Evento da 9ª Semana da Educação levantou questões sobre a importância da educação voltada para promoção da saúde

(Por Ariany Ferraz)

Quem canta seus males espanta! E foi com clima de muito bem-estar e alto astral , que o Coral da Unicamp ‘Zíper na Boca’, que reúne alunos, docentes, funcionários e pessoas da comunidade, fez uma participação especial na abertura do evento ‘Educação e saúde: a chave para uma vida saudável’, no terceiro dia da série de atividades da 9ª Semana da Educação de Campinas. Na manhã do dia 24, o tema esteve em pauta durante mesa-redonda na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

Qual a relação que existe entre educação e saúde? Foi com essa indagação que a professora Dra. Débora de Souza Santos, enfermeira que atua na área de saúde coletiva, instigou a plateia a pensar sobre a conexão entre as duas áreas. “Promover saúde é produzir vida com qualidade. E a educação é um instrumento muito poderoso nesse sentido, porque empodera e liberta as pessoas, fazendo com que mudem sua maneira de viver, comportamentos e valores. Aí elas podem se adequar a uma vida mais saudável”, explicou Débora.

Ela propôs que a educação fosse vista numa perspectiva mais ampla, entendendo que mais do que o acesso aos serviços pontuais, uma assistência médica ou uma vacina, a saúde envolve todas as dimensões da nossa vida. “É olhar para os hábitos de saúde e também para as condições socioeconômicas, e pensar a saúde para além da ausência de doenças”, observou Débora.

E analisando o papel da universidade nesse contexto, a professora destacou um dos pilares acadêmicos que é a ‘Extensão’ como uma ferramenta para compartilhar conhecimento com a comunidade externa. “A universidade tem a responsabilidade social de contribuir para a promoção da vida por meio da educação. Onde o conhecimento é alicerçado em gerar um futuro melhor. E nela fomentamos espaços de extensão para trabalhar a articulação da educação e da saúde”, pontuou.

E foi citando Paulo Freire que ela trouxe o conceito de Educação como um instrumento de libertação, despertando aspectos fundamentais como diálogo, consciência crítica, empoderamento, solidariedade e justiça social. “Assim a universidade leva um conhecimento que faz sentido e transforma a vida das pessoas”, completou.

Para ilustrar tudo isso na prática, ela apresentou algumas experiências realizadas na universidade com sua equipe de alunos. A primeira executada no Serviço Social da Paróquia São Paulo Apóstolo (SPES) – Creche Cenáculo, com a proposta de promover a saúde da criança através de práticas educativas lúdicas. E outro projeto “Quero ser seu par: dança de salão com saúde”, realizado com pessoas do Programa Universidade na faculdade de Enfermagem, voltado para terceira idade com atividade educativas, de saúde e oficinas. “A educação é tudo! Essa iniciativa é muito interessante, é importante divulgar os projetos e ações que podemos realizar”, destacou Ana Laura Salomé, estudante de enfermagem da Unicamp, que atua nos projetos junto com a professora Débora.

Para Adriana Silva, técnica de referência do Programa Primeira Infância em Foco (PIF) da Fundação FEAC, que acompanha o SPES, foi uma excelente oportunidade essa aproximação da instituição com a academia. “A equipe técnica havia realizado uma pesquisa para saber quais temas pertinentes à primeira infância deveriam ser discutidos. Temas como desenvolvimento infantil e aquisição da linguagem foram apresentados e aprovados pelos participantes. Os encontros ou bate-papos possibilitaram a construção de vínculos entre os sujeitos sociais que habitam o universo da criança na sua primeiríssima infância. Essa experiência com a Unicamp contribuiu para a evolução dos trabalhos”, ressaltou Adriana.

“A educação é fundamental para que saibamos nossos direitos e possamos lutar por melhores condições de vida”, pontuou a professora Dra. Joana Fróes, mediadora do evento, antes de chamar ao palco o professor Dr. Marcos Tadeu Nolasco, da área de pediatria, que discorreu sobre as definições de saúde e as inter-relações com a educação.

Com a apresentação intitulada ‘Educação e saúde: chaves do florescimento humano’, ele citou as interações de educação e saúde inseridas no modelo socioecológico que são complexas, pois inúmeros fatores impactam na vida e saúde das pessoas, desde problemas ligados ao estilo de vida, os que envolvem instituições sociais, vizinhança, família, políticas públicas, entre outros.

“Para um pediatra esse é um dos temas mais importantes, o nosso grande foco de estudo e cuidado que são crianças e adolescentes, e eles estão por muito mais tempo aos cuidados da escola. É muito importante que escola e profissionais de sáude caminhem juntos para dar a eles as condições para a plena realização de suas potencialidades”, evidenciou Marcos.

O professor levou pesquisas e dados que embasaram a exposição do tema, como correlação entre mortalidade infantil e escolaridade materna, risco de morbidade e escolaridade, redução da taxa de homicídios com a manutenção de jovens na escola, entre outros.

Ainda sobre a saúde de crianças e adolescentes o pediatra abordou as doenças da modernidade, estresse, novos comportamentos digitais, estilo de vida, violência, bullying e apontou caminhos de como a escola pode trabalhar a resiliência, fomentar a nutrição saudável, atividades e espaços que propiciem melhor qualidade das atividades. Nesse sentido indicou o livro “Desafios reais do cotidiano escolar brasileiro” que propõe a reflexão dessas e outras questões. “A melhor maneira de enfrentar os desafios é unir as competências, profissionais, de saúde, de educação, gestores públicos, famílias e crianças e adolescentes”, reiterou Marcos.