(Por Laura Gonçalves Sucena)

Um grupo heterogêneo com um objetivo em comum. Assim são os ensaios do espetáculo Lampião e Lancelote, do projeto Arte e Cultura da Fundação FEAC, que estão agitando mais de 170 crianças, adolescentes, jovens e idosos, de oito Organizações da Sociedade Civil (OSC) de Campinas. Nas coxias do Teatro Iguatemi Campinas, os artistas se sentem em casa e aproveitam cada minuto para se apropriarem do musical. 

De acordo com a diretora do musical, Daniela Fisher, o processo de construção do espetáculo teve início já na escolha do texto a ser encenado. “A partir disso comecei a esboçar possibilidades de encenação. Em seguida visitei as instituições e interagi com os participantes para conhecer as competências de cada um. Depois vem a etapa de direção das cenas com os artistas, em ensaios coletivos e pré-agendados. Quando vamos ao teatro, ensaiamos todas as cenas já preparadas e, ao longo do ensaio avalio a estrutura da peça em geral, com as partes teatrais e as intervenções artísticas das instituições”, explicou.

A diretora afirma que as adequações são realizadas a cada ensaio e isso acontece até o ensaio geral, quando a produção é finalizada. “O processo, na verdade, é muito dinâmico e sempre está sendo revisto e avaliado, em sua dimensão artística e técnica, para qualificação do espetáculo e seus participantes”, falou Daniela. 

Mas antes de chegar ao teatro, todos os participantes são informados sobre os trâmites dos ensaios e as normas técnicas do teatro. A diretora garante que só assim todos os participantes ficam cientes de como devem se portar no espaço. “Algumas instituições já participaram do projeto e conhecem as regras e o que queremos é que todas sejam conscientes da importância do papel deles no processo como um todo”, avaliou.

Para a líder do Programa Fortalecimento de Vínculos, Sílnia Prado, o percurso até o espetáculo é o mais valioso, tanto para os artistas quanto para a equipe das instituições participantes. “É aí que há o autoconhecimento, a superação de limites individuais e como grupo, o desenvolvimento da criticidade, o contato com outros integrantes e outras experiências artísticas e, acima de tudo, a convivência. Em seu 8º ano, o projeto amplia ainda mais sua atuação com a transferência desta metodologia para a Casa de Maria de Nazaré, que tem a missão de coordenar, executar e participar do espetáculo”, comentou.

Para a coordenadora da Casa Maria de Nazaré, Nicole Pacheco, estar a frente do espetáculo é uma experiência enriquecedora e desafiadora. “Primeiro nos sentimos valorizados e gratos por termos sido os escolhidos para executar este projeto tão impar como o Arte e Cultura. Conhecer os processos, os bastidores da organização do musical, escolhas de figurinos, de cenografia e elaboração de todas as etapas tem sido extraordinário. Experiência única que tem mudado a nossa forma de compreender a construção de um espetáculo musical dessa amplitude, nos fortalecendo para aplicarmos este aprendizado internamente em nossas atividades socioeducativas”, comentou.

Interagindo e convivendo

Clécio de Souza, educador social da instituição MAE Maria Rosa acredita que a vivência dos ensaios é o ponto alto para os participantes. “Além deles mudarem de ambiente, frequentarem um local que não têm acesso normalmente, eles também convivem com pessoas de outras instituições, de outros locais da cidade e isso agrega muito. É uma experiência de desenvolvimento pessoal, de respeito, responsabilidade e fortalecimento de vínculo”, falou.

A estudante Isabela Lemes, 13 anos, que frequenta a instituição Maria Rosa, concorda com o educador. “É muito bacana quebrar a rotina e vir ao teatro. Estamos fazendo uma coisa nova, aprendemos a ser mais responsáveis e profissionais e estamos comprometidos com o espetáculo, porque sabemos que vamos nos apresentar no final do ano”, comentou.

A diretora do espetáculo explica que a escolha da linguagem teatral reúne todos os participantes, com diferentes habilidades artísticas, num único espetáculo. “Isso proporciona um desenvolvimento artístico de cada um na sua própria especialidade e uma experiência em outra, já que quem dança também canta, encena teatralmente. Além disso a integração favorece o desenvolvimento humano. A troca de experiências e informações, o trabalho em equipe, faz com que um se solidarize com o outro, ou seja, qualifica seu papel de cidadão e multiplicador de ideias e opiniões, corroborando com o fato de empoderamento da pessoa, de se sentir sujeito no mundo”, refletiu. 

Para o coordenador de atividades da Associação Nazarena (ANA DIC) Gustavo Lopes Secco, participar do musical é trabalhar a autoestima e o protagonismo das crianças e adolescentes. “Percebemos como esse trabalho desenvolve o potencial que eles possuem e muitas vezes nem sabem de suas capacidades. Além disso percebemos a alegria na convivência e em conseguir fazer cada vez mais. Eles estão comprometidos”, avaliou.

O professor de dança do Centro Social Romilia Maria, Rafael Cardoso, conta que este é o primeiro ano da instituição no projeto Arte e Cultura. “Resolvemos nos inscrever porque queríamos interagir com outras organizações e também experimentar algo maior. Essa experiência está sendo muito rica para as nossas crianças e adolescentes, porque eles estão lidando com novas situações, estão olhando o outro com empatia e se socializando”, comentou.

Comemorando as conquistas

Com cenas que envolvem diversos tipos de dança com coral e teatro, dentre outras manifestações artísticas, o musical Lampião e Lancelote é sucesso entre os participantes. O casal de idosos do Projeto Gente Nova (Progen) Maximina, 75, e Roque Domingues, 84 anos, estão prontos para comemorar no palco os 59 anos de casados. 

“Fazer parte desse espetáculo só nos traz benefícios. Não adianta nada ficar sentada em casa esperando o tempo passar. Nós gostamos de interagir com essa moçada, fazer coisas diferentes e participar de tudo. Aqui já somos conhecidos das crianças de outras instituições e isso é uma delícia. Somos uma família e a apresentação no final do ano é a realização do nosso trabalho, é um sonho”, contou dona Maximina.

Para a pequena Vitória Faria, 12 anos, da ANA, participar do espetáculo é uma inspiração. “Eu sempre soube que queria ser uma artista e poder estar nos palcos, aprender, ser dirigida e apresentar meu trabalho é sensacional. Fico muito feliz de participar e ter novos desafios”, garantiu.

Pela primeira vez no Arte e Cultura, as amigas Rafaela Marcelino, 11, e Samanta Ventura, 10 anos, contam que estão ensaiando muito. “Quando vimos esse tanto de gente ficamos com vergonha, mas agora já estamos acostumadas. Vai dar um frio na barriga no dia da apresentação, mas estamos nos preparando e sabemos que vamos conseguir”, finalizaram.

Arte e Cultura

O musical multiartístico, intergeracional e inclusivo que visa propiciar a convivência e o aprendizado dos usuários de oito OSCs irá acontecer nas noites de 04 e 11 de novembro no Teatro Iguatemi Campinas.

O Arte e Cultura é um dos projetos do portfólio do Programa Fortalecimento de Vínculos, uma iniciativa da Fundação FEAC que investe na qualificação de ações integradas de cultura, esporte e cidadania com o objetivo de prevenir o agravamento da vulnerabilidade social e reforçar vínculos familiares e sociais protetivos.

 

Saiba mais: https://www.feac.org.br/fortalecimentodevinculos/