equívoco de ambos. Que parceria é essa que prioriza o interesse de cada um deles? Parceria é suspender os próprios interesses e olhar para os alunos para enxergar o que é importante para eles e não para a direção da escola, para os educadores e nem para os pais”, lembrou.

A tecnologia é outro desafio que tanto família quanto escola devem acompanhar e orientar com cautela. “Essa é uma geração que já nasceu no mundo tecnológico e já tem um raciocínio digital. O que é preciso é que as crianças sejam tuteladas e acompanhadas no uso dessa tecnologia. É preciso que a gente utilize sites, redes sociais e o google a favor deles e não contra eles. Quando uma criança fica sozinha no mundo virtual e sem maturidade para isso, é como abandoná-lo no meio da praça da Sé sozinho, porque a internet é uma grande praça da Sé, onde há tudo e todo tipo de gente, de interesse”, comparou.

A 8ª Semana da Educação de Campinas é uma iniciativa da Fundação FEAC, por meio do Compromisso Campinas pela Educação (CCE), que será realizada de 28 de setembro a 4 de outubro e tem como tema “Possíveis caminhos, soluções possíveis”. Para que se alcance um maior número de pessoas impactadas, a equipe de profissionais da FEAC está elaborando atividades que vão além de palestras, painéis e oficinas, mas que também contemplam outras formas de linguagens como arte e cultura para abordar o tema educação.