Foi uma surpresa e tanto o resultado da Pesquisa Doação Brasil, realizada pelo Instituto Gallup para o Instituto pelo Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), anunciada em junho de 2016 e que contou com apoio do PayPal. Apesar da crise que assola o País, em 2015, 77% dos brasileiros entrevistados disseram ter feito algum tipo de doação. Destes, 62% doaram bens; 52%, dinheiro; e 34%, seu tempo para algum trabalho voluntário.
Considerando somente os brasileiros que doaram dinheiro para organizações sociais em 2015, segundo o IDIS, o índice chega a 46% da população. E o melhor: não estão computados, nesse resultado, os dízimos repassados às igrejas nem as esmolas. Total doado pelos brasileiros em 2015? Cerca de R$ 13,7 bilhões, valor que corresponde a 0,23% do PIB.
Parece muito – e, de fato, é -, mas ainda estamos longe de ameaçar os líderes do The World Giving Index (da britânica Charities Aid Foundation), que mede o comportamento da população de 135 países quando o assunto é filantropia. Estamos no 90º lugar, ao lado da França. Só para situar o leitor, o México aparece na 83ª posição.
A grande questão quando falamos sobre doação e, mais do que isso, filantropia, é que não existe no Brasil uma cultura de generosidade, de devolver à sociedade parte do que se recebeu. Diferentemente dos EUA, por exemplo – que lideram o ranking do The World Giving Index, ao lado de Mianmar. Lá, a maioria dos milionários e bilionários tem uma fundação, que administra recursos voltados a benfeitorias sociais de todos os tipos.
Claro, a lei norte-americana é igualmente generosa com quem se dispõe a doar, o que faz muita diferença. Realidades sociais à parte, o brasileiro desembolsa entre R$ 240 e R$ 480 por ano em doações, segundo o Gallup; nos Estados Unidos, essa média ronda os US$ 400 (cerca de R$ 1.400), se contabilizados apenas os doadores que pagam Imposto de Renda. O último dado disponível é do National Center for Charitable Statistics, de 2014: US$ 358 bilhões – mais de 2% do PIB.
Saúde na frente. Quando o assunto é por que doar, três grandes temas sensibilizam os entrevistados, de acordo com o levantamento do Gallup: em primeiro lugar, a saúde, com 40% das respostas; temas ligados a crianças carentes ou vítimas de alguma doença ocupam a segunda colocação, com 36%; seguidas por combate à fome e à pobreza, com 29%. Uma boa notícia é que cerca de 80% dos entrevistados revelaram não se deixar levar pela emoção na hora de doar, e apenas 20% admitiram praticar a doação por impulso.
Segundo a pesquisa, o termo que tem o maior índice de avaliações positivas dos entrevistados é “solidariedade”, seguido por “caridade”. “Filantropia” não possui um potencial de associação positiva elevado (aliás, 34,7% dos entrevistados não sabem nem o que a palavra significa); e “negócio social” é um termo igualmente desconhecido do público, com baixo grau de positividade.
Outro ponto interessante: a maioria dos entrevistados pelo Gallup diz sentir vergonha de contar aos amigos que doou dinheiro, tempo ou bens a instituições de caridade ou ONGs. Creem que devem “fazer o bem sem olhar a quem”, mas também “sem dizê-lo a ninguém”. E isso demonstra o quanto ainda podemos fazer pelo Terceiro Setor no país. Pois a cultura da doação deve ser estimulada; as pessoas deveriam se orgulhar de fazer parte da solução de uma série de problemas que afligem a nossa sociedade.
Para se ter ideia do que estamos falando, voltamos ao The World Giving Index. Nos países que encabeçam o ranking mundial de filantropia, os eventos beneficentes promovidos por ONGs e/ou fundações são concorridíssimos e participar de qualquer um deles é prova definitiva de grande consciência social.
Estudos como este, do Gallup para o IDIS, são um passo importante para um futuro mais consciente quanto às doações no País. Idealmente falando, como seria bom, em um fim de semana qualquer, ter dúvidas quanto a que jantar beneficente ir! Estar, de fato, envolvido com a ideia de melhorar o Brasil a partir de uma genuína política de filantropia. É possível, sim. Mas devemos fazer a nossa parte.
. Por: Gabriela Szprinc, Head de Pequenas e Médias Empresas (SMB) e Terceiro Setor do PayPal Brasil.
Fonte: Portal Fator Brasil