(Por Laura Gonçalves Sucena)
Investir num ambiente seguro e saudável, conversar, estabelecer rotinas e ainda respeitar o ritmo e o tempo das crianças para garantir o desenvolvimento infantil. Com a aplicação da abordagem Pikler, a Casa da Criança Meimei foi selecionada a participar do 1º Encontro Nacional da Rede Pikler, que ocorre nos dias 4 e 5 de agosto, no Rio de Janeiro/RJ, que tem como objetivo reunir profissionais que trabalham com a Primeira Infância.
Com o tema “O cuidado profissional com empatia na Primeira Infância”, a orientadora pedagógica da instituição, Jeanne de Camargo Rodrigues, irá apresentar a proposta de trabalho baseada nos princípios Pikler, respeitando o desenvolvimento integral e as potencialidades das crianças de 0 a 3 anos. Também realizará a apresentação de um estudo de caso do desenvolvimento de uma criança com Síndrome de Down atendida pela abordagem Pikleriana.
Para Jeanne, participar do Encontro, além de ser um reconhecimento, é uma forma de mostrar como o trabalho que está sendo desenvolvido pela Meimei deu certo. “Em 2015, a instituição iniciou um projeto em parceria com a Fundação FEAC, através do então Educação: Conquista Coletiva – hoje projeto Novo Olhar, e tivemos a oportunidade de conhecer a abordagem Pikler que baseia nosso trabalho. Foi um ano de formação para todos os profissionais, conversas com os pais, mudança de mobiliário, adequações de espaços e muita luta, mas conquistamos um resultado excelente e estamos colhendo frutos”, ressaltou.
Atualmente, a entidade recebe apoio institucional através do Programa Primeira Infância em Foco (PIF).
Envolvendo uma forma diferenciada de educar e de cuidar das crianças, a abordagem desenvolvida pela médica húngara Emmi Pikler tem como princípio a relação de confiança e interação entre o adulto e a criança, que deve acontecer durante os principais cuidados (banho, troca de fraldas, alimentação). A atenção com a organização do espaço, permitindo uma movimentação com mais liberdade desde muito cedo, também é fundamental para proporcionar maior autonomia aos pequenos.
Formação e mudanças
Por meio dos investimentos feitos pela Fundação FEAC, a instituição de educação infantil realizou uma formação com a mestre e especialista em educação de 0 a 3 anos, Leila Oliveira, que promoveu encontros teóricos e práticos com a equipe da entidade. Partindo do pressuposto que a formação continuada e permanente dos educadores era fator decisivo para o processo de transformação, foram trabalhados os temas ‘ Os cuidados com os bebês’; ‘O cérebro do bebê’, ‘Ciclos de apego’, ‘Apego seguro’, ‘Fundamentos do cuidado: olhar, tocar, falar, troca, banho, sono e alimentação’; ‘Escala de desenvolvimento’, ‘O brincar e a inteligência do bebê’ e ‘Motricidade’.
De acordo com a assessora técnica do PIF, Denilze de Barros Ricciardelli, o investimento de assessoria técnica e formações in loco aos profissionais proporcionou reflexões sobre a proposta pedagógica da Instituição. “Foi possível rever o planejamento, as práticas educativas e promover mudanças nos espaços. A participação da família nesse processo também foi e continua sendo fundamental para o desenvolvimento infantil”, admitiu.
Com a formação, veio a necessidade de se investir no educador de referência. “Hoje cada educador de referência cuida de oito crianças e sabe tudo sobre elas. As educadoras conseguem organizar o material para a brincadeira e escolher materiais adequados para cada faixa etária, aceitam as iniciativas dos pequenos, observam suas brincadeiras e, a partir disso, oferecem novas propostas. Por outro lado, as crianças também demonstram avanços e modificações de comportamento. Elas têm o vínculo com suas educadoras de referência se comunicam por meio de olhares, gestos e sons quando precisam”, relatou a diretora educacional da instituição Gibiane Aline Ferreira.
