(Por Laura Gonçalves Sucena)
Guilherme, baixa visão, e seu irmão Miqueias, com deficiência auditiva, chegaram no Instituto Dona Carminha e descobriram um ambiente inclusivo e acolhedor. Os gêmeos foram monitorados e acompanhados no Desenvolvimento Infantil (DI) e, por meio de atividades de estimulação e integração com grupo, já se desenvolvem adequadamente de acordo com a faixa etária.
Os irmãos frequentam a instituição que conta na educação infantil com 28 crianças que apresentam algum tipo de deficiência. Atendê-las e promover a inclusão é a rotina do Instituto. Lá, quem chega é bem-vindo e a equipe toda trabalha em consonância para oferecer uma educação qualificada e com um olhar atento às crianças.
A inclusão vai muito além do pensar numa educação diferenciada ou especial. O intuito é reconhecer as diferenças entre os alunos e valorizar essas características por meio de atividades que favoreçam as potencialidades de cada criança.
Segundo a diretora educacional do Instituto, Patrícia Torres, a equipe pedagógica está sempre buscando o desenvolvimento profissional por meio de estudos e capacitações “Nosso maior desafio é investir em propostas educativas que sejam capazes de incluir a todos. Ter cuidado de entender a criança, enxergá-la e saber quais são suas limitações e o que podemos fazer para ajudá-la a superar barreiras. Mas isso fazemos com todos os nossos pequenos porque a dificuldade existe para crianças com ou sem deficiência”, contou.
Para Adriana Nunes Silva, técnica de referência do projeto Novo Olhar, da Fundação FEAC, que acompanha a instituição, a infância é a fase da vida que requer maior atenção nos aspectos emocional, linguístico, físico e cognitivo e, com o desenvolvimento adequado nessa idade, a criança terá mais chances de progressão no futuro. “Todas as crianças têm direito ao seu pleno desenvolvimento e o que o Instituto Dona Carminha faz é respeitar e trabalhar com o conceito amplo do desenvolvimento que representa todas as ações voluntárias, espontâneas e aprendidas pelo indivíduo. Ou seja, uma transformação contínua, dinâmica e progressiva, considerando a aprendizagem de todas as crianças”, comentou.
Inclusão para todos
O trabalho do Instituto, que completa 42 anos neste mês de outubro, teve uma reviravolta em 2011, quando deixou de ser uma unidade de educação especial para pessoas com deficiência auditiva para se tornar uma unidade de educação infantil inclusiva.
De acordo com Patrícia, houve um estudo com a comunidade para saber qual a demanda e o resultado apontou para a necessidade de uma unidade de educação infantil. Com isso, o Instituto decidiu abrir as portas para a criançada. “Houve uma inclusão ao contrário, mas não foi fácil porque tivemos que fazer um trabalho de conscientização, pois muitos pais não queriam trazer seus filhos para cá. Mas aos poucos o cenário foi mudando e hoje somos referência para os pais. Eles sabem da importância de se trabalhar com a inclusão”, contou.
Aos poucos, a escola foi mudando e se adaptando. Os espaços que estavam preparados apenas para receber deficientes auditivos mudaram para receber a todos. A equipe foi treinada para superar seu maior desafio, aplicar propostas educativas capazes de incluir a todos, sempre com o cuidado de entender as crianças.
No dia a dia, quando uma criança nova chega, o primeiro passo é identificar qual será o trabalho a ser desenvolvido. “Se a queixa é a surdez, identificamos se tem implante coclear, se é usuário de libras e fazemos uma adaptação do nosso trabalho. O principal objetivo é que os pequenos estejam incluídos nas atividades e que sejam bem acolhidos pelos outros. E sabemos que na educação infantil isso emerge naturalmente, a aceitação é muito boa entre as crianças porque não existe o preconceito. E isso é uma oportunidade para que, no futuro, eles sejam pessoas melhores, adultos empáticos”, frisou Patrícia.
Com um verdadeiro processo de inclusão, o Instituto promove situações diárias em que os alunos possam cultivar o respeito, a cidadania, o cuidar de si e do outro, a aceitação e tantos outros valores necessários para a formação de um cidadão justo.
Para a equipe técnica do Dona Carminha, trabalhar com a inclusão não é uma opção, é lei, pois toda criança tem o direito de estar na escola. “Nós, profissionais da educação, temos que ir além e fazer o nosso máximo para acolher todos os alunos”, pontua Patrícia.
Adriana sinaliza que a escola se constitui em espaço privilegiado para o reconhecimento e a valorização da diferença e como fator de desenvolvimento integral dos seres humanos. Por isso, investir em escolas inclusivas desde a educação infantil traz vários benefícios. “Todos os alunos, terão igualdade de oportunidades para seguir na escola e manter sua trajetória para a conquista de uma vida adulta produtiva”, falou.
