Claudia Corbett
Alimentar-se em grupo é uma tradição cultural. É um momento de convívio, de estreitar os vínculos, de compartilhar. Nas escolas, crianças, adolescentes e jovens fazem pelo menos uma refeição juntas. Mas a alimentação escolar é vista, na maioria das vezes, como uma oportunidade para os alunos que estão em situação de vulnerabilidade social e que não têm em casa os alimentos necessários que garantem desenvolvimento e saúde.
“O ato de se alimentar vai além das necessidades fisiológicas. Tem a ver com uma questão de cultura e de se sentir aceito. A convivência na hora da refeição faz com que as crianças escolham os alimentos. É um momento educativo e tão importante que é praticado em vários países”, destacou a pedagoga Leila Oliveira Costa, mestre em Educação.
Leila aponta que a forma com que as crianças comem na maioria das escolas brasileiras ainda deixa a desejar.
“Elas têm um tempo curto e isso acontece em uma mesa grande e apertada, na qual não há a possibilidade de interagir. O ideal é que fossem mesas com poucos lugares. À medida que os vínculos aumentam, naturalmente eles irão se juntando para comer. O tempo também deveria ser maior, para que pudessem não só aproveitar o que é servido, mas a companhia dos colegas”.
Cardápio
Assegurar a variedade, quantidade e qualidade do Programa de Alimentação Escolar é uma das propostas da Meta 21 do Plano Municipal de Educação de Campinas (PME), que também prevê uma alimentação diferenciada para os alunos com restrição alimentar.
Neste sentido, o Programa de Alimentação Escolar de Campinas propõe uma alimentação saudável, até com a inserção de produtos integrais e orgânicos cultivados por pequenos produtores rurais. Não há frituras, nem produtos formulados nos cardápios, nos quais é servida uma variedade de hortifrútis.
Segundo a Coordenadoria de Nutrição da Secretaria Municipal de Educação de Campinas/SP, são 20 tipos de cardápios planejados de acordo com as recomendações nutricionais para cada faixa etária, considerando o tempo que os alunos permanecem no estabelecimento de ensino. Sob responsabilidade de uma equipe de nutricionistas, o Programa ainda desenvolve projetos especiais com testes de receitas, com o intuito de introduzir novos alimentos, além de cardápios para atender crianças diabéticas e com alergias como intolerância à lactose.
“Quando se oferece uma alimentação adequada há uma colaboração para que, posteriormente as crianças saibam fazer escolhas que podem promover saúde”, salientou a especialista em Educação.
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Júlio Mesquita, de Campinas/SP, os alunos tiveram acesso ao cardápio, para que pudessem se programar e levar algo saudável para comer, caso não gostassem do que seria servido. A aproximação dos alunos também fez com que a equipe da cozinha começasse a prestar mais atenção na jornada das aulas e adaptar refeições mais nutritivas nos dias em que os estudantes saíam da escola mais tarde. Estas atitudes contribuíram também para a diminuição do desperdício de alimentos.
Descarte
“O descarte da comida acontece porque as crianças e adolescentes não foram ensinadas a comer adequadamente quando pequenas, por isso estão perdendo os hábitos culturais da alimentação. Desde bebezinho, comem cada vez mais rápido porque são muitos para serem alimentados nas escolas de educação infantil”, analisou Leila.
A pedagoga dá exemplo de uma opção para a diminuição do descarte de alimentos nas escolas. Em alguns países, os próprios jovens preparam o alimento. Um rodízio, no qual dois alunos por dia ajudam na cozinha, dá conta da dinâmica. Uma outra sugestão é a criação de uma horta de alimentos que possam ser colhidos e também preparados pelos próprios estudantes. “São ações que dão muito certo”, constatou.
Alimentação como extensão da aprendizagem
O trabalho da alimentação também serve para uma conscientização. “Quando a criança é alimentada devagar e toma conhecimento da importância dos alimentos que está ingerindo, há uma possibilidade dela fazer boas escolhas”, comentou.
O momento da alimentação na escola deve ser considerado como extensão da proposta pedagógica. Por isso a importância da orientação, da formação de hábitos alimentares saudáveis e refeições feitas em um ambiente que proporcione o estreitamento de vínculos e exploração dos valores culturais e sociais. “Este tema deve estar presente lado a lado com as demais disciplinas, uma vez que as escolhas do aluno irão incidir diretamente no aprendizado”, concluiu.
Saiba Mais: http://www.campinas.sp.gov.br/governo/gestao-e-controle/alimentacao-escolar.php