Na hora de comer e brincar
As mudanças também ocorreram na hora da alimentação e não se vê mais crianças nos famosos cadeirões. “Isso é passado na Meimei. Com a abordagem Pikler a hora de comer é mais feliz. Hoje, a alimentação é realizada com os bebês que ainda não se sentam por conta própria no colo, enquanto os maiores se alimentam em mesas e cadeiras apropriadas a suas alturas, permitindo o apoio firme dos pés no chão”, explicou a orientadora.
Para a equipe técnica da instituição, a boa qualidade dos cuidados garante que as necessidades essenciais da criança sejam satisfeitas e que ela conheça o sentimento de segurança e confiança ligados às experiências positivas nos diversos momentos da sua vida cotidiana.
Todas as experiências cotidianas de cuidados educacionais compõem o currículo, como toque, banho, trocar fraldas, descansar, dormir quando tiver vontade, calçar os sapatos, vestir a roupa, arrumar a sala, locomover-se, alimentar-se, passear, cantar, escalar, pular, escorregar, brincar, conversar, pintar, modelar, desenhar, dramatizar, escrever, pesquisar, dentre tantas outras práticas, intencionais, são planejadas e avaliadas, com a mesma importância na configuração curricular.
“O brincar também mudou. Anteriormente as brincadeiras eram dirigidas, com poucos brinquedos e todos industrializados o que não permitia às crianças explorarem os objetos. Agora, existe a exploração, o desenvolvimento da linguagem e novas descobertas. Privilegiamos os brinquedos e materiais naturais como panos, pecinhas de madeira, potes plásticos, buchas vegetais e outros”, contou Jeanne.
Reforma transformadora
Na instituição, os ambientes também receberam uma reforma e foram planejados para atender os pequenos com segurança e qualidade. Os locais são amplos, com mobiliários e objetos seguros e à altura das crianças para que elas possam se apoiar, levantar, andar, subir, descer, virar, parar e recomeçar.
“As crianças se desenvolvem pela motricidade, por isso é importante adequar o espaço, dar amplitude e deixá-las livres. Elas começam a explorar o mundo guiadas pelo instinto natural de curiosidade e interesse”, garantiu Jeanne.
Na creche, os móveis têm o tamanho das crianças. As prateleiras também ficam na altura delas para que possam buscar seus brinquedos e devolvê-los quando não mais os quiserem. Elas também dormem nas caminhas/colchões dispostos no berçário de forma agradável e convidativa à hora do sono. Até mesmo o piso é adequado para garantir aderência e a sala é espaçosa.
O ambiente organizado com mobiliários específicos contribui para que a criança amplie sua capacidade de locomoção, podendo se mover de um lugar para o outro. Além disso, há outros mobiliários que auxiliam o desenvolvimento motor dos pequenos. “Temos um mobiliário chamado de labirinto (uma espécie de túnel de madeira) que incentiva a criança a engatinhar e observar o espaço, a partir de diferentes perspectivas. Também a escaleira baixa (uma grande rampa) que colabora para a percepção do espaço”, explicou Jeanne.
O berçário também conta com a escaleira montessoriana, que é uma espécie de escada com rampa, na qual os pequenos aprendem a subir os degraus por um lado e a escorregar pelo outro.
Desenvolvimento dos pequenos
A Meimei acredita que todo o trabalho realizado está sendo fundamental para o desenvolvimento infantil. “No Encontro também iremos apresentar o caso de uma das crianças com Síndrome de Down atendida na instituição. Com a abordagem Pikler percebemos que seu desenvolvimento foi diferenciado, sempre respeitando o seu tempo. A liberdade de movimentos é fundamental para isso”, disse Jeanne.
“Acreditamos que o cuidar e o educar na primeira infância começam pela criação de um ambiente facilitador, da constituição saudável da pessoa. As crianças nascem com a sensibilidade de olhar, reconhecer e reagir às expressões faciais, gestuais e vocais daqueles que os cuidam, então, caso não haja reciprocidade, eles se fecham ao contato, o que significa um risco para o desenvolvimento saudável”, finalizou.
Primeira Infância em Foco
O Programa Primeira Infância em Foco é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe em esforços para promover o desenvolvimento da primeira infância com objetivo de assegurar que todas as crianças tenham desenvolvimento adequado à sua faixa etária.
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