Com deficiência visual desde os 10 anos, o aposentado mineiro Mário Alves de Oliveira, 68, sempre teve a teimosia e a persistência como traços marcantes. E foram essas características que o levaram a se dedicar por anos ao aprimoramento do cubaritmo – um equipamento tátil para o ensino das operações aritméticas fundamentais, indispensável para as crianças cegas nas primeiras séries escolares. O último censo escolar mostrou que a rede estadual de ensino mineira conta com 33.874 matrículas de educação especial em 2.892 escolas, conforme dados da Secretaria de Educação de Minas Gerais.
Até a década de 70, o cubaritmo usado nas escolas era constituído por uma caixa de madeira retangular e quadriculada na parte de cima, onde eram fixadas as peças cúbicas móveis. Porém, como elas eram enumeradas em braile e em alto relevo, as peças tombavam com um simples toque, desfazendo todo o cálculo e dificultando o aprendizado.
Por isso, Oliveira conta que, nos últimos anos, o cubaritmo acabou sendo substituído por uma espécie de calculadora milenar japonesa, conhecida como “soroban” ou “ábaco”, que também suporta todos os tipos de operações matemáticas, mas não trouxe a solução esperada.
“O modelo é uma tábua com cinco hastes, com bolinhas que correm pra lá e pra cá. E é essa posição das contas que define o número. Trata-se de um método demasiadamente abstrato, estranho à nossa cultura e pouco acessível para os estudantes cegos, principalmente aqueles das primeiras séries”, critica. Além disso, Oliveira pondera o fato de o soroban exigir que os professores façam cursos para lidar com o equipamento, fato que não acontece com o cubaritmo.
Então, assim que o aposentado, que aprendeu matemática usando o cubaritmo, ficou sabendo do possível abandono do aparelho, ele começou a pensar em possíveis melhorias para seu resgate. “Entrei em contato com alguns professores do meu tempo, e eles contaram que buscavam recuperar o cubaritmo”, lembra.
Para que pudesse ser novamente usado, nos últimos três anos o aposentado testou e acrescentou algumas inovações significativas: aumentou o tamanho do cubo – de 9 mm de aresta para 12 mm –, e o número impresso nele passou a ser feito em baixo revelo, solucionando de vez o problema da estabilidade da fixação das peças.
Depois de conseguir que uma fábrica produzisse dois exemplares experimentais por R$ 4.500, o modelo foi testado por cerca de 15 alunos do Instituto São Rafael, em Belo Horizonte. “O Mário conseguiu resolver os problemas do modelo antigo e dar estabilidade para o novo cubaritmo ser manuseado. Para usar o soroban, as crianças têm que ter mais abstração desde o início, e isso acaba dificultando o aprendizado e também a inclusão”, afirma o professor da escola, Antônio José de Paula.
O aposentado, agora, busca empresas que tenham interesse em produzir o modelo. O cubaritmo já foi apresentado à secretária de Educação Especial do Estado de Minas, Ana Regina de Carvalho, mas, procurada pela reportagem, ela não foi encontrada, e a pasta não se posicionou.
Soroban foi adaptado aqui
Os primeiros sorobans introduzidos no Brasil vieram nas malas de imigrantes japoneses em 1908, quando o modelo ainda continha cinco contas da centenas, dezenas e unidades na parte inferior. Imigrantes que vieram após a Segunda Guerra Mundial é que trouxeram para o Brasil o soroban moderno, modelo usado até os dias atuais. Mesmo assim, ele precisou ser adaptado, pois a leveza e a mobilidade das contas nos eixos também dificultava a manipulação.