Painel apresentado durante Semana da Educação abordou a importância das pesquisas para o avanço da educação
(Por Ingrid Vogl)
O desafio de garantir que dados de pesquisas mudem as práticas escolares e a importância de uma boa relação entre família e escola foram debatidos na manhã do sexto dia da 9ª Semana da Educação de Campinas.
Segundo Ernesto Martins Faria, fundador do Portal Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (IEDE), nos últimos anos, o país avançou muito em relação a produção de dados e pesquisas, mas o grande desafio é garantir que essas mesmas pesquisas e dados mudem as práticas nas escolas. “Isso demanda muita intencionalidade, tanto do pesquisador em buscar aproximação com os gestores, e também por parte dos gestores articularem ações com educadores”, afirmou.
Ernesto apresentou casos em que há muitas evidências da academia, mas existe também muita dificuldade de mudar culturalmente as práticas que se dão em sala de aula. “Por exemplo, em relação ao fluxo escolar, muitas regiões do Brasil ainda têm uma cultura forte de reprovação, e muitas evidências mostram os malefícios da reprovação”, afirmou.
Outras indicações citadas por Ernesto foram sobre altas expectativas para que as escolas acreditem no trabalho que desenvolvem e assim demonstrem para os alunos altas expectativas em relação ao aprendizado deles. “Mas por todas as dificuldades que se tem na escola, essas altas expectativas, sejam relacionadas à estrutura, organização ou outra, não são expressadas. A escola não acredita em seu poder de transformação e isso precisa mudar”, disse.
Por outro lado, Ernesto também apresentou dados que mostram escolas e redes de ensino que conseguem avanços, e citou o diagnóstico de avaliações e descritores, como a Prova Brasil, que têm impactos positivos e mostram uma evolução no ensino.
Família e escola
A partir da apresentação de Ernesto, Rafael Camelo, diretor de Avaliação e Planejamento do Plano CDE-Pesquisa, Inovação e Impacto, apresentou um estudo que está sendo concluído sobre a importância da relação família e escola e o fato de que essa relação não tem sido bem estabelecida nas escolas públicas.
Rafael deu destaque para os alunos do ensino fundamental 2 (6º ao 9º ano), em que as avaliações em larga escala mostram uma evolução mais tímida em comparação com os anos iniciais do ensino fundamental, e quando segundo ele, começam os problemas do ensino médio.
Segundo Rafael, esta etapa é muito desafiadora para prática do dia a dia da escola, porque é o momento do início da adolescência, quando geralmente começam os conflitos, há quebra de vínculos porque o professor de referência dá lugar a vários outros e muitas vezes ainda há troca de escolas. E com todo esse panorama, pais e escolas não se conversam.
“Existe uma culpabilização mútua entre escola e famílias, e na verdade existe um contexto complexo e uma falta de entendimento de como fazer e ajudar os filhos na escola. A falta de compreensão muitas vezes quebra o vínculo entre os dois lados”, avaliou Rafael, que também trouxe alguns exemplos de boas práticas das cinco regiões do país.
Para Cláudia Chebabi, líder do programa Educação da Fundação FEAC, as apresentações dos dados e pesquisas qualificaram ainda mais a programação da Semana da Educação. “Os dados educacionais levantados a partir do Censo Escolar e das avaliações oficiais de larga escala, não podem ser analisados sem considerar outros elementos fundamentais, como dados socioterritoriais, contextos familiares e culturais, entre outros, que qualificam sua interpretação. Dessa forma, ambos os palestrantes contribuíram ao compartilhar o resultado de suas pesquisas qualitativas, que são essenciais para um agir de forma mais assertiva”, afirmou.
Teoria e prática
Quem assistiu às apresentações de Ernesto e Rafael, saiu do evento interessado em saber mais sobre evidências que têm sido estudadas na educação. “Para mim foi superinteressante. Essas pesquisas deveriam ser usadas constantemente, porque é preciso saber como está a realidade da escola para que se possa melhorá-la. É preciso que a gente comece a aplicar, por meio dos gestores, como é possível trabalhar esses dados e estatísticas que estão apresentados. Acho também que faltam profissionais nas escolas para olhar e analisar esses números”, afirmou Jane Caetano, formada em pedagogia.
Para a professora Marcia Renata Dal Gallo, ouvir sobre a relação família e escola fez com que fosse despertado um sentimento de que ela está no caminho certo quanto a suas práticas pedagógicas no dia a dia de sua sala de aula com alunos do 5º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Leão Vallerie.
“A experiência da palestra foi maravilhosa, porque vivemos na prática o fato de que a família dentro da escola é essencial, e quando os pais se interessam pela aprendizagem do filho, isso inclusive influencia no comportamento do aluno na escola. A gente sempre tenta provocar esse pais chamando-os para a participação, e é muito gratificante quando o pai percebe a importância da escola que trabalha a favor do filho, porque nosso objetivo maior é o aluno, e é nele que acreditamos”, avaliou.
Semana da Educação
Com 26 atividades gratuitas entre palestras, oficinas, exposições, mesas redondas, apresentações culturais e outras, a 9ª Semana da Educação de Campinas aconteceu de 22 a 29 de setembro em vários pontos da cidade. O tema da edição 2018 do calendário de eventos foi “Conectar educação, superar desafios”, pensando nas múltiplas conexões que a educação faz com áreas como economia, saúde, segurança e cidadania, contribuindo para a transformação de uma sociedade mais inclusiva e igualitária.
A Semana da Educação é um projeto do Programa Educação da Fundação FEAC. A iniciativa pretende mobilizar a sociedade para o debate sobre os diversos temas da educação energizá-la em prol de uma educação pública cada vez melhor.
A edição 2018 da Semana da Educação tem patrocínios da Fundação Educar DPaschoal e Iguatemi Campinas.
Saiba mais sobre o Plano CDE: http://planocde.com.br/
Saiba mais sobre o Portal IEDE: http://www.portaliede.com.br/