Dificuldades e aprendizados
Porta de entrada das crianças no mundo escolar, é na educação infantil que muitos educadores começam a perceber que uma criança pode ter uma deficiência. Nesses casos, a busca por um laudo médico é uma preocupação válida, mas não deve ser a única. E daí entra o olhar atento da equipe pedagógica.
Segundo a diretora, o laudo é importante e dá respaldo ao trabalho dos profissionais, mas não é tudo. “Sabemos que existe uma crise na saúde e muitas vezes a família não consegue esse laudo, então temos que pensar no que fazer com essas crianças independentemente do laudo. É preciso ter um olhar mais atento e se houver suspeita de alguma deficiência, temos que trazer a criança para mais perto. Só assim a educação se torna mais humana, mais afetiva”, disse Patrícia.
Porém, nem sempre o diagnóstico fechado é a resposta para tudo. Por isso, a parceria com a família também é crucial para o trabalho da entidade. “Procuramos saber: o que a família sabe para além do laudo? Esse apoio é essencial e torna a comunicação mais eficaz e transparente”, completou a diretora.
A estratégia é focar no potencial do aluno, nos espaços adequados e nas atividades que tenham significado. A educação inclusiva pressupõe o reconhecimento e a valorização das diferenças. Ou seja, cada um tem o direito de ser como é. Conhecer a criança pode ajudar os educadores a identificarem os apoios necessários para que ela participe plenamente e em igualdade de condições da vida escolar.
Célia Santana, professora do Agrupamento I e II (1,6 a 2 anos), conta que o trabalho com crianças deficientes em um espaço inclusivo é gratificante. “As crianças têm cuidado com os pequenos que apresentam alguma deficiência, mesmo nessa idade. Claro que há a curiosidade, mas as crianças se entendem, cuidam umas das outras e vivem em harmonia. Ver essa integração é maravilhoso”, falou.
Para a técnica de referência do projeto Novo Olhar, estar em um ambiente que valorize a diversidade, faz com que a relação social entre todos os participantes da escola seja evidenciada por meio da colaboração e cooperação tendo em vista a criação de uma rede de autoajuda, pois todos têm aptidões e habilidades.
Desenvolvimento Infantil
O Instituto Dona Carminha também participa do Programa Primeira Infância em Foco (PIF) da Fundação FEAC através do Projeto Novo Olhar, que visa assegurar o monitoramento do Desenvolvimento Infantil (DI) das crianças de 0 a 3 anos, para garantir que elas se desenvolvam adequadamente de acordo com a sua faixa etária.
O DI é um processo vivido pela criança desde seu nascimento até os seis anos de idade e que engloba aspectos físicos, emocionais, sociais e cognitivos. Para um bom desenvolvimento nesta fase, a criança precisa de um ambiente acolhedor, harmonioso e rico em experiências. O cuidado começa já no período pré-natal, quando é preciso ter especial atenção com a mãe e com o ambiente em que ela está inserida, e segue de forma intensiva até que a criança chegue aos seis anos de idade. Também são essenciais nesta fase o envolvimento e a participação da família, da rede social de apoio e das políticas públicas que organizam serviços para apoiar as necessidades de famílias e crianças, e para respeitar os seus direitos.
Com o projeto, há uma observação atenta às crianças. “Assim atuamos de forma individualizada, olhar atento e estabelecemos uma parceria com a família, sempre visando o desenvolvimento dos pequenos. E isso é para todos os alunos, independentemente de alguma deficiência”, explicou Patrícia.
São muitas as variáveis que afetam o desenvolvimento infantil, por isso há necessidade de atenção mais efetiva em relação ao acompanhamento e apoio constante da criança. “Monitorar o DI é ter a oportunidade de criar condições para que a criança possa receber um acompanhamento individualizado para atingir um desenvolvimento adequado. Além disso, é preciso garantir parcerias efetivas com as famílias, redes intersetoriais e interinstitucionais para fortalecer vínculos e ter melhor compreensão da fase evolutiva em que a criança se encontra, ampliando desta forma a atuação de todos”, finalizou Adriana.
Responsabilidade Social
Todo trabalho realizado vem sendo reconhecido. No mês de novembro, o Instituto receberá o prêmio Destaque Social na categoria “Responsabilidade Social 2018″ concedido pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF) Campinas.
A premiação é reconhecida pela comunidade de negócios como o “Oscar” do setor por homenagear personalidades e instituições que se destacaram em meio a suas realizações. A homenagem avalia a postura de liderança, a forma como foram contornadas situações adversas, a conquista de objetivos traçados, por meio de modernas técnicas de administração, e a colaboração da empresa ou organização da sociedade civil no setor que atua.
Primeira Infância em Foco
O Programa Primeira Infância em Foco é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe em esforços para promover o desenvolvimento da primeira infância com objetivo de assegurar que todas as crianças tenham desenvolvimento adequado à sua faixa etária.