(Por Laura Gonçalves Sucena)

Pais e mães esperam ansiosos pela fala de seus filhos e a hora da primeira balbuciada todos comemoram. Mas é importante saber que o desenvolvimento da fala é um processo lento que vai se aperfeiçoando conforme o crescimento dos pequenos. Claro que muitas dúvidas surgem na cabeça dos pais e, por isso, o Instituto Dona Carminha, reuniu as famílias para uma conversa sobre o Desenvolvimento da Linguagem com a fonoaudióloga e doutora Denise Zaratini.

Durante o bate-papo, a especialista explicou que quando a criança nasce ela é inserida num ambiente estimulador. Desta forma, os significados da linguagem da criança se restringem à compreensão de um mundo que ela tem. Portanto, a interação dos adultos com os pequenos é de extrema importância. 

Assim, a linguagem deve ser construída no contexto da interação social, não simplesmente como meio de transmissão de informação. “A linguagem é uma construção social e o adulto tem um papel preponderante nesse processo”, falou a fonoaudióloga. 

“A relação do ser humano com o mundo é estabelecida por meio da linguagem. Quando a família trata de maneira significativa os balbucios da criança, conversando com ela, transmite como funciona o discurso em nossa língua e torna a criança um sujeito falante. Esse papel da família é fundamental para o desenvolvimento infantil”, pontuou Denise.

Para a diretora educacional do Instituto, Patrícia Torres, a parceria com a Fundação FEAC, por meio do programa Primeira Infância em Foco (PIF) objetiva o desenvolvimento adequado das crianças e cria a oportunidade para a realização desse tipo de encontro. “Só alcançamos isso numa parceria entre a escola e a família. Por isso trouxemos uma especialista no assunto para trazer questões técnicas de um modo que todos possam entender. É importante falar do contexto familiar, do que é vivido diariamente. O desenvolvimento da linguagem é um assunto que está presente e que traz dúvidas, por isso fizemos essa roda de aconchego”, contou. 

A família e os sons

A primeira comunicação é por meio do choro e de atos reflexos, que são importantes para a sobrevivência. “Quando o bebê escuta um barulho alto, ele se assusta e isso é um reflexo. Isso é normal e saudável. Posteriormente iniciam-se as vocalizações, que a princípio não são intencionais”, contou

Os sons são com uma brincadeira para as crianças. Daí cabe ao adulto fornecer sentido às vocalizações para que a criança passe a fazer associações, até a chegada dos 12 meses, quando irá iniciar as primeiras palavras.

Entre os 12 e os 18 meses surgem as primeiras palavras e a comunicação intencional ganha impulso significativo. Os gestos também têm significados, como o ato de dar ou mandar um beijo. Em seguida começam as frases curtas e o vocabulário vai aumentando gradativamente. “Assim as crianças começam a substituir os gestos indicativos pela fala quando querem algo do adulto”, contou.

De acordo com a especialista, a partir de um ano, quando os adultos conversam com a criança, não devem somente fazer perguntas, criando situações de pressão. Também é importante verificar o nível de linguagem que a criança entende e simplificar as frases, porém não é indicado falar palavras erradas.

Interferências

Em determinadas idades é normal a criança apresentar algum problema de pronúncia ou troca de letras na fala; quando isso ocorrer os pais devem ser orientados apenas a repetir a palavra de forma natural, fornecendo-lhe o modelo correto, sem obrigá-la a repetir o que disse. 

Outro fator que pode interferir no desenvolvimento da fala são as famosas infecções auditivas. “Sem dúvida a audição é um sentido importante para a linguagem, então qualquer alteração ou interferência auditiva pode prejudicar o processo de aprendizagem. As alterações auditivas, mesmo que mínimas, como otites, tampão de cera e presenças de corpo estranho no ouvido, muitas vezes, são silenciosas. Por isso os pais devem ficar atentos ao menor sinal dado pelas crianças”, avaliou Denise.

A especialista também alertou sobre a mastigação. Estimular a criança para o ato de mastigar é importante para a musculatura oral e facial e, consequentemente, ajuda na fala. Por isso, os pais devem introduzir alimentos sólidos na dieta da criança e não somente pastosos, para incentivar a criança a mastigar.

Chupeta e mamadeira também são itens a serem observados. “Não somos contra a criança usar a chupeta, mas ela deve ser retirada a partir dos 2 anos. A língua é um músculo curioso e essa curiosidade pela chupeta pode prejudicar a dentição e consequentemente alterar alguns sons da fala. Já a retirada da mamadeira é recomendada a partir de 1,6 ano”, contou a fonoaudióloga.

Denise enfatizou que os pais precisam estar presentes com as crianças e aproveitar o tempo para brincar, ler, ouvir música e conversar com os pequenos.  Todas essas atividades auxiliam no desenvolvimento da linguagem oral.

As famílias participantes do bate-papo aprovaram o tema e aproveitaram para tirar dúvidas. Patrícia Suffi, mãe da Laura, de 1,7 ano estava preocupada com a fala de sua filha. “Sempre escutei falar que meninas falavam mais cedo e isso não aconteceu com a minha. Como tenho outros dois meninos já estava até preocupada, mas com a conversa de hoje, foi possível perceber que eu estava muito ansiosa e que cada criança tem seu ritmo”, confessou.

Cleidiomar de Jesus Silva, mãe do Marcos, de 1 ano, aprovou o assunto abordado. “

Meu filho sofre um pouco com otite e fico receosa, mas hoje pude esclarecer várias dúvidas. Sei que ele está se desenvolvendo bem e desta forma fico mais tranquila. Foi muito bom participar e sempre que tem alguma palestra eu venho porque os assuntos são ótimos”, falou.

Para a técnica de referência do PIF, Adriana Silva, propiciar um momento de conhecimento com a presença de familiares interessados no assunto é de extrema relevância para o desenvolvimento infantil. “As primeiras experiências da criança são fundamentais e atrasos linguísticos e cognitivos podem se acumular rapidamente se não forem observados e tratados com atenção”, comentou.

“Em nosso trabalho com o monitoramento do desenvolvimento infantil, quando observamos e reconhecemos os fatores de risco que impedem o pleno desenvolvimento da criança, damos ênfase à parceria com as famílias. Todos os parceiros linguísticos da criança precisam estar envolvidos com o processo e garantir experiências significativas para o desenvolvimento de seu máximo potencial”, finalizou.

O encontro realizado pelo Instituto Dona Carminha faz parte das ações do projeto “Novo Olhar para o desenvolvimento Infantil”, do programa PIF, da Fundação FEAC.  

Primeira Infância em Foco

O Programa Primeira Infância em Foco é uma iniciativa da Fundação FEAC que investe em esforços para promover o desenvolvimento da primeira infância com objetivo de assegurar que todas as crianças tenham desenvolvimento adequado à sua faixa etária.

 

Saiba mais: www.feac.org.br/primeirainfanciaemfoco