(Por Ingrid Vogl)

Com o auditório da Fundação FEAC lotado, o Conecta Educação abriu o ciclo de encontros de 2018 na noite do dia 22 de fevereiro, com tema ligado ao desenvolvimento de crianças na educação infantil.

A temática abordada foi “O acolhimento às famílias segundo a abordagem Pickler” e contou com a presença de Leila Oliveira Costa, mestre e especialista em educação de 0 a 3 anos, e de Michelly Soares Salomão, orientadora pedagógica da unidade educacional Spes- Serviço Social da Paróquia São Paulo Apóstolo, instituição de educação infantil que atende 120 crianças de 0 a 5 anos e 11 meses e recebe apoio institucional da FEAC através do Programa Primeira Infância em Foco (PIF).

Leila ressaltou a importância das instituições de educação infantil manterem uma comunicação aberta com as famílias, o que incide diretamente no desenvolvimento da criança, segundo a abordagem Pikler. De acordo com a especialista, a chamada intervenção não direta consiste em usar estratégias de comunicação que nunca façam com que a mãe e os próprios educadores duvidem de suas capacidades em relação à criança.

“A gente acredita que se essa mãe está bem vinculada à criança, ela consegue ter uma comunicação de forma que o bebê se desenvolva mesmo com alguma deficiência ou questões comportamentais que possam trazer preocupação. Se a mãe presta atenção no bebê, ela consegue saber intuitivamente o que falta para  ele”, explicou.

A não obstrução do canal de comunicação entre família e escola também leva em conta ressaltar características e atitudes positivas das crianças, já que isso impacta positivamente no desenvolvimento cognitivo delas, porque  podem agir com mais liberdade.

Espaço brincar

Para o Conecta Educação, Leila trouxe uma proposta de abordagem Pikler que se chama Espaço Brincar, um dos mecanismos que pode ser trabalhado com as famílias e que consiste na observação das crianças enquanto elas brincam e interagem umas com as outras.

Por meio de vídeos que mostram na prática como a estratégia de comunicação funciona, Leila explicou como o Espaço Brincar acontece. É organizado um local de brincadeiras e enquanto as crianças brincam, os pais as observam e posteriormente fazem perguntas espontâneas sobre aspectos dos pequenos aos educadores.

“De acordo com a pesquisa do Instituto Pikler, foi observado que nesses espaços, os pais começam a conhecer melhor os filhos e isso faz com que a comunicação melhore, podendo ser usada como mais uma forma de aproximar a escola das famílias de uma maneira não invasiva”, explicou.

Na opinião de Leila, o Espaço Brincar pode ser utilizado nas instituições de educação infantil parceiras da FEAC, que já trabalham com a abordagem Pikler. “A FEAC, por meio do Programa Primeira Infância em Foco, já desenvolve junto às entidades o trabalho de intervenção não direta. Isso começou com o projeto Escola do Cuidar (realizado  pela AMIC Monte Cristo), quando especialistas foram convidados para discutir com os pais problemas comuns em relação às crianças. Essa roda de conversa é chamada de Irmandade no Instituto Pikler e é uma das estratégias usadas.

A especialista lembrou que a Fundação FEAC é pioneira no estado de São Paulo no desenvolvimento da abordagem com Organizações da Sociedade Civil (OSCs).

Spes

O Spes também é uma das entidades de educação infantil que com o apoio da FEAC desenvolve desde 2015 a abordagem Pikler. Para falar sobre essa experiência, Michelly, orientadora educacional do Spes também esteve no Conecta Educação e reafirmou a fala de Leila sobre a importância da comunicação com as famílias.

“É possível fazer com que a família faça parte e estimule o desenvolvimento da criança, respeitando a singularidade de ambos.  Quando a família observa a criança e tem contato com profissionais de diversas áreas que abordam as maiores dificuldades dos  pais em relação às crianças, faz com que a família entenda e se envolva no processo de desenvolvimento do bebê e assim, passa a experimentar e praticar o que é feito na escola também em casa. E esses bons resultados são posteriormente relatados pelos pais”, disse.

Segundo Michelly, uma das estratégias do Spes é convidar os pais para que relatem como é o cuidado com as crianças em casa. A partir daí, é mostrado como é o trabalho que estimula o desenvolvimento da criança na creche. “Quando o pai vê na escola do que é que os filhos são capazes, se abre um leque de competências das crianças que talvez os pais não enxergassem antes, e a partir daí a comunicação flui melhor, porque quando se aborda a família numa perspectiva de troca de conhecimento e não de enfrentamento, a resposta é sempre positiva”, concluiu.

Inspiração

As cerca de 215 pessoas presentes no Conecta Educação acompanharam atentamente as falas de Leila e Michelly e participaram tirando dúvidas e fazendo várias perguntas. Erika Sales Pereira Armani, professora de educação infantil em Valinhos/SP, aproveitou o encontro para esclarecer vários aspectos da abordagem Pikler.

“O que foi discutido aqui me ajudou a ter uma visão mais ampla. A experiência do Spes, que falou sobre a forma que eles fazem a adaptação e o acolhimento da família, ampliou minha visão sobre essa questão. Este é um tema importante, porque hoje as relações na educação estão frias por uma série de razões, e é essencial que se resgate o calor humano”, opinou.

Rosane Dallagnol, orientadora pedagógica da Associação dos Amigos da Criança (AMIC), unidade Monte Cristo, afirmou que a entidade onde atua já trabalha com vários aspectos da abordagem Pikler. “Como cheguei recentemente à AMIC, foi muito valioso ouvir a Leila e a Michelly, porque posso entender melhor essa abordagem para ajudar a equipe de educadores. A maneira como a abordagem trata a relação com a família é primordial, já que a equipe da escola já possui um olhar diário para a criança, mas ter proximidade com a família nos ajuda a entender muito melhor a criança que atendemos”, afirmou.

Segundo Claudia Chebabi, líder do programa Educação, no qual a iniciativa do Conecta Educação está inserida, o encontro tem o objetivo de trazer mensalmente ao público interessado uma temática acompanhada de uma experiência prática. “Nosso objetivo é que essas discussões e reflexões sirvam para que o público presente repense suas práticas pedagógicas para problematizar o que se pode avançar, e para se pensar em diversos caminhos a serem trilhados”, explicou.

De acordo com Claudia, a abordagem Pikler é uma entre tantas que trabalha o desenvolvimento infantil. “Outro foco do Conecta Educação é mostrar que o conhecimento científico pode ser aplicado na prática e assim, chegar até a escola”, concluiu.

O Conecta Educação é um evento gratuito e aberto ao público, com vagas preenchidas por ordem de chegada. O próximo encontro acontece no dia 29 de março e a temática ainda será definida.

Confira a apresentação do tema “O acolhimento às famílias segundo a abordagem Pickler” em www.feac.org.br/educacao