Foram 11 meses, cinco regiões, 36 oficinas, 1.152 horas, cinco encontros de compartilhamento, cerca de 350 pessoas envolvidas e muito aprendizado.  Assim aconteceu o projeto Convivência no SUAS: Formação com a Rede de Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), promovido pela Fundação FEAC, por intermédio do seu departamento de Assistência Social, em parceria com a Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social de Campinas. A iniciativa teve como objetivo formação de profissionais, na qual predominou a horizontalidade nas relações entre as equipes técnicas e os educadores sociais dos Serviços da Proteção Básica do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), além de fazer um intercâmbio de conhecimentos entre todas as regiões de Campinas.

O evento de encerramento se deu na sede da Guardinha, no último 03 de dezembro. Desta vez, foram compartilhadas experiências vivenciadas pelos educadores e técnicos da região Sul, a última a receber a formação.

“Sabemos o quanto o dia a dia torna-se corrido e em algumas vezes até mecanizado. A formação Convivência no SUAS despertou a importância de nos atentarmos aos detalhes e às necessidades dos usuários, praticando a escuta e um olhar mais aguçado. Deixando o “eu” e olhar mais com o olhar da política da Assistência para o outro, e permitir que o processo de construção seja mais efetivo”, destacou Wagner Augusto dos Santos, educador social, do Serviço de Proteção e Atendimento a Famílias e Indivíduos – PAEFI da região Sul, anfitriã do evento.

Os educadores vivenciaram muitos aspectos positivos identificados ao longo da formação. “O que mais se destacou para mim foi a horizontalidade de aprender e ensinar junto aos usuários, escutando-o e compartilhando de suas Ideias e conhecimentos, pois a partir desta esfera separamos o egocentrismo e permitimos uma construção mútua e direcionada, a partir das necessidades apresentadas”, completou.

Já para Anderson Luiz Furnardelli, educador da Guardinha, sede do evento, a troca de experiências possibilitou a avaliação das engrenagens que compõe o serviço de convivência “Quando se trabalha com informações compartilhadas não existe placa de instituições, não existe diferença, é uma união só, do jeito que é para ser o Serviço de Convivência e de Fortalecimento de Vínculos – não só de uma região ou de uma entidade, mas que todas façam parte dele”, enalteceu.

 

Encontros de formação

Desde dezembro de 2015, os encontros de formação para os serviços do SUAS foram acontecendo nas cinco regiões da cidade de Campinas. Cada qualificação foi finalizada com os chamados encontros de compartilhamento no quais todos os conteúdos, como troca de vivências e experiências das oficinas, eram divididos com profissionais das demais regiões. Em fevereiro iniciou com a região Sudoeste. No evento surgiram exemplos de práticas diferenciadas como a que envolveu pessoas idosas e adolescentes e ainda uma oficina de beleza para crianças negras que achavam que o “ser bonito” é ter cabelo liso. Durante o encontro foram oferecidas oficinas de Maracatu, Música (vivência), na qual as pessoas indicaram canções que traziam recordações e Roda de Conversa.

A Leste recebeu os convidados no mês de abril. No encontro de compartilhamento a região em questão ofertou às demais, aula circense, ecobatucada, Ouvirtude, contação de história, grafite/mosaico e essas atividades foram alinhadas ao capítulo “Convivência como Processo e Metodologia”, do Caderno de Concepções (fazer hiperlink), que se dedica a dimensionar as tecnologias e ferramentas que irão minimizar vulnerabilidades e conquistar a proteção socioassistencial.

Julho foi o mês da região Noroeste. Educadores ofereceram oficinas de Capoeira, musicalidade e luta; Cultura popular nordestina; jogos e brincadeiras; dança, figurino e suas possibilidades, todas ministradas por educadores da Região Noroeste. A oficina de Cobertura Colaborativa foi desenvolvida por representantes da região Leste. A novidade desta edição foi a Radio-Carta realizada por educadoras de um serviço de convivência e fortalecimento de vínculos da cidade de Santos, litoral do Estado de São Paulo. Esse método de produção coletiva é uma experiência que vem dando resultado positivo nas comunidades de Santos localizadas na mesma região ou até não tão próximas, mas que têm os mesmos problemas sociais.

Já no mês de outubro O evento realizado no Educandário Eurípedes, teve como anfitriões os profissionais do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos da Região Norte, que estiveram em formações durante todo o mês de setembro. A primeira atividade do encontro foi a Palestra “Vínculos de Proteção como Resultado do Trabalho no SUAS”, uma das 11 Concepções do Caderno de Concepção de Convivência e Fortalecimento de Vínculos  , ministrada por Abigail Torres Silvestre, uma das facilitadoras da formação.

