Iniciativa da FEAC e diversos parceiros levou informação e conscientização sobre o tema a cerca de 1 mil pessoas
(Por Ingrid Vogl)
Você sabe o que é o dia 18 de maio? Conhece o disque 100? As perguntas foram repetidas inúmeras vezes durante toda a manhã de sábado, dia 18 de maio, no calçadão do Centro de Campinas. Ali, na praça Rui Barbosa, cerca de 50 voluntários abordaram aproximadamente 1 mil pessoas que passavam pela Rua 13 de Maio. O objetivo foi mobilizar a população sobre o combate da violência sexual de crianças e adolescentes e divulgar o canal de denúncias relacionado ao tema.
Os voluntários fizeram acontecer a grande mobilização que teve como objetivo chamar atenção para o dia 18 de maio, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A proposta era que além da informação, quem passasse por ali tirasse fotos com a moldura que trazia informações sobre a data e o tema e postasse em redes sociais com as hashtags relacionadas à campanha #FaçaBonitoCampinas e #disque100.
Abordada por duas voluntárias, a vendedora Janaína Nogueira aprovou a iniciativa e fez questão de divulgar sua foto apoiando a mobilização pelas redes sociais. “A população precisa de um choque de realidade, porque esse tipo de violência existe, é muito frequente, mas muitos não dão a importância devida. Fazer essa ação no Centro da cidade foi uma grande sacada, porque muita gente passa por aqui. É preciso cuidar mais uns dos outros e pensar na dor do próximo, porque hoje as pessoas não pensam nisso. E o que acontece muito nesse tipo de violência contra crianças e adolescentes é o medo da vítima, eu já passei por isso e sei como é. Existe muita ameaça e a criança fica indefesa, porque muitas vezes, o adulto não acredita e não dá a importância que o assunto merece. Onde há fumaça há fogo e sempre é bom investigar”, disse. Janaína tem razão. Hoje, mais de 76,5% dos casos de violência sexual no Brasil ocorrem contra crianças e adolescentes, segundo dados do Ministério da Saúde.
A família de Thayane Lima Escobar passou pela praça e entrou no clima da mobilização. “Essa ação é maravilhosa, ao mesmo tempo que é um absurdo ter um dia especialmente para falar dessa violência, porque todo dia é dia de denunciar e estar mobilizado sobre isso. Muitas pessoas conhecem alguém próximo que já passou por uma situação dessas, e isso é assustador, principalmente para quem tem filho. Com os meus, sempre tenho conversas e passo orientações sobre esse tipo de violência. É preciso de muito diálogo e informação”, explicou Thayane.
Para o sargento do exército Sérgio Escolar Júnior, marido de Thayane e pai do pequeno Arthur, a mobilização é essencial porque pode ser multiplicada para amigos e famílias. “Quando a gente conhece mais sobre o assunto, acaba ficando inspirado em repassar a informação”, disse.
Marcela Doni, líder do programa Cidadania Ativa da FEAC, ressaltou que a mobilização foi muito além da “mão na massa” feita pelos voluntários. “O que aconteceu na praça foi um grande mutirão de multiplicação da informação. Os voluntários vestiram a camisa e não se intimidaram para abordar todos que passavam pela 13 de Maio. Foi lindo ver o calçadão com inúmeros pontinhos roxos (voluntários e seus balões). Além dos voluntários multiplicadores, contamos voluntários que trouxeram seu talento para entreter e animar a ação”, disse.
Atrações
Além da abordagem das pessoas pelo calçadão, houve ainda diversas atrações na praça, como apresentações culturais de kung fu, hip hop e um pocket show da banda Ceano. Oficinas de pintura de rosto, distribuição de bexigas e camisetas grafitadas em estêncil com o tema da ação fizeram a alegria de adultos e crianças.
Pelo 6º ano consecutivo, a assistente social Alcione Pereira Milanez participou como voluntária da ação do dia 18 de maio. Com um sorrisão no rosto e acompanhada da sobrinha, ela abordou, informou e se engajou. “A gente sai para as ruas de forma voluntária porque acredita na causa e para dizer isso para todos. As pessoas não têm muito acesso a informações sobre esse tema, e em muitos casos, vivem situações violentas constantemente, mas por diversos motivos não tem noção de que aquilo é crime, e é isso que precisamos mudar explicando que existe canal de denúncias e caminhos possíveis”, disse.
Representando a Secretaria Municipal de Assistência Social e Segurança Alimentar, a coordenadora da Proteção Social de Média Complexidade, Maria Angélica Batista, ressaltou a importância do movimento que vem acontecendo nos últimos anos em busca de sensibilizar e mobilizar a sociedade na perspectiva do enfrentamento e combate às violências de forma geral contra criança e adolescente. “Acredito que esse é o grande caminho para a conscientização de todos: a orientação. Às vezes muita gente não sabe onde buscar informação, apoio ou como denunciar, então esse tipo de evento serve para isso, para orientar a sociedade do que é e onde procurar ajuda”, avaliou.
Para Antonio Carlos Cremasco, conselheiro tutelar da região Leste de Campinas, cada vez mais a população toma consciência de que é preciso denunciar casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. “Ações como esta devem ocorrer durante todo o ano, porque a população precisa denunciar qualquer suspeita. Dessa maneira, o Conselho Tutelar toma as providências básicas para iniciar o processo de investigação dos casos, porque todo dia é dia de combate a violências”, ressaltou.
Natália Valente, líder do Programa Enfrentamento a Violências da FEAC, observou que em Campinas, nos últimos 10 anos, foram registradas 2.549 notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes. Este dado é um levantamento da Fundação FEAC com base no SISNOV- Sistema de Notificação de Violência de Campinas. “Esse número pode ser ainda maior devido a subnotificação dos casos, que pode ocorrer devido a diversos fatores, entre eles estão a falta de informação, ausência de espaços seguros de diálogo e uma rede de proteção para crianças e adolescentes, o que torna fundamental ações de mobilização como a que realizamos”, avaliou.
Data
O dia 18 de maio foi definido como Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes após a morte da menina Araceli Cabrera Sanches, de 8 anos, que chocou o Brasil em 1973 quando foi sequestrada, drogada, espancada, estuprada e morta por membros de uma tradicional família capixaba. O crime ficou impune.
A ação realizada na praça Rui Barbosa foi uma iniciativa da Fundação FEAC, por meio dos programas Enfrentamento a Violências e Cidadania Ativa, com parceria do Transforma Campinas, Prefeitura Municipal de Campinas por meio das Secretarias Municipais de Educação, Assistência Social e Segurança Alimentar e Esporte e Lazer; do Crami; da AEDHA; do CMDCA; Reprolatina; Geração Underground e banda CEANO.
A ação na praça faz parte da Campanha de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que a FEAC realiza durante todo o mês de maio em suas redes sociais. O carro-chefe da campanha é um filme que estimula denúncias e informa sobre o tema (https://www.feac.org.br/denuncie/) .