Ao falar em startups, logo pensamos em uma empresa jovem e que trabalha com modelos de negócios inovadores. Além disso, startups possuem potencial de crescimento acelerado e usam a tecnologia como principal ferramenta. Por tudo isso, acabam se distanciando de empresas tradicionais, que não se mostram tão abertas a trabalhar com incertezas. E, por outro lado, abrem oportunidades de parcerias estratégicas com o terceiro setor.

No primeiro semestre de 2021, o Brasil atingiu um recorde: US$ 5,2 bilhões foram investidos em startups brasileiras, superando em 45% o total investido em 2020, segundo o relatório Inside Venture Capital, produzido pelo Distrito, um hub de inovação empresarial. Como o terceiro setor pode se beneficiar desse cenário de crescimento intensivo? E as startups também estão abertas ao impacto social?

Arthur Goerck, líder do Programa Desenvolvimento Local, da Fundação FEAC, explica que startups fazem um trabalho mais próximo ao público e estão em constante transformação, o que traz vantagens para parcerias. “O desenho dos serviços [das startups] é feito a partir dos feedbacks constantes dos usuários e clientes, então essa velocidade de transformação de processos é algo extremamente interessante para se trabalhar junto.”

Empresas que apoiam projetos sociais precisam estar dispostas a redesenhar processos, uma vez que cada população possui necessidades específicas. Nesse sentido, startups também têm vantagens. “Elas estão muito alinhadas a um cenário de mudanças, porque puxam processos inovadores”, destaca Arthur.

Propósito social

A FEAC possui uma parceria bem-sucedida com a Firgun, uma fintech – startup de tecnologia financeira – que disponibiliza microcrédito para empreendedores em situação de vulnerabilidade. A Firgun se encontra dentro da classificação de negócios de impacto, uma vez que sua missão principal é gerar impacto social ao mesmo tempo que visa retorno financeiro.  Essa missão beneficia ainda mais a aproximação com o terceiro setor.

A afinidade de propósitos resultou na parceria no projeto Tempo de Empreender, da FEAC, que capacita microempreendedores de territórios vulneráveis de Campinas. Segundo Lemuel Simis, co-fundador da Firgun, a união com organizações acontece para somar forças e gerar impactos mais eficientes. No Brasil, onde há tantos desafios sociais, essa união é bem-vinda e necessária.

“O terceiro setor tem um contato muito mais próximo com o público que queremos atender, enquanto nós temos uma solução inovadora e acessível, desenhada para pessoas de baixa renda. É uma soma: o nosso foco não é a capacitação de empreendedores, então é fundamental estar próximo às organizações que trabalham com isso. Por outro lado, a missão dessas organizações não é investir nos empreendedores, e sim a nossa”, explica Lemuel.

Startups e grandes empresas: diferentes oportunidades 

As grandes empresas também têm sido instigadas a olhar para questões sociais de modo mais estratégico. Porém, nem sempre possuem as ferramentas necessárias para, de fato, causar impacto social positivo, então se aproximam do terceiro setor, que possui essa expertise.  

A história da FEAC, por exemplo, é marcada por articulações com diversas grandes corporações de Campinas para movimentar o ecossistema social e complementar recursos. “A gente sabe que o terceiro setor tem dificuldade de financiamento, é difícil captar recursos e, ao mesmo tempo, as grandes empresas têm essa necessidade de se colocar na sociedade enquanto organizações que pensam seus impactos e estão olhando para o mundo”, analisa Arthur Goerck.

Lucas Oliveira e Cruz é gerente de inovação da Fábrica de Startups, aceleradora que desenvolve inovação para grandes empresas a partir das startups. Ele ressalta que uma vantagem das empresas tradicionais é a possibilidade de abrir várias frentes, como uma área voltada exclusivamente à responsabilidade social, devido a sua capacidade financeira. A aproximação com organizações da sociedade civil, para a execução de projetos,  torna-se viável.

Já as startups ainda estão na fase de crescimento e são bem menos estruturadas que uma grande empresa. Caso a pauta social não seja a sua missão principal – como no caso da Firgun –, olhar para essa questão pode exigir tempo e recursos que elas ainda não possuem.

Tabela comparativa: startups X grandes empresas

Por outro lado, Lucas observa que as novas gerações, que costumam estar à frente de startups, tendem a ser mais conscientes de seu papel social. ”Atualmente, os fundadores de startups já olham mais para questões socioambientais na sua vida pessoal e espelham isso nas startups. Então, a responsabilidade social acaba sendo uma premissa desde o início.” Ele destaca, por exemplo, a busca por diversidade na equipe e a preferência por fornecedores com certificações de práticas éticas e responsáveis.

Com a crescente demanda por responsabilidade social e inovação no mundo corporativo, a expectativa é que a união de setores se potencialize. Essa interação só tende a crescer, as pautas estão cada vez mais presentes e a exigência interna é cada vez maior por resultados. Grandes empresas ou startups dificilmente vão ter esses resultados sozinhas”, avalia Lucas.   

Por Laíza Castanhari