A região Sul, anfitriã do último encontro compartilhado, recepcionou seus convidados incentivando-os a cantar e dançar um pot-pourri de músicas. Além disso, o local do evento foi decorado e ambientado com instalações nas quais as pessoas podiam interferir como palavras soltas, ideias, dedicatórias e até poesias, a equipe da região sul ofereceu aos participantes, oficinas como rádio carta; oralidade; passagem do processo, jogo de tabuleiro e motivação.

Encerramento

A Formação encerrou-se com um bate-papo, no qual foram evidenciados três pontos: motivação, desafios e o desfecho dos encontros, com a participação da diretora do Departamento de Operações de Assistência Social (DOAS) – da Secretaria Municipal de Cidadania, Inclusão e Assistência Social, Silvia Jeni Luiz Pereira de Brito; Lincoln Moreira, gerente do departamento de Assistência Social da Fundação FEAC e as   facilitadoras Stela da Silva Ferreira e Abigail Torres Silvestre – que contribuíram para a formulação da concepção de convivência e fortalecimento de vínculos,  cartilha que foi utilizada como material de referência e conteúdo em todas as oficinas.

Segundo Silvia, os grandes motivadores desta formação, para a Secretaria que ela representa, foram: o olhar a partir do reordenamento da rede de serviços, o reconhecimento de agentes e educadores sociais de diversas nomenclaturas e a valorização das equipes e potencialização dos territórios.

Já o gerente da Fundação FEAC, Lincoln Moreira apontou o comprometimento com a mudança e a necessidade de um avanço no trabalho da proteção básica no município de Campinas, que é a proposta da FEAC dentro do reordenamento citado pela diretora do DOAS. “Para isso temos feito capacitações, apoios técnicos e administrativos, financeiros, formações e com isso ficou explicito que os educadores mereciam um momento especial”, esclareceu.

Como uma das facilitadoras do projeto Stela elogiou a cidade de Campinas como uma grande inspiração no que se refere a política pública de assistência social. “Quanto mais a capacitação estiverem alinhadas a outras estratégias, melhor é o resultado que se consegue no conjunto”, enalteceu.

Na montagem do projeto surgiram muitos desafios que foram superados no percurso. Desde ajustar as melhores datas e horários aos dos educadores para as oficinas formativas. Outro ponto relevante foi o processo de formação para uma rede tão grande e a produção de encontros conjuntos. Destacou-se também o processo de fortalecimento e o de fomentar a articulação entre as instituições.

“Os técnicos têm que saber como são feitas as oficinas; conhecer como é o trabalho de dentro de uma oficina e isso é o processo que fortalece a convivência. Educadores precisam conhecer a concepção que orienta esse trabalho para saber qual é a finalidade do trabalho que ele desenvolve. Nesse sentido conseguimos alargamento de repertório discutindo a finalidade deste nosso trabalho. Esse foi um desafio importante e queremos indicar como um desafio de continuidade”, frisou Abgail Torres.

Um ponto marcante para todas as regiões foi a ampliação da participação das pessoas que buscam os serviços. A experiência de escutar estes usuários para então fazer a concepção das oficinas e ações que atendam às necessidades deles efetivamente.

 “O que vai ficar, além das saudades desta convivência de um ano será a atividade promovida para as crianças, adultos, idosos e adolescentes. Quando discutimos a concepção de convivência na formulação do Governo Federal, uma das questões que queríamos quebrar é a concepção escolarizada que reproduz salas ou grupos como se fosse escola, faixa etária com faixa etária”, destacou, Stela

A representante da SMCAIS apontou a importância da formação ter sido conduzida por pessoas que tem expressão na política – pela contribuição, pelo compromisso e pela militância dentro do Sistema Único de Assistência Social. “Falam daquilo que conhecem, do que vivenciam e do que já experimentaram. Isso deu qualidade ao processo de formação”, concluiu. Mais uma marca apontada nesta formação foi a conectividade. “Todos saíram deste processo com o conhecimento de quem desenvolve e como são desenvolvidos os serviços em cada uma das regiões”, esclareceu, Silvia.

Segundo Lincoln Moreira, a integração da FEAC com a Secretaria de Assistência e com a equipe formadora teve um objetivo inicial e um processo alinhado. “Entendemos que esse é o papel de uma entidade de assessoramento, no caso de Campinas a Fundação FEAC, por isso estamos bem próximos deste processo.  Temos o conjunto de demandas e a necessidade para trabalharmos essa formação foi para nós a comprovação de que estamos no caminho certo”, concluiu o gerente do departamento de Assistência Social ao dizer que nos planos para 2017 estão destacados conjuntos de atividades para os territórios que envolvem ações decorrentes a esse processo de formação.