Por Laura Gonçalves Sucena

Eles são interessados, engajados e querem respeito. A turma da Escola Estadual Barão Geraldo de Rezende, localizada no Distrito de Barão Geraldo, em Campinas/SP, participou da formação do projeto “Jovens Mobilizadores/as dos Direitos Sexuais e Reprodutivos” e, a partir de agora, já pode atuar como multiplicadora nas ações de educação e informação sobre temas de saúde sexual e direito reprodutivo.

Nos três dias de curso, os jovens discutiram e aprenderam sobre temas que ainda hoje são polêmicos e geram tabus em relação a saúde sexual e reprodutiva. A capacitação permite que eles atuem como mobilizadores e multipliquem o conhecimento adquirido em sua escola e em seus territórios. A ação no distrito de Barão Geraldo contou com a parceria do Núcleo Ação Social (NAS) e do Centro de Saúde Barão Geraldo.

De acordo com o consultor da Reprolatina e coordenador do projeto, Rodrigo Correia, a intenção é que os jovens atuem em seus territórios e promovam a defesa dos direitos sexuais e reprodutivos e das políticas de juventude nas áreas da saúde e educação integral em sexualidade.

Só este ano, as formações já aconteceram no território do Jardim São Marcos, com jovens da Escola Estadual Castinauta de Barros, da instituição M.A.E Maria Rosa e parceria do Centro de Saúde São Marcos. Nos bairros Vila Olímpia/San Martin, com estudantes da Escola Estadual Bernardo Caro, das instituições Semear e Seta e parceria do Centro de Saúde San Martin. A próxima etapa acontecerá no bairro Campo Belo.

Até o final de 2018 o projeto ainda irá capacitar mais 100 jovens. A expectativa é também capacitar 30 profissionais de escolas, Organizações da Sociedade Civil e Centros de Saúde parceiros do projeto. A intenção é que essas referências possam dar apoio técnico aos jovens mobilizadores, além de realizarem ações educativas de prevenção e atenção em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e jovens nos seus respectivos lugares de atuação.

Segundo Tatiane Zamai, técnica de referência da FEAC e responsável pelo projeto, discutir temas tão presentes no cotidiano é de grande importância. “Observamos que muitos aspectos ainda representam um tabu, em especial para jovens que não se sentem à vontade para fazerem questionamentos. Em muitos casos, eles não possuem abertura para dialogar com suas famílias. Quando o processo acontece entre pares ocorre uma identificação, possibilitando que jovens atuem como facilitadores e multiplicadores das ações junto a outros jovens, além de promover o desenvolvimento de seus conhecimentos, atitudes e habilidades”, ponderou.

O projeto que visa contribuir com a diminuição de vulnerabilidades de jovens, em especial da gravidez não planejada, de doenças sexualmente transmissíveis (DST/HIV-Aids), violência e bullying é fruto de parceria entre a Fundação FEAC, por meio do Programa Juventudes, e a Reprolatina.

Futuras ações

Animados e cheios de ideias, os jovens da EE Barão Geraldo de Rezende já querem colocar em prática os conhecimentos adquiridos. “Aprendi muita coisa aqui e quero passar adiante. São tantas informações, tantas coisas que nós jovens precisamos saber! Tenho certeza que vou multiplicar porque me encantei com o projeto”, falou Beatriz Terrazan, 15 anos.

A partir de agora, os jovens contam com uma série de ações prioritárias. Como primeiro passo, eles devem se reunir com a direção da escola para contar como foi a capacitação e montar um plano de atividades a serem realizadas.

A ideia é que, divididos em grupos, os adolescentes criem um Mural Informativo contendo questões sobre igualdade de direitos, sexualidade segura para homens e mulheres, direitos humanos, saúde reprodutiva, entre outras, e elaborem cartazes se identificando como referências do projeto Jovens Mobilizadores dos Direitos Sexuais e Reprodutivos.

Outra ação prevista é a Caixinha de Perguntas. Os jovens devem montar uma caixa e passar de sala em sala explicando que a mesma será colocada em um lugar de circulação para que os estudantes depositem suas dúvidas que serão posteriormente respondidas pelos jovens mobilizadores.

Os direitos sexuais e reprodutivos também serão explicados em todas as salas pelos jovens mobilizadores. E eles ainda deverão organizar, em conjunto com a direção da escola, vídeos debates para os estudantes.

Também estão previstas ações no NAS. Os jovens mobilizadores irão trabalhar conteúdos referentes ao autocuidado, prevenção e autoestima com o público atendido pela entidade. “O intuito é que as ações se multipliquem em vários espaços do território, contando com a parceria de diferentes serviços e organizações”, informou Tatiane.

 

Fazer e acontecer

O final da capacitação foi marcado pela emoção e vontade de colocar em prática os ensinamentos aprendidos. Entre abraços e declarações, os estudantes contaram que estão prontos para mobilizarem outros jovens.

“Jovem falando para jovem é outra coisa, porque a gente se entende. O curso surpreendeu minhas expectativas. Tirei muitas dúvidas, aprendi a me prevenir e outras tantas coisas. Não sabia como funcionava a camisinha feminina e foi muito bom. Não aprendemos desse jeito na escola e nem na rua ou em casa”, falou Karoline Fagundes, 16 anos.

“Falar sobre doenças sexualmente transmissíveis, métodos contraceptivos e até sobre autoestima e autoconhecimento foi muito importante. Foram dias de interação e troca e esse aprendizado vai servir para o resto das nossas vidas”, completou o estudante Raul Figueiredo, 16 anos.

Para o coordenador do projeto, a expectativa com os jovens que estão se formando este ano é grande. “Ano passado conseguimos formar jovens interessados e atuantes e, por isso, nossa expectativa aumentou. Essa turma foi muito interessada no conteúdo e isso gerou debates e discussões enriquecedoras. Queremos contribuir para a construção de uma sociedade na qual a orientação sexual e os direitos sexuais e reprodutivos sejam respeitados e precisamos contar com esses jovens”, finalizou Rodrigo.

 

Sobre o Programa Juventudes

Programa Juventudes é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe na criação de espaços de participação e aprendizado social, autogeridos por jovens, com o intuito de incentivar o protagonismo juvenil propositivo e engajado com o desenvolvimento social.

Saiba mais:

https://www.feac.org.br/juventudes/

http://www.reprolatina.org.br/