(Por Claudia Corbett)
A gravidez não foi planejada. No início da gestação, Liza Jesus, de 20 anos, tinha muito medo do parto, não sabia o que aconteceria com o seu corpo e estava em crise entre o ser mãe e querer sair com as amigas.
Hoje, o olhar de cumplicidade entre Liza e Leandro Miguel denotam a sintonia de mãe e filho. O pequeno tem apenas dois meses, mas o envolvimento dos dois começou logo que a mãe resolveu buscar apoio no Centro Espirita Allan Kardec, instituição parceira da FEAC, e fazer o curso dedicado a gestantes realizado na unidade do Educandário Eurípedes.
Nele, a garota aprendeu os cuidados básicos com o bebê e sobre o parto e também quais são as responsabilidades que envolvem ter um filho. “Quando ele nasceu eu me emocionei, olhei para o meu filho e falei: eu sou a sua mãe. O parto foi uma cesariana de urgência. Eu trouxe para aquele momento muitas coisas que aprendi, uma delas, a de manter a calma nas horas mais difíceis”, relatou Liza.
A iniciativa que acontece semestralmente, na instituição, tem como proposta reunir não somente as informações do tradicional pré-natal, mas valorizar a mãe de uma maneira mais humana com um enfoque psicológico para o enfrentamento da vida depois do nascimento do filho e, especialmente, prepará-la para a importância do vínculo mãe-bebê. Os temas são ministrados por voluntários, profissionais de diversas áreas de competência. “Somos exigentes com a qualificação destes profissionais porque entendemos que precisam dominar o assunto para poderem sanar as dúvidas que por ventura possam surgir”, explicou a dentista Iara Gardenã que coordena o curso, voluntariamente, desde o seu início, em 1997.
Além do exemplo de Liza, outros são vivenciados. “Tivemos uma experiência emblemática com uma adolescente, trazida pela mãe, que não aceitava a gravidez. Depois de quatro encontros ela foi percebendo que não estava sozinha nesta situação e conseguiu colocar a mão na barriga para sentir o filho”, relatou Iara.
“Para que a troca afetiva aconteça, a mãe necessita estar preparada para estabelecer o vínculo, o que só será possível a partir de uma boa vivência de suas experiências relacionadas à gestação. O parto, por sua vez, representa um momento importantíssimo, repercutindo profundamente em aspectos físico, emocional e social. Da mesma forma, os três primeiros meses após o parto, período conhecido como puerpério, será essencial para a formação e o fortalecimento do vínculo, contribuindo assim para o desenvolvimento global da criança”, complementou Adriana Nunes da Silva, assessora técnica do Programa Primeira Infância em Foco, do Departamento de Educação da Fundação FEAC.
“Como trabalhei em um hospital especializado na mulher, o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), pude contribuir para a criação deste curso e apontar os temas importantes como aleitamento, doenças sexualmente transmissíveis (DST), métodos anticoncepcionais”, esclareceu Janice Veiga, enfermeira de formação e uma das fundadoras voluntárias do curso do CEAK que há duas décadas atende mulheres grávidas de todas as idades – preferencialmente da região Norte de Campinas – que são encaminhadas tanto pelos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), como CAISM, uma das unidades hospitalares pertencentes à Faculdade de Ciências Médicas da Universidades Estadual de Campinas (Unicamp).
Para a supervisora do Departamento de Assistência Social da FEAC, Ana Lídia Manzoni Puccini, é importante que haja espaços para discussão dessa temática nas organizações de assistência social, assim como o CEAK, pois um dos principais objetivos dos serviços desenvolvidos é a convivência familiar para o fortalecimento de vínculos entre todos os membros da família. “Esta ação proporciona essa oportunidade para as adolescentes e jovens, que em alguns casos devido a gravidez acabam não participando das atividades diárias do serviço”.
Gravidez na Juventude
Na Rede Articula Juventude (REAJU), que tem o apoio da Fundação FEAC por meio do programa Juventude: uma Política em Construção, e na qual um dos focos é o Estatuto da Juventude, o assunto gravidez na juventude é tratado por demanda, isto é, quando o tema é levantado pelas jovens. “Muitas vezes essa discussão é focada somente na mulher jovem, responsabilizando-a sobre a gravidez porque não utilizou preservativo ou tomou anticoncepcional. E nesse sentido a conversa é sempre pertinente para quebrar alguns tabus a respeito deste assunto”, destacou Lucilene Gomes, assessora técnica do Departamento de Assistência Social da FEAC, responsável pelo programa voltado aos jovens.
O Estatuto da Juventude reconhece que a gravidez planejada ou não gera um impacto na vida das jovens e prevê um olhar médico, psicológico, social e econômico para minimizar as transformações ocorridas.
O Curso
O Curso de Gestante do Educandário Eurípedes é composto por 12 encontros com uma programação que aborda as alterações fisiológicas e anatômicas da gravidez; os direitos e deveres das gestantes e dos bebês e auxílio maternidade; reflexão sobre amor na educação; planejamento familiar e métodos contraceptivos; os primeiros cuidados com o bebê; alimentação da gestante e do bebê. Inclui ainda temáticas importantes para a futura mãe como educação financeira; violência doméstica e familiar. “Incluímos recentemente também a Arte Terapia, um trabalho que ensina a fazer um porta-retrato no qual é inserido uma foto da grávida e também objetos para o quarto do bebê. Percebemos que com essa atividade as gestantes ficaram mais envolvidas com o momento que estão vivendo”, contou Iara Gardenã.
Segundo a assistente social da unidade Educandário Eurípedes do CEAK, Yara Ferreira, todas as gestantes que participam deste curso são referenciadas pelos CRAS dos bairros onde moram. “Elas precisam estar dentro do cadastro municipal da assistência para identificarmos se têm necessidade de benefícios como Nutrir, Bolsa Família, entre outras demandas, da Política Nacional de Assistência Social.
Todas as mães recebem um enxoval completo composto por fraudas e roupinhas que atendem às necessidades dos bebês nos primeiros meses de vida, confeccionadas e doadas por voluntários. Mas o amparo às mulheres não se finda quando o bebê nasce. A entidade mantém um canal aberto para dar suporte a estas mulheres para orientação das dificuldades que possam surgir durante os primeiros meses do bebê em casa.
Informações sobre o curso: (19) 2514.8702